Festival de Cinema de Gramado: “King Kong en Asunción” é o melhor filme brasileiro e levou três Kikitos


O longa pernambucano “King Kong en Asunción”, de Camilo Cavalvante, conquistou três Kikitos, entre eles o de Melhor Filme do 48º Festival de Cinema de Gramado. Andrade Júnior, o protagonista que infelizmente não chegou a ver a obra concluída porque faleceu em maio de 2019, foi reconhecido como Melhor Ator pela brilhante atuação do matador de aluguel que depois de cometer o último assassinato na região desértica de Salar de Uyuni se esconde no interior da Bolívia e em seguida decide ir atrás da filha que nunca conheceu

48º Festival de Cinema de Gramado 2020 – Palácio dos Festivais – (Foto: Edison Vara / Agência Pressphoto)

A Cerimônia de Premiação do Festival de Cinema de Gramado, apresentada por Marla Martins e Renata Boldrini direto do Palácio dos Festivais, em Gramado, iniciou em ritmo de festa. A revelação dos vencedores e a entrega dos Kikitos sempre é uma grande celebração ao cinema brasileiro e ibero-americano. E no 48º Festival de Cinema de Gramado, separados pela distância física, mas aproximados pela tecnologia e pela vontade de integrar a primeira edição multiplataforma, as equipes participaram por telão. Atentos e emocionados, ouviram e vibraram a cada revelação desta edição histórica.

O longa pernambucano “King Kong en Asunción”, de Camilo Cavalvante, conquistou três Kikitos, entre eles o de Melhor Filme do 48º Festival de Cinema de Gramado. Andrade Júnior, o protagonista que infelizmente não chegou a ver a obra concluída porque faleceu em maio de 2019, foi reconhecido como Melhor Ator pela brilhante atuação do matador de aluguel que depois de cometer o último assassinato na região desértica de Salar de Uyuni se esconde no interior da Bolívia e em seguida decide ir atrás da filha que nunca conheceu. A produção passou por três países e contou com profissionais de cinco.  “Estou muito muito surpreso. Eu acho que cinema e arte não são corrida de cavalo, que tem o melhor ou o pior. Todos os filmes que  foram apresentados tem o seu valor. Sem a arte a gente não tem sobrevive ao peso da vida. Seguimos com a vontade de construir um país e uma América Latina mais igual, mais justa e mais afetuosa… A gente está vivendo um momento surreal, de violência e de falta de tolerância do ser humano”, comenta o diretor Camilo, emocionado. O filme leva o Kikito ainda na categoria Melhor Trilha Musical, prêmio para Shaman Herrera, que divide a estatueta com Salloma Salomão, de “Todos os Mortos”.

48º Festival de Cinema de Gramado 2020 – Melhor filme – King Kong en Asunción, de Camilo Cavalcante ( Foto: Cleiton Thiele / Agência Pressphoto)

“Todos os Mortos”, o longa de Caetano Gotardo e Marco Dutra, que aborda a história do Brasil a partir da perspectiva de pessoas escravizadas, venceu nas categorias de Melhor Atriz Coadjuvante, para Alaíde Costa, e Melhor Ator Coadjuvante, para Thomás Aquino.

O consagrado cineasta Ruy Guerra levou o Kikito de melhor direção por “Aos Pedaços”. O filme levou ainda o prêmio de melhor fotografia para Pablo Baião, e melhor desenho de som, para Bernardo Uzeda. “Quero agradecer a coragem de dar uma premiação a um filme como ‘Aos Pedaços’ que foge à regras, é um filme que nem todo jurado teria coragem de premiar. À minha equipe, que me ajudou a descobrir o filme que eu queria fazer. Foi um filme em que precisei de muitos talentos, e tive esses talentos. Mas também não posso deixar de falar da escuridão em que estamos vivendo. Um governo que dizima as populações indígenas e quilombolas. Um governo racista, que promove uma avalanche de destruição. Obrigada ao Festival por abrir essa janela por onde respiramos um pouco de ar puro”, agradeceu Ruy Guerra.

48º Festival de Cinema de Gramado 2020 – Melhor direção: Ruy Guerra – Aos Pedaços (Foto: Edison Vara / Agência Pressphoto)

Ganhador de melhor fotografia, Pablo Baião comentou: “É muito bonito ver o Festival de Cinema de Gramado se renovar. Eu vi todos os filmes, os filmes concorrentes são belíssimos. Há lindas fotografias e por isso sou mais honrado por ganhar esse prêmio. Muito obrigado por fazerem esse Festival. A gente vai continuar, o cinema vai viver. Vai sobreviver a esse governo que nos vê como inimigos”, finaliza Baião.

A portuguesa Isabel Zuaa conquistou o júri e foi eleita a melhor atriz pela atuação no longa “Um Animal Amarelo”, tragicômica fábula tropical, como descreve o diretor Fernando Bragança. A história de um cineasta falido que mergulha em uma jornada pelo Brasil também é vencedora nas categorias ,elhor Direção de Arte para Dina Salem Levy, e Melhor Roteiro para Felipe Bragança. Isabel recebeu a notícia de sua casa, em Portugal. Muito emocionada, teve tempo de agradecer e manifestar a admiração pelas atrizes que disputam com ela o Kikito antes da família invadir a tela para um abraço coletivo.

48º Festival de Cinema de Gramado 2020 – Melhor Atriz: Isabel Zuaa – Um Animal Amarelo (Foto: Cleiton Thiele / Agência Pressphoto)

“Me Chama que eu Vou”, o documentário sobre a vida do cantor Sidney Magal levou o prêmio de Melhor Montagem, Kikito que vai para Eduardo Gripa.

O Prêmio Canal Brasil foi concedido para o curta Inabitável, de Luciana Souza, que recebe R$ 15 mil e o direito a exibição na programação do Canal.

48º Festival de Cinema de Gramado 2020 -TROFÉU KIKITO – Idealizado em 1967 pela artista Elisabeth Rosenfeld, ele foi criado para personificar o Deus do Bom Humor (Foto: Edison Vara / Agência Pressphoto)

Estrangeiros

“La Frontera”, de Davi Davi, é o Melhor Filme longa estrangeiro do 48º Festival de Cinema de Gramado. Assinando também o roteiro, o jovem cineasta que retrata o drama de famílias afetadas pelas crises de fronteira entre Colômbia e Venezuela levou o Kikito nas duas categorias. O longa também garantiu a estatueta de Melhor Atriz para as duas protagonistas Daylin Vega Moreno e Sheila Monterola.  “Estou contente e nervoso. Agradeço ao Festival por essa alegria. É um ponto de esperança, precisamos encontrar maneiras de que tudo isso não deixe sequelas muito profundas”, comentou o diretor David David.

O Kikito de Melhor Direção foi para “El gran viaje al país pequeño”, de Mariana Viñoles, documentário que acompanhou a trajetória de duas das cinco famílias de refugiados sírios recebidas pelo Uruguai em 2014.

Anibal Ortiz recebeu o Kikito de Melhor Ator por “Matar a un Muerto”, filme ambientado durante o período da ditadura militar no Paraguai.  A Melhor Fotografia ficou para Nicolas Trovato, por “El Silencio del Cazador”.

Gaúcho

O melhor longa-metragem gaúcho Portuñol, da diretora Thais Fernandes, fala sobre a intersecção de culturas. “Muito feliz por este reconhecimento, e quero parabenizar os colegas, agradecer a todas as pessoas que fizeram parte deste filme. Queríamos mostrar uma fronteira que muita gente não conhece, a mistura de cultura, mostrar a importância de conviver com as diferenças. É uma narrativa que fala da importância de conviver com as diferenças”, diz Thais.

Curtas

O “Barco e o Rio” é o grande vencedor na categoria de Curta-metragem Brasileiro. A produção amazonense gira em torno de duas irmãs. Vera é uma mulher religiosa que vive em um barco ao lado da irmã Josi, que frequenta os bares dos arredores. O curta  venceu em quatro categorias e levou os Kikitos para Melhor Filme, Melhor Direção para Bernardo Ale Abinader, Melhor Fotografia para Valentina Ricardo e Melhor Direção de Arte para Francisco Ricardo Lima Caetano.

O Kikito de Melhor Atriz vai para a experiente Luciana Souza, por “Inabitável”. Luciana interpreta Marilene, que procura por sua filha, uma mulher trans que está desaparecida. A atriz interpretou Isa no aclamado “Bacurau” e tem em sua trajetória papéis como dona Joana de  “Ó pai, ó”. “Inabitável” também tem o Melhor Roteiro, Kikito concedido a dupla Matheus Farias e Enock Carvalho. Daniel Veiga levaou a estatueta como Melhor Ator pela interpretação do entregador de app em “Você tem Olhos Tristes”, filme que também tem a Melhor Montagem, prêmio para Ana Júlia Travia.

Melhor Trilha  Musical  foi para Hakaima Sadamitsu e M. Takara, por “Atordoado, eu permaneço atento” e Melhor Desenho de Som para Isadora Torres e Vinicius Prado Martins, de “Receita de Caranguejo”.

Edição Multiplataforma

Desta vez, os espectadores puderam acompanhar os 51 filmes concorrentes, entre longas e curtas, pelas telas do Canal Brasil e pelo serviço de streaming do Canal.

“Uma honra para o Canal Brasil abrigar esta edição do Festival de Gramado. Uma adaptação necessária em um ano especial que tem como linda consequência a democratização do acesso. Temos a clara sensação de estar escrevendo a história e comemoramos  juntos a edição mais popular do festival. Como se convidássemos todos que acompanham a cada ano o tapete vermelho e fãs do cinema brasileiro espalhados por todo país para dentro do Palácio dos Festivais”, comenta o diretor geral Canal Brasil André Saddy.

Rafael Carniel, presidente da Gramadotur, autarquia municipal responsável pela realização do Festival de Cinema de Gramado, e que nunca considerou a possibilidade de não realizá-lo, avalia a decisão.

“Neste ano de pandemia a gente manteve o Festival de Cinema de Gramado em respeito a uma indústria que gera R$ 25 bi de faturamento, quase 2% do pib brasileiro. É um mercado que antes da pandemia crescia em média 7%, até mais do que o turismo. São aproximadamente 13 mil empresas que geram em torno de 300 mil postos de trabalho. São cerca de 100 profissões ligadas à indústria do audiovisual. Mas mais do que isso eu pergunto: qual o valor da indústria que muito além de gerar números, toca a vida das pessoas? No contexto de pandemia ela tem formado opiniões, tem tirado o mundo da ignorância, interrompido a cegueira sobre a realidade do outro. Qualificado, emocionado, aliviado a dor das pessoas”, declara.

A diretora de eventos da Gramadotur, Iara Sartori, também comemora a edição.

“Nosso Festival de Cinema cumpriu sua missão. mais uma vez deixou um legado importante para Gramado e para o audiovisual brasileiro e latino.  Nesse momento diferente e delicado para o turismo e para os eventos, acreditamos e reiteramos na vocação da cidade que se projetou pela cultura. A realização desta edição, com toda segurança e inovação, mostra o comprometimento da cidade e da Gramadotur com o público que vêm à cidade e, principalmente, com os gramadenses que recebem os visitantes e, juntos, fazem de Gramado uma grife desejada mundo afora.

48º Festival de Cinema de Gramado 2020 – Palácio dos Festivais – Cerimônia de Premiação (Foto: Cleiton Thiele / Agência Pressphoto)

Vencedores

Longa-metragem Brasileiro – LMB
Melhor Filme recebe o Kikito +  prêmio de R$ 25 mil
Demais categorias recebem o Kikito + R$ 2 mil

Melhor Filme – King Kong en Asunción
Melhor Direção – Ruy Guerra, por Aos Pedaços
Melhor Ator – Andrade Júnior, por King Kong en Asunción
Melhor Atriz – Isabél Zuaa, por Um Animal Amarelo
Melhor Roteiro –  Felipe Bragança, por Um Animal Amarelo
Melhor Fotografia – Pablo Baião, por Aos Pedaços
Melhor Montagem – Eduardo Gripa, por Me Chama Que Eu Vou
Melhor Trilha Musical – Salloma Salomão, por Todos os Mortos e Shaman Herrera, por King Kong en Asunción
Melhor Direção de Arte – Dina Salem Levy, por Um Animal Amarelo
Melhor Atriz Coadjuvante – Alaíde Costa, por Todos os Mortos
Melhor Ator Coadjuvante – Thomás Aquino, por Todos os Mortos
Melhor Desenho de Som – Bernardo Uzeda, por Aos Pedaços
Prêmio Especial do Júri: Elisa Lucinda, por Por que você não chora?
Menção Honrosa do Júri: Higor Campagnaro, por Um Animal Amarelo

Longa-metragem Estrangeiro – LME

Melhor Filme recebe o Kikito +  prêmio de R$ 12 mil
Demais categorias recebem o Kikito + R$ 1,5 mil

Melhor Filme – La Frontera
Melhor Direção – Mariana Viñoles, por El gran viage al país pequeño
Melhor Ator – Anibal Ortiz, por Matar a un Muerto
Melhor Atriz – Daylin Vega Moreno (Diana), Sheila Monterola (Chalis), por La Frontera
Melhor Roteiro – David David, por La Frontera
Melhor Fotografia – Nicolas Trovato, por El Silencio del Cazador
Prêmio Especial do Júri: El Gran Viaje al País Pequeño

Longa-metragem Gaúcho – LMG
Melhor Filme recebe o Kikito +  prêmio de R$ 5 mil

Melhor Filme – Portuñol, de Thaís Fernandes

Curta-metragem Brasileiro – CMB
Melhor Filme recebe o Kikito +  prêmio de R$ 6,5 mil
Demais categorias recebem o Kikito + R$ 1 mil

Melhor Filme – O Barco e o Rio
Melhor Direção – Bernardo Ale Abinader, por  O Barco e o Rio
Melhor Ator – Daniel Veiga, por Você tem olhos tristes
Melhor Atriz – Luciana Souza, Inabitável
Melhor Roteiro – Inabitável,  Matheus Farias e Enock Carvalho
Melhor Fotografia – O Barco e o Rio, para Valentina Ricardo
Melhor Montagem – Você tem olhos tristes, para Ana Júlia Travia
Melhor Trilha  Musical – Atordoado, eu permaneço atento, para Hakaima Sadamitsu, M. Takara
Melhor Direção de Arte – O Barco e o Rio, para Francisco Ricardo Lima Caetano
Melhor Desenho de Som – Receita de Caranguejo, Isadora Torres e Vinicius Prado Martins
Prêmio especial do júri: Preta Ferreira, por Receita de Caranguejo

Júri Popular
Curta Brasileiro: O Barco e o Rio, de Bernardo Ale Abinader
Longa Estrangeiro: El gran viaje al país pequeño, de Mariana Viñoles
Longa Brasileiro: King Kong en Asunción, de Camilo Cavalcante

Júri da Crítica
Curta Brasileiro: Inabitável

Longa Estrangeiro: El Gran Viaje al País Pequeño
Longa Brasileiro: Um animal amarelo

Conexões Gramado Film Market anuncia vencedores do Concurso Interativo

 

Em sua quarta edição, o Conexões Gramado Film Market realiza mais uma vez seu Concurso Interativo, que premia a melhor Série Brasileira e Documentário Brasileiro. Das quase 500 inscrições, cinco produtos foram selecionados para a votação, que ocorreu via internet.

A Melhor Série Brasileira é “Lupita pelo mundo”, série de animação infantil dirigida e produzida por Petit Fabrik e Druzina Content. Já o Melhor Documentário Brasileiro é Sementes: Mulheres Pretas no Poder”, dirigido por Éthel Oliveira e Julia Mariano.

Os vencedores receberão o Prêmio TECNA – PUC, no valor de 5 mil reais em serviços de infraestrutura, no centro de produção audiovisual e, também, a possibilidade de licenciamento para TV por assinatura nos canais Box Brasil e na plataforma Box Brasil Play.