“Criar cogumelos é uma arte e eles são fonte de vitaminas”, diz Allan Souza Lima que cultiva em uma horta no apê

*Por Rafael Moura

Os cogumelos são uma rica fonte de vitamina B, niacina e riboflavina, vitaminas que ajudam a fornecer energia, quebrando proteínas, gorduras e carboidratos, além de desempenharem um papel importante no sistema nervoso e ajudam a reduzir a perda de memória. E uma ótima fonte de vitamina D para os vegetarianos e veganos. Muitos brasileiros já conhecem os benefícios dos cogumelos para a nutrição e para a saúde. Segundo a Associação Nacional dos Produtores de Cogumelos (ANPC), o mercado de fungos movimenta US$ 35 bilhões no mundo por ano e a expectativa é de que o negócio cresça 9% até 2021.

A China lidera a produção mundial de cogumelos, seguida pela Itália, Estados Unidos e Holanda. O consumo per capita no país asiático também é o maior do mundo, com oito quilos anuais, por habitante. No Brasil, a média anual é de apenas 160 gramas, bem abaixo de países europeus, como a Alemanha, que consome quatro quilos, França (dois quilos) e Itália (um quilo e trezentos gramas). Quanto mais os brasileiros conhecem as propriedades nutricionais e medicinais do alimento, mais se tornam boas as perspectivas do produto no mercado interno. “Acreditamos que a transformação de hábitos alimentares através do cultivo dentro de casa é possível”, conta Allan Souza Lima, logo no início da nossa conversa. O ator e produtor lançou no Dia Nacional dos Cogumelos, a Horta dos Cogumelos, um projeto que começou com uma pequena produção de shimeji branco, dentro de casa. “Nossos cogumelos podem ser consumidos in natura e com a opção de cultivá-lo na sua própria casa”, revela. O shimeji tem aroma marcante, textura crocante e sabor leve. É fonte de vitaminas, selênio, ferro e proteínas, e contém apenas 26 calorias a cada 100 gramas.

No nosso último papo vc contou que o isolamento social trouxe uma reconexão com a terra. E foi desse momento que surgiu essa ideia de cultivar cogumelos orgânicos. “E esse período foi de reconexão, de se entender novamente como ser humano, ressignificar alguns valores.
Durante os últimos meses, eu optei por me distanciar do trabalho, do meu cotidiano, de qualquer contato artístico referente à minha área. Nos quatro ou cinco meses iniciais, me isolei e decidi começar tudo do zero. Sempre tive conexão com a natureza e foi em busca dela que resolvi recomeçar”, revela, acrescentando: “Nesse período, minha casa era meu carro, minha barraca de camping minha casa, meu violão, dois livros de cabeceira (Mulheres que correm com os lobos e A vida secreta das plantas) e caí no mundo. Nessas minhas andanças, fui estudando botânica, a terra e seu desenvolvimento. E foi por esse caminho que fui me descobrindo e acabei encontrando um amigo que também estava nessa sintonia. E foi numa noite, em uma fazenda longe da cidade, que veio a pergunta: ‘Por que não cultivar cogumelos?'”.

A horta dos cogumelos nasceu dentro de casa e isso começou a provocar uma reflexão em Allan que pensou em como o processo poderia influenciar a vida dele e a das outras pessoas? “Foi a partir disso, que decidi cultivar no meu apartamento, como experimento. Até mesmo como estímulo, uma vez que eu estava cultivando dentro de um apartamento na cidade. Por que uma pessoa não possa fazer o mesmo e colher seu próprio alimento?”, reflete. Allan é apaixonado por plantas e seu apartamento parece mais uma ‘floresta amazônica’. Então, cultivar cogumelos foi apenas um passo. “Resolvi separar um quarto, fiz todo o preparo, pois o cultivo precisa de temperatura e umidade controladas. E foi daí que a brincadeira começou a se tornar realidade”, conta.

O ator tem um hábito de exercícios diários e alimentação saudável. “Nessa quarentena, eu estudei muito o processo de atletas de alto rendimento, o tipo de alimentação que eles consomem e, sem sombra de dúvidas, a alimentação é fundamental. Existem muitos estudos sobre o corte de carne na dieta de grandes ultramaratonistas, grande partes deles, são veganos. Nesse período, eu comecei a me testar nas corridas, percorrendo cerca de 30/40km, o que exige um grande condicionamento. Tinham semanas que me alimentava de carne e outras cortava qualquer tipo de carne do cardápio, como fonte de estudos e pesquisas. Eu era a minha própria cobaia. E posso dizer com propriedade, a carne é pesada e o seu processo de digestão também. Comecei a observar que meu rendimento diminuía muito”, explica. Allan não é vegano, mas revela que, aos poucos, vem reduzindo o consumo de carne em sua dieta. “Prefiro cogumelos que é rico em proteínas e tantos outros nutrientes, tem digestão rápida, e é uma alimentação super saudável”, frisa.

Segundo a coordenadora do Núcleo de Alimentação, Saúde e Ambiente (Nasa) da Fiocruz, Wanessa Natividade Marinho, bons hábitos, como o consumo de alimentos saudáveis, a ingestão de quantidade de água adequada e exercício físico, auxiliam para o fortalecimento do sistema imune e, nos demais sistemas fisiológicos, faz-se necessário uma alimentação mais natural e variada, como sendo a base das refeições os alimentos in natura e minimamente processados. Para Allan, essa rotina saudável auxilia na manutenção da sua saúde física e mental, ainda mais em tempos de pandemia. “Estamos vivendo um processo Darwiniano – sobre a teoria das espécies, que esta sendo aplicado mais uma vez, de em tempos em tempos, como a própria história nos mostra. Nesse período, comecei a pensar que precisava me adaptar melhor ao meio, criando mais resistência, aumentando minha imunidade e cuidando do meu emocional, que quando desgastado acaba por diminuir sua imunidade”, revela.

Ele acredita que existem três pilares para a base da vida: alimentação, respiração e movimentação. “Se alimente bem, faça seus exercícios diários, e respire, cuidando da sua mente. Tenho certeza que com essa base equilibrada, dificilmente ficará doente ou com imunidade baixa. Não é uma garantia que se você pegar o Covid-19, não vá acontecer nada, mas a probabilidade de acontecer algo quando se tem uma imunidade alta é baixíssima, pois seu corpo esta blindado do que você melhor produziu. A mudança é mais simples do que a gente imagina”, conta.

A empreitada que começou dentro de um quarto em um apartamento cresceu, de maneira orgânica e sustentável, o que garante produtos frescos direto para os consumidores, seja em bandejas ou sacos de juta, uma das apostas da marca. “Nosso lema é: da nossa casa para a sua casa. A mesma mão que produz é a mão que entrega diretamente a você. Estamos trabalhando com foco na sustentabilidade. Venderemos de forma direta para o consumidor final. Os sacos de juta é a aposta e a base da nossa empresa e leva a experiência do cultivo e da colheita para a sua casa. Olha que legal, 100% orgânico e o saco inteiramente compostável”, diz.

Para Allan, criar cogumelos é uma alquimia. E sua sensibilidade para as artes o ajudou muito nesse processo de criação da Horta dos Cogumelos. “Sem sombra de dúvidas. Eu continuamente falava para mim mesmo nesse período: precisava recomeçar do zero. Criar cogumelos é uma arte. Eu li um livro no início da quarentena que me aguçou a sensibilidade que se chama ‘Mulheres que correm com os lobos’. Em um trecho ele fala muito da religião dos jardins. Cuidar de um jardim não somente representa o amor pela natureza, representa também a nossa psique selvagem, a nossa alma. É nesse jardim que registramos os sinais de doação de vida e de retirada. Temos o dom de plantar arrancar e enterrar. Essa passagem me inspirou a estar aqui hoje. As artes se misturam, mas no fundo, é uma coisa só”.

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No fim dessa conversa tínhamos que perguntar qual é a receita preferida do novo empreendedor com cogumelos. “Eu venho fazendo algumas, mas esses dias eu fiz um dos melhores pratos que eu provei feito por mim. Ele entrou no top1 do meu cardápio. Já comeu hiratake refogado aos 4 queijos na moranga? Prove, porque ficou maravilhoso”, recomenda.