Day Mesquita: A carreira após gravidez, o vegetarianismo e o desafio de viver personagens polêmicas em novelas

*por Vítor Antunes

Protagonista do último sucesso em tramas contemporâneas da Record, Day Mesquita deu uma pausa na carreira para dedicar-se à maternidade. Com o nascimento de Dom, em setembro do ano passado, a atriz retorna gradativamente aos sets. No campo profissional, Day tem um projeto em pré-produção. Um deles é a série “Tudo de Bom“, destinada ao streaming. Na trama dirigida por Ajax Camacho, a atriz interpreta uma ex-vedete que começa a trama querendo o divórcio do protagonista. Em tratando-se de papel protagônico, Day viveu a Poderosa, principal personagem da trama “Amor Sem Igual“, exibida pela Record. Na novela de 2019, a atriz deu vida a uma prostituta, algo tido como muito ousado para uma emissora de diretriz evangélica e numa novela exibida num horário livre. “Nossa referência era o filme ‘Uma linda mulher‘. Havia a prostituição como tema, mas de uma forma leve, para se manter baixa a classificação indicativa. Pincelávamos o que era importante e era isso que chegava ao público”. Antes de Poderosa a atriz deu vida à controversa Maria Madalena, em “Jesus”.

Day Mesquita. Adepta a uma alimentação veggie, atriz é voz ativa no combate ao carnismo. Atriz também repercute seu trabalho de maior sucesso em “Amor se Igual” (Foto: LA FotoStudio)

“FOOD WILL WIN THE WAR”

Ainda que remonte a tempos longínquos, uma das diretrizes do princípio vegetarianista surgiu, atribui-se, na Primeira Guerra. Dizia-se que o conceito da “Segunda Sem Carne” advém da Primeira Guerra Mundial e que a U.S. Food Administration, órgão que zelava pelas quantidades de comida distribuídas ao povo americano, incentivava as famílias a passarem um dia sem carne, a segunda feira, a fim de reduzir o consumo desses alimentos. Contemporaneamente, muitas pessoas, interessadas lançam mão de começar passando um dia sem carne. Os antigos diziam “Food will win the war“, ou seja, “a comida vencerá a guerra”. Baseada nesta filosofia, a atriz fala sobre o mercado voltado à prática da alimentação saudável e promotor da defesa do meio ambiente: “Hoje há marcas mais preocupadas com a natureza, com a questão ambiental, para além do sacrifício  animal. [A indústria pecuária promove] um grande consumo de água fora o abate dos animais”, afirma.

“Com o bebê maiorzinho, eu estou num movimento de retorno às minhas atividades e voltando ao mercado de trabalho. Faz parte do processo”. Adepta de uma alimentação vegetariana, Mesquita debate a introdução desta filosofia alimentar junto ao seu filho e esta pauta, do vegetarianismo/veganismo para crianças pequenas. A atriz também desmente a crença costumeiramente vista, que uma alimentação veggie /vegan seja mais cara. Pelo contrário. Relata que apenas os produtos industrializados são mais custosos.

Day Mesquita é uma entusiasta do vegetarianismo (Foto: LA Foto Estúdio)

Em setembro do ano passado nasceu Dom, filho da atriz com o ator e produtor teatral Pedro Antunes . Conta-nos ela que o menino está sendo introduzido ao vegetarianismo. “Ele consome leite, ovos e derivados. Não faria sentido introduzi-lo a uma alimentação carnista já que isso vai contra tudo aquilo que acreditamos. Naturalmente, quando ele estiver maior, será uma opção dele manter ou não [essa prática]”.

O ideal é que, independente da escolha alimentar, hoje é mais fácil de saber o que colocar no prato para além da crueldade animal. Em não se haver bicho no prato que se verta como uma opção econômica. Que planeta queremos para o futuro? Precisamos continuar existindo e a forma como consumimos precisa ser mais sábia – Day Mesquita

Day Mesquita e a consciência ambiental a partir da alimentação (Foto: LA Foto Estúdio)

AMOR(ES) SEM IGUAL

Próximo de completar um ano, Dom, o filho da atriz, já conquista as redes sociais. O expressivo bebê ocupa várias e várias postagens dos pais corujas. Perguntamos à atriz como ela lida com a exposição do neném, já que, apenas Day possui mais de 500 mil seguidores no Instagram. “Quanto à exposição do bebê, a gente busca ser sempre muito verdadeiro com a gente mesmo nas redes. Tudo o que expomos é um pouco da nossa vida. As redes sociais são espaços de troca com o nosso público e de levantamento de pautas e coisas importantes para nós. A gestação do Dom foi algo que dividi e achei que deveria compartilhar o seu nascimento com meus seguidores também. Não tem como não dividir essa alegria”.

Day Mesquita e Dom. Menino é um fenômeno e já foi capa de revista (Foto: Reprodução/Instagram)

Em se tratando em amores inigualáveis “Amor Sem Igual” foi  a última novela de Mesquita. Exibida na Record em 2019, a trama era ousada para o perfil da emissora, cuja linha editorial sempre perpassa pelos valores evangélicos. Afinal, a protagonista era uma prostituta e a novela não era exibida num horário tardio, mas às 20h30. A conta, teoricamente, não fecharia. “A trama”, diz a atriz, “era baseada no filme ‘Uma Linda Mulher’. Tinha proposta de ser algo mais leve, com a classificação baixa. O foco era ser uma comédia romântica. Tinha como ela ser uma garota de programa, ainda que fosse numa novela exibida mais cedo. Pensávamos nesta leveza. Pincelávamos em algo que fosse importante e essa característica chegava ao público”. E ela prossegue: “Falar de Poderosa, minha personagem, é uma alegria”.

Durante a novela, Mesquita teve acesso a meninas que desempenhavam a mesma atividade que sua personagem e conta-nos de que “muitas delas tinham realidades próximas às de Poderosa. Algumas foram abusadas quando crianças, ou não tiveram a participação dos pais. Havia quem quisesse mudar de vida e não conseguiu”.

Day Mesquita foi a Poderosa de “Amor Sem Igual” (Foto: Blad Meneghel/RecordTV)

Quando interpreta uma pessoa marginalizada, uma atriz dá voz a todas estas mulheres invisibilizadas. O simples fato de ser mulher já é um posicionamento e num mundo patriarcalista, o lugar feminino já é um ato político: “Felizmente temos um caminho crescente nesta agenda do feminismo, o que é muito pequeno frente ao que precisamos. As mulheres têm voz e é algo que sempre deveríamos ter tido. O patriarcado estava muito enraizado. A afirmação feminina é algo que têm sido construído e temos muito o que galgar ainda. Claro que às vezes falamos de um lugar mais acessível, privilegiado, dentro de uma cidade grande, mas o protagonismo feminino vem conseguindo espaço. Precisamos falar sobre isso, sobre quebra de tabus, da não hiperssexualização do nosso corpo ou de violência contra nós”. Esse é um dos sonhos de Day e não o único “Quero algo além das realizações profissionais. Fazer mais cinema, teatro e TV. Quero ser objeto de transformação para as pessoas que me assistem e ver meu filho com saúde, num País com mais amor e entendimento do outro e mais empatia”. Poderosa em sonhar, Mesquita age como no poema de Fernando Pessoa: “Tudo é sonho. É como coisa real, por dentro”.