“É fundamental falarmos sobre ódio e intolerância nos dias de hoje”, diz Antônio Saboia, do premiado “Bacurau”


O ator gosta de se envolver em produções que, além de entretenimento, ofereçam informação e engajamento: “É difícil um brasileiro ser hermético com política hoje quando se vê o festival diário de absurdos a níveis nacional e internacional”

*Por Karina Kuperman

Premiado em Cannes e escolhido para abrir a 47ª edição do Festival de Cinema de Gramado, o longa “Bacurau” conta uma emocionante história, que se passa em um futuro próximo, de um povoado isolado no sertão brasileiro em que água, comida e medicamentos se tornam raridade. Os celulares têm seus sinais cortados e o povo descobre que a comunidade simplesmente não consta mais no mapa.  É quando assassinatos começam a acontecer e a população local se une para resistir. Antônio Saboia, que vive um forasteiro, sabe que o filme representa resistência. “Bacurau tem sido uma aventura humana e profissional maravilhosa. Levar o sertão para Cannes e ver o filme ganhar tanto reconhecimento em um festival como que reunia Tarantino, Almodóvar, Dolan, Jarmush e outros foi uma sensação totalmente maluca”, conta.

Antônio Saboia (Foto: Max Calligaris)

“A estreia aqui no Brasil vai ser no Festival de Gramado, que começa amanhã, dia 16, e, depois, entra no circuito nacional no dia 29 de agosto. Estamos torcendo muito para os brasileiros curtirem o filme que, para além de político, é entretenimento. ‘Bacurau’ é um símbolo de resistência artística e tenho um orgulho enorme de ter trabalhado com o elenco e a equipe técnica desse filme”, adianta ele, sobre a história dirigida por Kleber Mendonça Filho e que, por meio de uma trama barroca quase que fantástica – sem deixar o realismo de lado – prega resistência contra a opressão – qualquer que seja ela. “É fundamental falarmos sobre ódio e intolerância principalmente nos dias de hoje”, diz.

Cena do filme “Bacurau” (Foto: Reprodução/Bacurau)

Antônio, aliás, está acostumado a abordar temas que misturam entretenimento com informação e engajamento. Tanto é que integra o elenco de “O mecanismo”, da Netflix, e “Rotas do ódio“, do Universal Channel. “É difícil um brasileiro ser hermético com política hoje quando se vê o festival diário de absurdos a nível nacional e internacional. Em ‘O mecanismo‘, estou feliz de ver as fichas dos procuradores e do juiz começarem a cair no final da segunda temporada. Pena que não foram totalmente desmascarados ainda, mas a realidade está cuidando dessa parte”, acredita.

Antônio Saboia gosta de histórias que, além de entreter, informem (Foto: Max Calligari)

Já na trama do Universal Channel, ele vive um chefe de operações da Decradi. “Faço o Júlio Pedrazza, braço direito da delegada Carolina, interpretada por Mayana Neiva. Essa temporada foca na questão da imigração e da exploração de quem chega ilegalmente no país. A série mostra um pouco os bastidores desse submundo. Eu tenho um carinho muito especial por ‘Rotas do Ódio‘, pelos temas cada vez mais urgentes que a série aborda. Essa questão de ódio e intolerância contra ‘minorias’ é um problema muito sério no Brasil”, reflete o franco-brasileiro. “Minha mãe é francesa, meu pai brasileiro, maranhense. Nasci na França e passei minha infância aqui, cresci entre lá e cá e acabei aprendendo as duas línguas ao mesmo tempo. Sou 100% brasileiro e nordestino, e também 100% francês”, brinca.

Antônio Saboia como Julio em “Rotas do ódio” (Foto: Reprodução)

Além da atuação, Antonio se dedica a roteiros e produções, como a de “Calvário”. “O longa tem esse título provisório e é uma sátira violenta sobre a sociedade atual. Conta a história de três psicopatas que representam três arquétipos da sociedade brasileira e que ‘brincam’ de torturar mulheres trans e negros. Tentamos questionar a impunidade que estimula essa violência contra minorias”, conta.

O ator está no ar em séries como “O mecanismo” e “Rotas do ódio” (Foto: Max Calligari)

Quem ainda prefere o modelo tradicional das novelas com certeza também já se deparou com o rosto de Antonio na TV. Ele viveu Matias em “Tempo de Amar“, de Alcides Nogueira, com direção de Jayme Monjardim, e atuou em “Em família”, também dirigido por Monjardim. “Em ‘Tempo de amar‘ eu fiz um vilão, o Matias, que voltava a cidade e tentava matar a ex, que era vivida pela Sabrina Petraglia. Foi muito bacana, mas foram só 10 capítulos. Também fiz a primeira fase de ‘Em família’, com o Jayme. Interpretei o personagem do Leonardo de Medeiros mais novo. Mas, novamente, foi uma participação de 10 capítulos. Adoraria fazer uma novela do início ao fim”, confessa. “Meu ideal seria poder trabalhar um pouco em cada canto. Quero fazer bons trabalhos, não importa onde. Esse ano ainda  estreio as séries ‘Santos Dumont‘, na HBO, e ‘Gilda‘, no Canal Brasil, e os filmes ‘Arigó‘, de Gustavo Fernandes, e ‘Órbitas da água’, de Frederico Machado, que têm previsão de chegar aos cinemas em 2020. Para o ano que vem tem ainda o ‘Calvário’ estreando e a mais uma nova temporada do ‘Rotas do ódio'”.