“Ensaiar para o filme sobre o Magal é um respiro no meio dessa pandemia”, diz Giovana Cordeiro


Atriz se prepara para viver Magali, mulher de Sidney Magal, na cinebiografia do cantor, “Meu sangue ferve por você”. “São três meses fazendo tudo por videoconferência. Já passei pelas fases de ter alguma expectativa sobre as datas de filmagem e de sentir insegurança sobre o meu processo criativo, fiquei em paz com tudo isso e precisei de um tempo para descansar a mente, entre outros altos e baixos. Voltei para a psicóloga e tem me ajudado muito, mesmo que por chamadas de vídeo”, revela

*Por Simone Gondim

A quarentena de Giovana Cordeiro está sendo intensa. Fazendo ensaios de texto, canto e dança sem sair de casa, como parte da preparação para viver Magali, mulher do cantor Sidney Magal, no longa “Meu sangue ferve por você”, ela garante que é divertido construir a personagem por meio da música. “Ensaiar para o filme sobre o Magal é um respiro no meio dessa pandemia, tem me feito descobrir outros caminhos como atriz. Sempre adiei minha vontade de estudar mais a fundo tanto o canto quanto a dança. Agora, entendi que é um desejo que preciso realizar”, diz.

Mesmo mantendo a cabeça e o corpo ocupados, Giovana admite que não é fácil encarar o isolamento social, ainda mais enquanto mergulha em um novo trabalho. “São três meses fazendo tudo por videoconferência. Já passei pelas fases de ter alguma expectativa sobre as datas de filmagem e de sentir insegurança sobre o meu processo criativo, fiquei em paz com tudo isso e precisei de um tempo para descansar a mente, entre outros altos e baixos”, revela. “Todos nós da área da cultura fomos afetados com a falta de perspectiva, de planejamento político. Mesmo tendo esse projeto para o futuro, me preocupo com o tempo que vamos levar para ver os teatros abertos, circos, movimentos independentes de rua, cinemas e sets filmando normalmente”, acrescenta.

“Ensaiar para o filme sobre o Magal tem me feito descobrir outros caminhos como atriz”, revela Giovana (Foto: Vinícius Mochizuki)

Para driblar a gangorra emocional trazida pela Covid-19, Giovana tenta identificar seus pontos fracos e fortes, a fim de permanecer alerta e não se deixar abalar muito. “Procuro não ficar tão à mercê das diferentes vibrações que a gente recebe diariamente, por conta do isolamento, da saudade das pessoas que a gente ama, de questões pessoais e do que está acontecendo no mundo, e fazer coisas que me tragam calma e prazer. Se olhar só o lado ruim, a gente pira”, argumenta. “É um momento que tem nos obrigado a conviver e olhar para nossas emoções e nossos comportamentos. Isso pode ser bem perturbador se não for consciente, mas também pode ser um momento de autoconhecimento muito importante”, acredita.

A atriz não tem vergonha de assumir que procurou ajuda durante a pandemia. “Demoraria muito para aprender a lidar com coisas que tive que aprender durante essa quarentena. Se ainda não aprendi, estou pensando sobre elas de uma forma diferente e mais intensa do que o comum. Voltei para a psicóloga e tem me ajudado muito, mesmo que por chamadas de vídeo. Entendi que era preciso, nesse confinamento, mais do que antes”, afirma. Outro fator que ajuda a manter o coração quentinho é o romance com Giuliano Laffayette. “Esse tempo de quarentena serviu para fortalecer ainda mais a convivência e amadureceu muito o nosso relacionamento”, observa.

“Voltei para a psicóloga e tem me ajudado muito”, diz Giovana (Foto: Vinícius Mochizuki)

A terapia também serve para Giovana conseguir digerir situações de abuso pelas quais passou. “De vez em quando, algumas lembranças atormentam minha autoestima e confiança. As sessões contribuem para botar isso para fora e entender que a culpa jamais foi minha”, reconhece. “O silêncio nunca é uma boa alternativa para lidar com situações de violência, assédio e injustiça, mas entendo que seja muito difícil externalizar os detalhes dessas situações, porque o sentimento de culpa é presente e o medo do julgamento de quem a gente recorre também é. Aconselho as mulheres que passam ou já passaram por isso a denunciar, além de conversar com um psicólogo”, enfatiza.

A atriz cita como exemplo a vez em que foi assediada dentro de um ônibus, indo para a faculdade. “Não tive reação nenhuma na hora, paralisei. Sempre achei que seria diferente, mas naquele momento demorei para acreditar que aquilo estava acontecendo. O choque foi tanto que não consegui nem planejar pedir ajuda ou chamar a polícia. O rapaz desceu do ônibus assim que eu percebi o que tinha acontecido. Segui tremendo até a faculdade. Chegando lá, finalmente contei para um amigo, e a resposta dele foi: ‘Também, olha a roupa que você está’“, lembra.

(Foto: Vinícius Mochizuki)

“Na hora eu soube que essa culpa não era minha, nem da minha roupa, mas tenho consciência que tantas outras mulheres acreditam nisso porque a sociedade segue responsabilizando a vítima o tempo inteiro. Então, eu preciso dizer: a culpa não é sua. A culpa nunca é da vítima. Não guardem isso para vocês! Reagir na hora pode ser efetivo, mas a gente se questiona sempre do quão seguro isso realmente será, então mesmo que não consiga reagir na hora, procure ajuda, denuncie. É muito importante a gente falar sobre isso, alertar as mulheres que nos cercam e parar de normalizar a objetificação do corpo feminino e dessa situações”, frisa.

Diante de tanta força ao trazer à tona um tema tão delicado, a conclusão é uma só: Giovana Cordeiro é uma mulher empoderada. “Assumo isso sem medo. Sempre me questiono sobre as imposições que me são feitas, sobre os padrões, tanto de beleza quanto de comportamento, família, casamento, trabalho. Ao mesmo tempo que faço isso por mim, faço isso pelas mulheres que estão à minha volta e ainda não tiveram acesso às informações e aos questionamentos que eu tive”, garante. “Só comecei a pensar sobre isso quando outras mulheres me abriram portas para essa emancipação. Além disso, permaneço aberta para escutar mulheres que entendem e passaram por experiências diferentes da minha. É importante a gente ouvir o que ainda precisa ser feito pela nossa luta e pela luta de outras”, pondera.

(Foto: Vinícius Mochizuki)

Voltando a falar de “Meu sangue ferve por você”, Giovana conta que cresceu ouvindo as músicas de Sidney Magal, mas só foi descobrir a história do cantor durante o processo do filme. “É uma pena não poder contá-la agora, porque é maravilhosa e quase inacreditável, mas não quero dar spoiler”, explica. “Durante os ensaios para o teste do longa, pedi a ajuda do meu pai para bater o texto comigo. Estava no aniversário de uma tia e logo eles começaram a contar suas lembranças despertadas pela música do Magal. É isso que a música faz”, ressalta.

Para a atriz, Sidney Magal faz parte da cultura, atravessando gerações. “Tenho memórias de suas músicas tanto quanto meus pais. E são sempre muito divertidas, em festas. Venho levando isso bastante em consideração para entender um pouco o que vai ser esse filme, a partir dessa lembrança fantástica e muito viva que o Magal plantou na memória dos brasileiros”, completa.