Dani Calabresa: ‘Não existe um prazo para resolver e curar nossas dores. Cada um tem seu tempo’


A humorista encerra a primeira temporada de ‘Dani-se’, seu novo programa, no GNT, no qual recebe convidados em um bate-papo divertido e irreverente. Em entrevista, Dani faz um balanço sobre a atração e fala das mudanças no humor em tempos de cancelamentos nas redes sociais e diz que fica ‘realizada em ver o crescente número de mulheres comediantes ativas’, mas que sofre por alguns comentários na web. Durante o bate-bola, a apresentadora reflete como seguir em frente mesmo sentindo tanta dor em tempos de Covid-19: “Precisamos respeitar o nosso tempo e buscar a ajuda necessária para aliviar os nossos processos”

*Com Bell Magalhães

Conhecida pelo senso de humor afiado e a rapidez de raciocínio, Dani Calabresa está no comando de ‘Dani-se’, no GNT, e fechou a primeira temporada em grande estilo com a presença de Fábio Porchat e Silvero Pereira. A comediante recebia convites do canal desde 2015, mas agora se entregou para o projeto e resolveu dar um ‘dani-se’ para tudo o que a prendia. Após a exibição dos 10 episódios iniciais, ela diz estar feliz com o resultado das gravações dirigidas por Lilian Amarante. O parceiro de cena da vez é Pedroca Monteiro “Ele é muito engraçado e amoroso! É um cara coração bom, especial mesmo. Só agradeço pela nossa parceira carinhosa — apesar de ele ter roubado meus tubos de glitter (risos)”. Leve e divertido, o programa promove um diálogo entre convidados e apresentadores com reflexões importantes, com esquetes, imitações, improviso e stand-up. “O mais legal é que sempre quis receber dois convidados e deixá-los à vontade para batermos papo de um jeito descontraído, nos divertindo de verdade. No final, conseguimos exatamente o que esperávamos”, vibra.

Dani Calabresa está no comando de ‘Dani-se’, no GNT, e fechou a primeira temporada em grande estilo (Divulgação)

Dani comemora os frutos da nova empreitada, mas nem tudo foi fácil. De vídeo-chamadas até o distanciamento obrigatório, foram inúmeras barreiras que a artista e a equipe tiveram que transpor. “O processo de criação do programa foi à distância e nos falávamos em reuniões no Zoom”. Vivendo a experiência de criar em meio à pandemia, ela sente que o contato presencial é o que mais fez falta durante a concepção dos episódios: “Gosto muito de reunião de roteiro, de leitura de mesa, trocar ideias e sentir na leitura o que acreditamos que funciona ou não porque na hora dá para ver se alguém riu ou não (risos). Com esse distanciamento necessário, senti que foi mais difícil criar tantas ideias e só experimentar tudo na gravação do piloto”, conta.

"O processo de criação do programa foi a distância, e nos falávamos em reuniões no Zoom, cada um em sua casa" (Reprodução Instagram)

“O processo de criação do programa foi a distância, e nos falávamos em reuniões no Zoom, cada um em sua casa” (Reprodução Instagram)

Em casa, o isolamento serviu para que a comediante se jogasse em novos hobbies — uns mais bem-sucedidos que outros. “Desde março do ano passado, comecei e desisti de alguns projetos. Tentei malhar com vídeo do YouTube e no meio do vídeo eu já estava deitada no sofá mexendo no celular. Tentei aprender a cozinhar, mas só consegui chegar até a etapa da tapioca e do miojo que amo”.  Além da culinária e da onda fitness, a apresentadora disse que contou com ajuda do noivo, Richard Neuman, para lidar com a rotina de trabalho e gravações remotas: “Ele me ajudou muito nesse período porque está trabalhando em casa desde o início da pandemia. O Richard me filma, me ajuda com o ring light, aprendeu a editar vídeo e daqui a pouco já vai por uma peruca loira e gravar no meu lugar (risos). Ele conseguiria porque é muito engraçado”, brinca.

Dani e o noivo, Richard: "Ele filma, me ajuda com o ring light, aprendeu a editar vídeo e daqui a pouco já vai por uma peruca loira e gravar no meu lugar" (Reprodução Instagram)

Dani e o noivo, Richard: “Ele filma, me ajuda com o ring light, aprendeu a editar vídeo e daqui a pouco já vai por uma peruca loira e gravar no meu lugar” (Reprodução Instagram)

Ao longo dos anos, Dani colecionou um batalhão de referências que levou para o seu trabalho. “Amo a Maria Clara Gueiros, Lolô (Heloísa Périssé) e Ingrid Guimarães. Ah, meu Deus, o Luís Miranda! Ele é um ídolo para mim”, completa. Shelley Long e Lucille Ball são algumas das inspirações da humorista, mas existe uma ainda mais especial: “Me inspiro na Marisa Orth. Eu era apaixonada pela Magda, de ‘Sai de Baixo’. O programa era para a televisão, mas era feito no teatro com a resposta imediata do público. Fórmula perfeita com um elenco genial!”, e acrescenta: “A Magda me deu esperança de trabalhar com a comédia. E quase conseguiu me convencer a malhar perna, mas a bronquite não me ajudou muito”, ri. A artista lembra com carinho de Paulo Gustavo, que faleceu em decorrência do coronavírus na última semana. Dani conta que adorava rir com o trabalho do comediante e lamenta a perda precoce de uma mente brilhante do humor. “O Paulo era engraçadíssimo e tinha uma energia acelerada única. Ele está fazendo muita falta e foi uma tristeza sem tamanho perdê-lo”.

"Me inspiro na Marisa Orth. Eu era apaixonada pela Magda, de ‘Sai de Baixo’. Ela me deu esperança de trabalhar com a comédia" (Reprodução Instagram)

“Me inspiro na Marisa Orth. Eu era apaixonada pela Magda, de ‘Sai de Baixo’. Ela me deu esperança de trabalhar com a comédia” (Reprodução Instagram)

O humor é uma área que modificou muito com o tempo, da mudança nos tipos de piadas até quem as protagoniza. “Cresci me divertindo com ‘Os Trapalhões’, mas tenho a sensação de que não tinha espaço para mulheres engraçadas. O Chico Anysio era generoso na ‘Escolinha’ e dava espaço para homens e mulheres comediantes, mas acho que ainda existia um lugar desconfortável de ter uma personagem ‘gostosa burra’”, desabafa. Desde 2005 trabalhando com a comédia, Calabresa diz que ‘fica orgulhosa e realizada em ver o crescente número de mulheres comediantes ativas tanto na atuação, como na redação e na direção ao longo dos anos’: “Isso prova que o humor brasileiro evoluiu muito. Ver mulheres comediantes com programas próprios é muito emocionante. Vibro pela Tatá Werneck, Ingrid Guimarães, Regina Casé e faço o ‘Dani-se’ com muito amor”.

"Fico orgulhosa e realizada em ver o crescente número de mulheres comediantes ativas tanto na atuação, como na redação e na direção (Reprodução Instagram)

“Fico realizada em ver o crescente número de mulheres comediantes ativas tanto na atuação, como na redação e na direção (Reprodução Instagram)

A cultura do entretenimento e das redes sociais bombardeiam as pessoas pela busca do prazer rápido e muitos caem na depressão por não seguir esse imediatismo. Para uma pessoa pública, essa pressão é ainda mais evidente. Com 1,8 milhões de seguidores no Instagram, Dani é visivelmente ativa na web, mas tem suas ressalvas: “Adoro estar no Instagram, mas me assusto com a busca por likes, aprovação e elogios automáticos como ‘deusa’, ‘gênia’ e ‘perfeita, sem defeitos’ (risos). Não dá para se basear nisso e nem depender desses comentários”, conta. Sobre algumas experiências pessoais nas redes, a artista diz que gostaria de ter ‘sofrido menos para fazer as coisas’. “Às vezes, sofro por besteira, como comentários na internet. Sou sensível, me preocupo muito. Sempre fui tímida, insegura e muito preocupada com a opinião dos outros”, desabafa.

"Às vezes, sofro por besteira, como comentários na internet. Sou sensível, me preocupo com muitas coisas" (Reprodução Instagram)

“Às vezes, sofro por besteira, como comentários na internet. Sou sensível, me preocupo com muitas coisas” (Reprodução Instagram)

Os ataques e comentários de haters afetam a saúde mental, que já está abalada devido à pandemia. A tristeza se agrava e pode se tornar incapacitante para alguns, e mais parece que nada mais importa. Tem como sentir dor, mas continuar em frente? “Tem! Não podemos parar e temos que seguir como dá — de preferência fazendo terapia. Não existe um prazo para resolver e curar nossas dores. Cada um tem seu tempo. Enfrentamos problemas e decepções diferentes, por isso não se pode julgar nem menosprezar a dor do outro. Existem pessoas que ficam doentes depois de perderem um emprego ou por sofrerem alguma injustiça no trabalho; tem gente que perde um parente e está sempre sorrindo. Precisamos respeitar o nosso tempo e buscar a ajuda necessária para aliviar os nossos processos”. Os esforços, segundo Dani, têm que se concentrar no que ainda está por vir: “Tudo muda o tempo todo, essa é a beleza da vida, e também um dos meus medos. Sou escorpiana e não gosto de mudanças (risos). Eu sofro, mas ao mesmo tempo é muito bom pensar que não temos ideia do que vai acontecer, ou de quem vai entrar na nossa vida… Novos amigos, amores, que trazem novas inspirações e novas esperanças”, completa.

"Precisamos respeitar o nosso tempo e buscar a ajuda necessária para aliviar os nossos processos" (Reprodução Instagram)

“Precisamos respeitar o nosso tempo e buscar a ajuda necessária para aliviar os nossos processos” (Reprodução Instagram)