Débora Falabella sobre como na pandemia lida com episódios de ansiedade: Terapia ajuda não sentir de forma drástica


O transtorno de ansiedade é o tema central do longa-metragem Depois A Louca Sou Eu, protagonizado pela atriz e dirigido por Julia Rezende, que estreia nos cinemas, nesta quinta-feira, dia 25. “Eu sofro com ansiedade, já passei por alguns episódios”, explica Débora. Inspirada na própria vivência e também em pessoas ao seu redor, a intérprete da Irene da novela A Força do Querer, dá vida à Dani, que faz par com o personagem do ator Gustavo Vaz, ex-namorado da atriz na vida real. Rodada em 2019, a produção se encaixa perfeitamente ao momento que estamos atravessando. “Nesse tempos, é muito difícil alguém não ter passado pela ansiedade. Vivemos uma crise mundial, as pessoas estão afetadas mentalmente pelo que tem acontecido”, frisa

Débora Falabella sobre como na pandemia lida com episódios de ansiedade: Terapia ajuda não sentir de forma drástica
Débora é a protagonista do longa Depois a Louca Sou Eu (Foto: Stella Carvalho)

Débora é a protagonista do longa “Depois a Louca Sou Eu” (Foto: Stella Carvalho)

* Por Carlos Lima Costa

O transtorno de ansiedade que permeia a sociedade é o mote central da comédia dramática Depois A Louca Sou Eu, que estreia nos cinemas nesta quinta-feira, dia 25, com Débora Falabella no papel principal. Repleta de medos e angústias, Dani, sua personagem, se atrapalha nos mais corriqueiros hábitos do cotidiano. “Eu sofro com ansiedade, já passei por alguns episódios. Então, me inspirei em mim, claro, e nas pessoas que estão ao meu redor”, revela. E ressalta que, apesar de ter sido rodado em 2019, o longa-metragem dirigido por Julia Rezende se encaixa perfeitamente ao que que todos vivem em consequência da pandemia da Covid-19.

“Nesse tempos é muito difícil alguém não ter enfrentado suas ansiedades. Vivemos uma crise mundial, as pessoas estão afetadas mentalmente pelo que tem acontecido”, observa. Mas na atual situação, Débora tenta segurar sua onda. “Eu fiz muitos trabalhos online, então, acho que me ajudou nessa fase. Sempre fiz terapia, então, continuei seguindo com ela. E também coloquei minha atenção nas questões de casa. Não tinha realmente muito tempo para deixar essa ansiedade chegar de forma drástica”, frisa.

No longa, a personagem da atriz sofre com transtorno de ansiedade (Foto: Stella Carvalho)

No longa, a personagem da atriz sofre com transtorno de ansiedade (Foto: Stella Carvalho)

Baseado no livro homônimo e autobiográfico de Tati Bernardi, lançado em 2016, o filme, que estrearia em 2020, acabou inspirando a websérie Diário de Uma Quarentena. Um tremendo sucesso na internet, cujos seis episódios foram assistidos por mais de sete milhões de pessoas no YouTube. Gravados pela atriz com um celular, usando a residência dela como cenário, os vídeos duraram, em média, pouco mais de três minutos, e falaram de como a personagem enfrentaria as situações como higienizar o ambiente doméstico e os alimentos, o medo de entes queridos se contaminarem e a ansiedade provocada pela Covid-19 e seus desdobramentos. “Pela reação do público nos festivais dos quais participou e por esses vídeos que fizemos, vi uma grande identificação. As pessoas falam que estão se enxergando no filme, vendo que isso não acontece somente com elas. Além da paixão pela obra, me sinto bem de trazer essa identificação para o outro”, comentou a intérprete, da Irene da novela A Força do Querer, atual reprise das 21h, na Globo. Depois a Louca Sou Eu foi destaque no 21º Festival do Rio e na 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

No longa, personagem Dani faz par com Gilberto, vivido por Gustavo Vaz, namorado de Débora na vida real até janeiro. Com ele, desenvolveu ainda outro trabalho no período de isolamento social. Participou como atriz de outra websérie, Se Eu Estivesse Aí, ao lado de Gustavo, responsável pelo roteiro. O trabalho, inclusive  foi indicado a prêmios em alguns festivais como o Asia Web Awards 2020. Acabou sendo uma válvula de escape neste período tão difícil, mas claro que me afetava. Tinha dia que eu tinha que parar um pouco de ver notícia, selecionar as notícias que eu lia ou assistia na TV, porque teve uma hora que foi ficando pesado. Acho que esse sentimento foi geral”, reforça ela, que completou 42 anos nesta segunda, dia 22.

Leia mais – “Na dor e confusão do mundo ainda é possível brotar amor”, diz Gustavo Vaz, que está no longa Depois a louca sou eu

Gustavo e Débora, que namoraram até janeiro, interpretam um casal no cinema (Foto: Stella Carvalho)

Gustavo e Débora, que namoraram até janeiro, interpretam um casal no cinema (Foto: Stella Carvalho)

Pela própria vivência e pela forma como se aprofundou para interpretar a protagonista de Depois A Louca Sou Eu, ela chega à conclusão que o transtorno da ansiedade é muito mais comum do que se imagina. Que conselho daria para quem sofre com estes episódios independentemente da pandemia? “Muita gente tem ansiedade e síndrome do pânico e não admite, tem vergonha de falar, acha que não tem que se cuidar. Então, o recado é esse: ‘Você não está sozinho’. E não precisa ter vergonha, esse assunto já passou da hora de ser um tabu. Ele precisa ser falado. Admitir as suas fragilidades no mundo que a gente vive é a coisa mais normal que pode acontecer. Então, é procurar ajuda, entender que você não está sozinho e que tudo certo também você se sentir assim em momentos da sua vida, faz parte de quem a gente é também”, observa.

“Muita gente tem ansiedade e síndrome do pânico e não admite, tem vergonha de falar, acha que não tem que se cuidar"

“Muita gente tem ansiedade e síndrome do pânico e não admite, tem vergonha de falar, acha que não tem que se cuidar”

Débora explica sobre a linha tênue em retratar um assunto sério com pitadas de ações engraçadas. “Não pensei que devia fazer o filme para ser engraçado. Tinham cenas dramáticas, difíceis, então, fui tentando conduzir com a verdade e seriedade que o assunto precisa ser tratado. Mas a cena acabava indo para o lugar do absurdo de reações, o que deixava a situação engraçada, mas em nenhum momento pensando no intuito do riso”, assegura. A narrativa do filme não é de piada, é de situação.

Em paralelo a isso, o filme, que conta ainda no elenco com Yara de Novaes e Evandro Mesquita, ganhou uma espécie de estética pop. Nas cenas dominadas por um clima de sentimento de crise, existe sempre algum elemento em tom vermelho. Em contrapartida, nos momentos de maior tranquilidade e liberdade, é possível visualizar algum elemento verde. Esse clima foi, inclusive, reproduzido no cartaz.

Débora contracena com Evandro Mesquita (Foto: Desiree do Valle)

Débora contracena com Evandro Mesquita (Foto: Desiree do Valle)

Antes de ser convidada para o longa, Débora já havia lido o livro de Tati. “Eu tinha até comentado com ela lá atrás que se fizessem um filme, eu gostaria de participar. Quando a diretora Julia Rezende me convidou ainda não tinha roteiro, mas quando este foi feito, vi que eram duas personagens diferentes, apesar de terem histórias parecidas. Então, lendo o roteiro, conversando com os outros atores, essa Dani foi surgindo forte com o sotaque paulistano e eu sou mineira (ela nasceu em Belo Horizonte). Nós a construímos de maneira tão forte que depois fizemos o Diário de Uma Pandemia de maneira despretensiosa e deu supercerto, nascendo totalmente da ansiedade. Estávamos para estrear o filme quando veio a pandemia. E aí conversando com a Julia sobre como seria a personagem nesse momento, veio essa ideia. Imagina, a Dani já tinha mania de limpeza, já não gostava de sair de casa. Eram várias coincidências que resolvemos fazer a websérie”, lembra.

"Vivemos uma crise mundial, as pessoas estão afetadas mentalmente pelo que tem acontecido”, observa Débora (Foto: Divulgação)

“Vivemos uma crise mundial, as pessoas estão afetadas mentalmente pelo que tem acontecido”, observa Débora (Foto: Divulgação)

No ano que passou e ainda em 2021, em que tem desenvolvido trabalhos online, ela precisou dividir o foco com a filha Nina, que vem estudando no sistema homeschooling. A menina de 11 anos é fruto do casamento com o músico Chuck Hipolitho. “Eu sempre trabalhei muito na minha vida, isso faz parte da minha identidade, então, não foi um problema. Agora, claro que a gente tinha que dividir espaços, criar uma certa rotina para esse momento. E tinha hora que dava tudo errado, as coisas não se encaixavam. Normal. Nesse momento horroroso que a gente está passando, de estar dentro de casa com os seus lidando quase que 24 horas por dia o tempo inteiro foi também um momento de assumir que, às vezes, tudo bem se a gente errar, se a gente não conseguir dar conta. E olha que a gente está numa situação privilegiada. Então, sinto que foi um momento de me entender também. A própria flexibilidade que a gente teve em relação ao estudo das crianças. A escola online apesar de todo esforço também não é fácil para a criança. Tinha que entender os momentos que precisava existir uma pausa, ser mais tolerante comigo mesma”, reflete, acrescentando: “Agora, ela vai começar o presencial, mas uma vez por semana ainda e o restante vai continuar no online. As crianças têm um poder de adaptação grande. Claro, que não é o ideal, mas já se acostumou a fazer as aulas, a entender a dinâmica. Fora que elas lidam muito bem com a tecnologia. Muito melhor do que a gente”, acrescenta.

Outro trabalho que dá muito orgulho a Débora é a série Aruanas, onde vivendo a jornalista Natalie, ela é uma das protagonistas ao lado de Taís Araújo e Leandra Leal, que na história comandam uma ONG de preservação ambiental. Gravada em Manaus, no Amazonas, a produção estreou em 2019, na Globoplay, sendo exibida na Globo, em 2020. Este trabalho lhe proporcionou uma relação de maior proximidade com a necessidade da proteção ambiental. “Eu tinha consciência em relação a essa questão, mas não de uma maneira tão ampla e tão engajada assim como Aruanas fez com que eu me sentisse. Quando você compra uma causa é porque você entende muito daquilo, enxerga de maneira forte dentro de você. Eu percebo que todos os atores se envolveram dessa forma. É uma série que me ensina muito. Depois de Aruanas, eu sou uma outra pessoa em relação ao meio ambiente, ao mundo que a gente vive e na forma como enxergo o nosso planeta. Temos um grupo grande de pessoas fazendo a série, a gente está sempre engajado nessas questões e, principalmente, no que vamos passar para os nossos filhos e as pessoas com as quais a gente convive, em relação ao meio ambiente. Já assinei, inclusive, várias petições”, explica.

A questão do meio ambiente e a extinção do novo coronavírus são temas da maior relevância para Débora Falabella. Será que as pessoas vão se tornar diferentes pós-pandemia? “Eu não sei se isso vai acabar, acho que vai demorar ainda esse cuidado. A gente precisa dar uma pausa e olhar realmente para a maneira como a gente está vivendo a nossa vida. É um momento para também pensar conscientemente sobre o que estamos fazendo com o nosso planeta. Isso tudo é um reflexo. Acho que vamos ter que lidar ainda um tempo com essa pandemia. Não acho que vai ser algo que vai terminar rápido, que vai chegar a vacina e tudo vai se resolver, principalmente no país que a gente vive. Estamos em uma situação horrorosa. Talvez seja preciso ter um pouco de calma para passar por esse momento”, conclui.