“Estou procurando não surtar”, diz Mariana Gallindo sobre quarentena para prevenir contaminação por coronavírus


De quarentena na casa dos sogros, no Rio, a atriz e bailarina usa a internet para dar aulas de dança a um grupo de mulheres com idades a partir dos 50 anos, incluindo a avó dela, de 82, chamado de SEXagenárias. “Sinto que elas estão perdendo o medo do próprio corpo”, conta

*Por Simone Gondim

Moradora de São Paulo, a atriz e bailarina Mariana Gallindo estava no Rio por causa das gravações da novela “Gênesis”, da Record, que será sua estreia na TV, e foi pega de surpresa pela pandemia de coronavírus. Ela acabou de quarentena, junto com o marido, na casa dos sogros. “É muito louco. Normalmente, trabalho bastante de casa, mas parece que é só falar para não sair que já começa a dar comichão”, diz ela. “Estou pesquisando, aproveitando para ler, fazendo exercício em casa e procurando não surtar, porque os planos profissionais estão todos adiados, por enquanto”, acrescenta.

Além de focar em leituras e estudo, Mariana usa a internet para continuar dando aulas de dança a um grupo de mulheres da terceira idade, moradoras da capital paulista, que ela batizou de SEXagenárias. Toda segunda, quarta e sexta, a turma acompanha a live da professora no Facebook e ensaia coreografias sensuais. “O projeto começou presencial, em 2019, e virou virtual por causa da quarentena”, explica ela. “Tudo nasceu de uma apresentação de dança no aniversário de 60 anos da minha mãe. Brincava que ela estava ficando sexy, sexagenária, e daí veio o nome do grupo, formado por mulheres a partir dos 50 e poucos anos. Tem minha mãe, as amigas dela e minha avó de 82 anos”, completa. “Sinto que elas estão perdendo o medo do próprio corpo”, finaliza.

(Foto: Karen Gadret)

Explorar a sensualidade das alunas por meio da dança sempre foi o objetivo de Mariana, que fica feliz ao ver as integrantes da turma, antes sedentárias, fazendo uma atividade física que lhes dá prazer. “Essa geração é muito tolhida em relação à sensualidade. As mulheres que estão na aula, em sua maioria, são separadas ou viúvas: muito fortes, mas têm essa parte da sensualidade esquecida”, conta a atriz e bailarina. “As coreografias trazem potência para essas mulheres e promovem o resgate da vaidade. Elas se sentem poderosas”, afirma.

Embora ela esteja respeitando a quarentena e fique atenta para que a mãe, a avó e os sogros não saiam de casa, uma pessoa da família é motivo de preocupação. O pai de Mariana é médico e vai ao hospital todos os dias para trabalhar. “Estou apavorada, mas rezo muito pedindo o bom senso das pessoas para que não saiam contaminando umas as outras”, confessa. “Também penso muito nas minhas sexies, porque muitas delas são sozinhas. Fico com medo por elas. Esse é um dos motivos de eu fazer as lives com as aulas. Minha preocupação é que elas surtem com esse tanto de informação ruim que recebem por WhatsApp. Tem que cuidar muito da cabeça nesse momento”, pondera.

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Formada em balé clássico pela Royal Academy of Dancing, de Londres, Mariana tem 31 anos, sendo 14 deles dedicados à carreira artística. No currículo, mais de 20 musicais, como “Hair”, “Pippin” e “Chacrinha”. Ela também foi stand-in de de Claudia Raia no espetáculo “Cantando na chuva” e de Ingrid Guimarães em “Annie”. “Fiz dança desde os 2 anos. Mais tarde, no colégio, participei de uma peça em que chamei a atenção de todo mundo. Eu era o Quico, da turma do Chaves. Aí, fui para o teatro”, recorda. “Teatro musical é a minha vida. Já acordo cantando”, derrete-se ela.

Forçada a segurar a ansiedade para a estreia na TV – as gravações da novela “Gênesis” foram interrompidas como medida de segurança, por causa do coronavírus -, a atriz e bailarina adianta um pouco da sua personagem na trama. “A Zade é mãe da Liba e uma mulher que tira a força das pequenas coisas. Tem uma cumplicidade grande com o marido, Elisá, e é como várias mulheres brasileiras, que seguram a onda, analisam os riscos e têm os pés no chão”, descreve. “Estou muito agradecida a Deus por conseguir concretizar o projeto de conseguir ampliar meu campo artístico. Eu me sinto muito acolhida na Record”, festeja. “De 2018 para cá, optei por não fazer algumas peças, porque desejava investir no audiovisual. Fiz muitos testes”, lembra.

(Foto: Karen Gadret)

A migração do teatro para a TV está sendo feita com bastante cuidado. São muitas conversas com a preparadora de elenco Suzana Abranches. “Digo que parece que não estou fazendo nada e ela me fala para buscar essa mãe aqui dentro”, conta Mariana. “Sou espalhafatosa por natureza, então no musical nem penso em fazer grande, porque já sai. Na TV, lembro que é mais perto do público, mas não me preocupo muito com a forma”, garante. “Não tenho filhos, mas sou muito maternal e tenho um sobrinho que é o amor da minha vida. Uso esse sentimento para buscar a maternidade da Zade”, revela.