Em editorial exclusivo na suíte do Royal Tulip, Suzana Pires fala sobre carreira, patrocínio no teatro, inspiração e movimentos sociais: “É preciso ser radical”


Depois do sucesso de “Sol Nascente”, primeira novela como autora de Suzana, ao lado de Walther Negrão e Julio Fischer, ela comprovou que a teledramaturgia é um reflexo da vida real. “Não dá para a gente se desesperar quando os problemas aparecem. A novela é como a vida, é um dia depois do outro”

De perto ela não é normal. Mesmo. Na verdade, é plural. O título da peça xodó de Suzana Pires também poderia ser o enredo de sua vida, pessoal ou profissional. Atriz, autora, engajada e até designer, a artista 1001 qualidades é a estrela do novo editorial do site HT. Agora de férias – e super merecidas, diga-se de passagem –, Suzana Pires comemora o sucesso de “Sol Nascente”, sua primeira novela como autora, da temporada aplaudidíssima de sua peça “De Perto Ela Não É Normal”, no Rio, e do lançamento de “Brisas do Mar”, sua coleção de bijuterias finas e artesanais com pegada sustentável desenvolvida em parceria com a grife Mãos da Terra. Para comentar o atual momento da carreira e questões contemporâneas que movimentam o nosso cotidiano, Suzana conversou com exclusividade com o HT e não fugiu dos assuntos mais sérios e polêmicos. No ensaio, clicado no belíssimo Royal Tulip, em São Conrado, a atriz e autora posou para as lentes sensíveis de Pedro Bucher, com styling magistral de Natalia Conti e beauty certeira de Nat Rosa. Vem conferir o resultado!

São mais de 20 anos dedicados à arte. Com incríveis papéis na função de atriz, seja na televisão, no teatro ou no cinema, Suzana Pires foi além. Ela, que já havia assinado como colaboradora a novela “Flor do Caribe”, em 2013, e o humorístico “Os Caras de Pau”, em 2010 e 2011, teve sua primeira experiência como autora principal no ano passado. Em “Sol Nascente”, última novela das 18h da Globo, Suzana dividiu a autoria da trama com Walther Negrão e Julio Fischer. Hoje, depois de meses de trabalho e dedicação e com a sensação de missão cumprida, a autora faz um balanço positivo da experiência, apesar dos pesares. “Foi uma novela de muitos contratempos. Primeiro, a questão da audiência e depois os problemas de saúde. O (Walther) Negrão ficou internado por muito tempo e, depois, a Laura Cardoso também. Então, foi uma novela na qual eu tive que lidar com várias outras questões além do texto. Mas eu gosto de desafios, isso me motiva”, contou Suzana, que lembrou como lidou com essas notícias. “Foi no susto que eu assumi uma novela. Eu era marinheira de primeira viagem. Mas no fim, deu certo”, comemorou.

Vestido Shoulder | Casaco Zara | Sandália Luiza Barcellos | Brinco Gioiellini | Anel Tereza Xavier (Foto: Pedro Bucher)

Essa estreia como autora principal de novela em uma trama que foi recheada de contratempos, como a própria Suzana apontou, mostrou à artista que a teledramaturgia é muito mais real do que a gente imagina. Não importa se é pela história contada ou pelos casos dos bastidores, Suzana Pires destacou o quanto a arte é um reflexo da vida. “Não dá para a gente se desesperar quando os problemas aparecem. A novela é como a vida, é um dia depois do outro. Quando surge um obstáculo, a gente acha que não vai ter caminho para resolver. Mas, de repente, oportunidades e soluções aparecem e dá tudo certo. Então, o que eu tive que ter foi muita calma”, lembrou.

Calma, sabedoria e estudo. Em sua primeira novela na posição de autora, Suzana Pires não queria repetir o clichê do vilão e da mocinha, que já é velho conhecido do público. Para isso, ela e os companheiros de trama decidiram exagerar nas justificativas de cada personagem de “Sol Nascente”. “A gente deu razões maiores para o vilão ter suas atitudes, por exemplo. Em ‘Sol Nascente’, esse personagem nem era apaixonado pela mocinha no começo da novela. A vilania vinha de uma questão do passado, eles queriam roubar uma herança bilionária. Ou seja, a gente deixou tudo maior do que seria normalmente. Enquanto o personagem do Rafael Cardoso era um verdadeiro bandido, a da Laura Cardoso era uma vilã de 90 anos que, há 70, fugia da polícia”, explicou Suzana que não mudou a história original da trama por causa dos contratempos e da baixa audiência do começo da novela. “A gente não abandonou a essência da história, que era falar de família e amizade. Com o passar dos capítulos, nós só fomos costurando as temáticas mais profundamente. Mas, com a doença da Laura Cardoso, nós decidimos trazer o personagem do Rafael Zulu para ter mais destaque na trama e assumir o que era para ela estar fazendo. Então, mesmo com esse contratempo enorme que tivemos, conseguimos manter a tensão da novela”, completou.

Vestido Shoulder | Casaco Zara | Sandália Luiza Barcellos | Brinco Gioiellini | Anel Tereza Xavier (Foto: Pedro Bucher)

Aliás, a questão da audiência foi algo que atingiu dois extremos em “Sol Nascente”. Enquanto no começo a novela registrava cerca de 17 pontos, na fase final, a trama superou os 30. O sucesso da história veio como mais uma prova de que não é preciso se desesperar. E Suzana aprendeu bem isso. “Como autora, você é a origem de tudo e a maior responsável pelo sucesso. Enquanto eu escrevia, eu não pensava em fazer reviravoltas que aumentassem a audiência. O que eu fiz foi ouvir o público, entender quais eram os elos mais frágeis da novela e conversar muito com o Silvio de Abreu, que me mostrou caminhos dentro da nossa essência. Ao lado do Júlio Fischer e do Léo Nogueira, a gente formou uma equipe, liderada pelo Silvio, muito coesa”, contou.

Para essa experiência, mais do que uma história criativa e que fugisse do normal, Suzana Pires quis enriquecer a posição de autora com seus conhecimentos como atriz. E isso fez toda a diferença. Como ela nos contou, essa dobradinha de experiências fez com que a rotina nos bastidores ficasse ainda mais rica e proveitosa. “Quando você conhece o funcionamento de um set e tem uma visão de produção, na hora de escrever, você já imagina como será o resultado. Porém, eu não sabia somar essas três experiências. Por isso, fui fazer um curso chamado Showrunner nos Estados Unidos para conseguir juntar o artístico com a escrita e produção. Então, esse aprendizado fez com que eu fosse uma autora mais próxima do elenco e da produção da novela”, disse Suzana que lembrou como era a relação com os amigos e companheiros de novela. “Para os atores, era muito engraçado porque a maioria deles já havia trabalhado comigo como atriz. Na época da novela, eu sempre ia aos estúdios, conversava com eles e via o que eles achavam. E essa era uma relação que eu sentia muita falta quando eu estava no lugar deles, como atores. Por isso, procurei estar sempre próxima do meu elenco”, contou.

Vestido  Lucidez | Brinco Lavish | Pulseira Lavish (Foto: Pedro Bucher)

Além de uma autora atriz, a posição de Suzana Pires nos bastidores da teledramaturgia vem também como um reforço. Em um meio em que os grandes nomes são normalmente masculinos, ela chega como mais um exemplo de que, assim como Gloria Perez e Janete Clair, as mulheres também são sucesso na autoria de novelas. Aliás, elas também servem como inspiração para Suzana. “Eu estudo Janete Clair há muitos anos. Ela teve ideias em sua dramaturgia que foram símbolos de coragem. Por isso, eu gosto tanto de mergulhar nesses trabalhos dela. Eu pego os capítulos e fico lendo e decupando todos os detalhes para conseguir extrair o máximo”, contou a autora que não acredita mais que esse seja um mercado masculino. “Eu acho que hoje em dia não existe mais um meio que seja dominado exclusivamente por homens. Talvez, agora a gente tenha uma voz mais forte no mundo e no mercado de trabalho”, sinalizou.

Por falar nisso, Suzana Pires não se esquiva quando o assunto são os movimentos sociais e ideológicos dos tempos modernos. Na verdade, ela se insere. “Eu sou dessa turma. Eu faço parte das minorias que são maiorias. Para mim, homofobia, machismo e racismo, por exemplo, sempre foram discursos nos quais eu gritei nas minhas redes sociais e na minha vida pessoal. E a gente precisa continuar caminhando nessa direção. Todos os movimentos que começam a eclodir têm um radicalismo na essência. E precisa ser assim. A gente não pode tolerar nem 1% desses pensamentos preconceituosos e que minimizam as pessoas. Eu acredito que, daqui a alguns anos, essa situação melhore e a gente encontre um equilíbrio. Mas, agora, é preciso ser radical”, argumentou Suzana que garantiu nunca ter sido mal interpretada por seus posicionamentos públicos. “Nunca tive problema. Até porque, nunca falei algo que não fosse verdade ou que eu não acreditasse. Eu tenho uma relação muito franca com o público. Quando é o caso, eu explicito minhas dúvidas e escuto o que as pessoas têm a dizer. Mas eu nunca tolero desrespeito”, destacou.

Vestido Lucidez | Colar Voya (Foto: Pedro Bucher)

Inclusive, essas temáticas contemporâneas também costuraram a experiência como autora de Suzana Pires. Em “Sol Nascente”, um dos núcleos da novela era o caiçara, que trazia a questão negra para a trama. Para abordar esse assunto, Suzana contou que o estudo e o conhecimento foram as principais armas para o sucesso. “A minha opção foi tratar desse assunto a partir da ancestralidade. Por isso, não tínhamos um discurso politizado na novela no sentido contemporâneo. A gente mostrou a origem e o passado negro através daquele núcleo. Na novela, tivemos um casamento africano que demandou meses de pesquisas. Nós buscamos todas as razões para mostrar como ocorria antes de o negro ser sequestrado e arrancado de sua terra na África. Então, nossa principal preocupação foi mostrar a origem desses rituais, e não apenas retratar o que sabemos da escola”, explicou Suzana que, na novela, contou com a ajuda de um africanólogo. “A gente optou por tocar nas culturas em suas verdadeiras essências. Não queríamos e nem podíamos cometer nenhum erro e desejávamos, principalmente, ver e entender a origem de tudo. Afinal, assim, a gente elimina qualquer preconceito depois”, completou.

E o conhecimento é, de fato, o combustível para que esses discursos modernos ganhem força e respeito. Para falar com propriedade sobre os assuntos que Suzana Pires aborda em suas redes sociais, como feminismo, por exemplo, a atriz e autora tem uma grande experiência teórica por trás. Teórica e filosófica. Paralela a paixão artística, ela também é formada em Filosofia pela PUC do Rio. Como nos explicou, a escolha pela graduação tinha como razão ampliar o pensamento. Mas não foi uma tarefa muito simples. “Eu passei dois anos na faculdade sem entender nada. E isso é normal em qualquer curso. Por isso que precisamos insistir, senão a gente desiste. E, hoje, eu vejo que foi o melhor alimento que eu poderia ter para a minha carreira”, lembrou Suzana que, mais do que base teórica, o curso também lhe deu coragem para ser a profissional de hoje. “Eu tive filosofia na escola e, na época, eu já era atriz e escrevia. Porém, eu não tinha segurança no meu papel de autora. Por isso eu escolhi a filosofia. Eu queria um curso que me encorajasse a liberar a minha escrita”, contou. E deu certo!

Blusa Canal Concept | Calça Canal Concept | Cinto Acervo | Bolsa Cavalera | Sandália Cavalera | Brinco Lavish (Foto: Pedro Bucher)

Falando na escrita, Suzana Pires também tem outras experiências de sucesso como autora na carreira. Além da televisão, ela brilha no teatro com o espetáculo “De Perto Ela Não É Normal”. Na peça, escrita em 2005 e que é considerada o amuleto da atriz e autora, Suzana interpreta dez personagens que mostram o que é “chegar lá”. “Essa é uma reflexão tão cotidiana e geral, que aquelas personagens poderiam ser qualquer uma de nós. Eu acho que é por isso que dá tão certo. Desde que eu coloquei em cartaz, o espetáculo só me trouxe surpresas boas”, comemorou.

E, se em uma única peça Suzana Pires se divide em dez personagens, na carreira estelar, ela coleciona experiências plurais. Se ela gosta de viver pessoas diferentes a cada dia? Não tenha dúvidas! “O que me atrai na carreira artística é a diversão. Olha, é muito legal. É muito bom poder escrever em um dia e atuar no outro. Eu acordo já super animada pensando o que eu vou inventar naquele dia. Embora seja uma profissão muito difícil, tudo o que ela tem de contra também tem de entusiasmo e diversão. Então, acaba valendo a pena. Eu posso estar muito cansada, afinal, trabalho de domingo a domingo. Mas uma coisa é certa: pode ter certeza que eu estou me divertindo muito”, contou animada e com brilho nos olhos.

Macacão Shoulder | Blazer Enjoy | Sandália Arezzo | Joias Tereza Xavier (Foto: Pedro Bucher)

No entanto, não é só de alegria e diversão que um artista vive. Ainda mais no Brasil. Se na questão social Suzana Pires é otimista e acredita no lado positivo de todos os movimentos modernos, quando o assunto é a valorização da cultura a atriz não esconde a insatisfação. Acostumada a fazer sua peça de sucesso “De Perto Ela Não É Normal” sem qualquer tipo de patrocínio, Suzana contou que isso não a limita a nada. “Pela primeira vez, depois de doze anos, eu tive patrocínio para a temporada no Rio de Janeiro. Mas eu nunca tive, é muito difícil conseguir. Na verdade, é complicado fazer arte no Brasil. Essa frase é super batida e todo mundo já sabe. Mas, infelizmente, essa é a realidade”, disse.

A razão? Para Suzana, a falta de valorização da cultura no Brasil está ligada diretamente ao fato de não haver educação no país, como justificou. Segundo ela, dessa forma, o país só está se privando de ter ainda mais exemplos brilhantes de artistas de diferentes áreas. “A educação não existe nesse país. Em um lugar assim, a cultura nunca vai ser valorizada e vai continuar ficando em último lugar, sempre. É difícil um governo entender que um povo se forma a partir da sua cultura. Então, eu fico pensando: se a gente é tão talentoso e movimenta tantas áreas através da cultura, imagina se tivéssemos uma política de apoio às artes? E isso precisa ser nacional. Não dá para a gente ficar restrito ao Sudeste, ao Rio e a São Paulo. Nosso país é enorme, tem grupos de teatro no Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sul. Todos precisam ser ouvidos”, alertou a atriz e autora Suzana Pires. Recado dado?

Blusa Levi’s | Calça Acervo | Brinco Voya (Foto: Pedro Bucher)