Exclusivo: Johnny Massaro, ator de “Meu Pedacinho de Chão”, investe na verve poeta e lança livro


“O meu desejo é comunicar, como ator e como autor. Eu tenho desejo de escrita, tenho vontade de escrever e de ser lido”, afirma o autor de “Aqui Naufraga-se em Qualquer Poça”

* Por Junior de Paula

Johnny Massaro, o mocinho Ferdinando de Meu Pedacinho de Chão, não faz tipo, não foge do assunto e não deixa ninguém sair de perto dele sem se apaixonar. Ou pelo menos não deixa ninguém sair sem se encantar com a inteligência, delicadeza e o talento que pulsam nesse garoto de 22 anos, que trabalha desde os 13, quando estreou em Floribella, na Band, e que vem fazendo bonito com seu primeiro protagonista na TV Globo. Além de roubar as cenas na TV, ele se prepara para lançar, em julho, seu primeiro livro de poemas, Aqui Naufraga-se em Qualquer Poça, resultado de seu modo especial de observar os pequenos e os grandes detalhes do cotidiano, e não vê a hora de encarar novos desafios. Entre uma cena e outra, sob o comando enérgico e cheio de referências de Luiz Fernando Carvalho, diretor da novela das seis, Johnny conseguiu um tempinho para responder dez perguntas para a gente. Vem!

1)  Seu nome é mesmo Johnny? Conta um pouco da sua ascendência, de onde veio a ideia do nome?

– Meu nome é Johnny mesmo! (risos) O porquê eu não sei! Nem meu pai nem minha mãe falam inglês e sequer saíram do país! Quer dizer, minha mãe foi ao Paraguai uma vez! (risos). Ela diz que meu pai viu numa revista… como a grafia é exatamente igual a do Johnny Depp. Gosto de pensar que foi dali que eles tiraram! 

2) Como a arte entrou na sua vida?

– Eu comecei no teatro quando era muito novo, por volta dos 12, e fiquei completamente apaixonado. Lembro que com 12/13 anos ia sozinho de metrô aos meus cursos, porque meus pais não podiam me levar. Sempre fui responsável e independente, acho que isso ajudou a começar na profissão desde cedo, uma vez que precisei conciliar estudos com trabalho nos dois anos de Floribella e nos três de Malhação.

3) Qual a diferença do Johnny que entrou na TV em Floribella e o de hoje, em Pedacinho de Chão? O que aquele Johnny do começo falaria para o de hoje se tivesse essa oportunidade?

– Acho que o Johnny do começo não falaria nada para o de agora, mas o de agora falaria muitas coisas pro Johnny de Floribella.

4) Você está lançando um livro de poesia, certo? Existe alguma linha que as une? Um tema recorrente? Quanto tempo durou o processo de escrita? Fala um pouquinho sobre você poeta…

– Sim, o livro se chama Aqui naufraga-se em qualquer poça e sai em julho. Acho que estou muito próximo das coisas que escrevo para conseguir identificar um tema recorrente. Acho que é impossível fugir da gente mesmo. Querendo ou não, tudo passa pelo ponto de vista de quem concebe. Depois pelo ponto de vista de quem recebe. Acho que esse é o jogo. E o que vai definir se a coisa é boa ou não é o grau de comunicação estabelecido entre esses dois extremos. O meu desejo é comunicar, como ator e como autor. Eu tenho desejo de escrita, tenho vontade de escrever e de ser lido. Resta saber se alguém terá vontade de me ler. Espero que sim.

5) Era uma vontade sua trabalhar com o LFC, certo? O processo te surpreendeu – para o bem ou para o mal – em algum sentido? Como foi – e tem sido – a experiência?

– Acho que qualquer ator tem vontade de trabalhar com o Luiz Fernando. O histórico dele em TV é impressionante e Lavoura Arcaica é um dos melhores filmes nacionais, sem a menor sombra de dúvida. O Luiz é autor, ele escreve com seu olhar e nos faz embarcar nele. O processo me surpreendeu para o bem. “Meu Pedacinho…” é meu sexto trabalho em TV e nunca imaginei que novela pudesse ser feita de uma maneira tão “artesanal”. Eu me emociono fazendo e vendo a novela. Não sei se é porque vejo de dentro, mas para mim está na cara que a novela é feita com muito amor.

6) O Ferdinando representa uma espécie de libertação para você, no sentido de que ele é mais maduro, tem mais conflitos, e deixa para trás os personagens mais adolescentes, certo (ou errado)? De que forma você sai dessa experiência. Consegue já fazer um retrospecto do antes e depois do Ferdinando?

– Bom, “analisando” meu histórico em TV acredito que sim, ele é uma espécie de “ruptura”. É muito fácil ficar estigmatizado e isso não é novo, acontece desde o começo do cinema, por exemplo. Tem a ver com o fato de facilitar o reconhecimento e identificação do público com uma personalidade: esse é o mocinho, esse é o vilão e esse é o engraçado. Apesar de ser o caminho mais fácil, é tudo que um ator não quer. Felizmente, agora tenho a oportunidade de mostrar que posso fazer outras coisas.

7) Você é um ator que gosta e não tem medo do teatro. Qual a sua relação com o palco e de que forma ele o deixa mais preparado para ser um ator (e uma pessoa) melhor? Existe ator sem teatro?

– Eu tenho medo sim! Tenho medo de teatro, de cinema, de TV, mas tento usar isso ao meu favor. O medo ou te impede ou te impulsiona. Tento fazer com que ele seja a segunda opção. Eu tenho preguiça dessa visão “romântica” de ser ator. Para mim, um ator não é mais especial do que qualquer outra pessoa, a diferença é que nosso material de trabalho é a gente mesmo e que, em maior ou menor grau, estamos expostos ao púbico. Eu não faço questão de ser famoso e confesso que acho muito estranho embora saiba que isso faz parte do meu trabalho. Toda vez que alguém pede para tirar foto comigo, penso “Meu deus! Para que? Eu sou só eu…”. Eu sou ator porque preciso ser ator, assim como fulano é médico, porque precisa ser médico, assim como você é jornalista, porque precisa ser e etc. Sobre teatro, acredito que se eu não tivesse feito o Romeu de R&J de Shakespeare – Juventude Interrompida (de João Fonseca) e o Robin de O Tempo e os Conways (de Vera Fajardo) ano passado, não teria estofo para fazer o Ferdinando agora. Me utilizando da sua pergunta anterior, acho que foi o teatro que me “libertou”, que possibilitou a chegada desse personagem. E sim, existe ator sem teatro, o que não existe é teatro sem ator.

8) O que você está lendo, ouvindo e vendo? Não vale dizer que está sem tempo, que a gente acredita, mas não vamos aceitar.

– Eu tô com uma mania muito feia de começar livros e de não terminar… devo estar “lendo” uns sete agora! Mas os que estão na minha mochila são 1984, do George Orwell, e Compêndio para uso dos pássaros, do Manoel de Barros. Tenho ouvido muito DeVotchka, Beitut, Dylan, Buika, Jamie Cullum e Caetano, sempre Caetano. Para escrever costumo usar o silêncio ou Philip Glass. Não consigo ver filmes, porque tem sido difícil parar duas horas pra isso. Então vou para as séries, mas no momento só tô assistindo Game Of Thrones.

9) Quais as três primeiras coisas que você vai fazer quando a novela acabar?

– Chorar, cortar o cabelo e viajar.

10) Que pergunta você gostaria de responder que nunca te perguntaram?

– Prefiro contar com a criatividade dos jornalistas.

Este slideshow necessita de JavaScript.

 

* Junior de Paula é jornalista, trabalhou com alguns dos maiores nomes do jornalismo de moda e cultura do Brasil, como Joyce Pascowitch e Erika Palomino, e foi editor da coluna de Heloisa Tolipan, no Jornal do Brasil. Apaixonado por viagens, é dono do site Viajante Aleatório, e, mais recentemente, vem se dedicando à dramaturgia teatral e à literatura.