Castorine, de ‘Elas por elas’, reflete sobre abordagem clichê de problema de autoimagem de pessoa gorda no audiovisual


No ar, na novela das seis da TV Globo, a atriz interpreta a jovem Yeda. Apesar do sucesso da personagem gorda empoderada, Yeda agora será complexada com a própria aparência. “Grande parte das vezes que as inseguranças com a autoimagem de pessoas gordas são abordadas, há a representação de um sofrimento muito grande. Não acho que a Yeda é infeliz. Ela pode – e vai – ficar um pouco maluca, mas é um processo coerente. Talvez, ela precise se bagunçar um pouco para se achar”, pontua

Yeda em "Elas por Elas", Castorine reflete sobre a abordagem de pessoas gordas no audiovisual brasileiro

*por Luísa Giraldo

A atriz Castorine conquistou o coração do público desde o início da trama da empoderada Yeda no remake de “Elas por Elas“, na TV Globo. Pouco abordada pelas novelas e séries, a trajetória confiante da personagem despertou elogios e reconhecimentos nas redes sociais sobre a autoaceitação e o empoderamento de mulheres gordas no audiovisual brasileiro. O breve relacionamento de Yeda com Aramis, interpretado pelo ator e influenciador digital Diego Cruz, também aguçou a curiosidade dos telespectadores ao abordar uma dupla faceta confiante-ansiosa feminina contemporânea e o controle feminino do relacionamento, semelhante ao próprio namoro da atriz. Desde dezembro, no entanto, a TV Globo optou por desconstruir a imagem empoderada da personagem e apostar no clichê dos problemas de imagem associados a corpos fora do tal “padrão”. Em entrevista exclusiva ao site, Castorine analisa a insistência da abordagem de problemas de autoimagem de pessoas gordas, as mudanças radicais que propôs para Yeda e as referências românticas dos anos 2000 na novela. 

Ela relembra que a “faceta de uma mulher muito empoderada e forte” foi privilegiada para a apresentação da personagem ao público – postura essa que conquistou a audiência em um primeiro momento. No entanto, ela reflete que, nas “bolhas de empoderamento” em que apenas o discurso do autoamor prevalece, a positividade tóxica também se faz presente. Isto é: o excesso de uma falsa confiança não condiz com a realidade.

Castorine comenta sobre os looks de Yeda, que cabem no seu corpo perfeitamente

Castorine comenta sobre os looks de Yeda, que cabem no seu corpo perfeitamente (Foto: Divulgação)

“O processo de autoaceitação não é um gráfico que apenas cresce. Quase tudo, como o trabalho de se aceitar e fazer o que quiser com o próprio corpo, vai e volta. Então, esta fase da personagem representa a realidade, algo que mexe comigo e que acabo trazendo para a minha vida – Castorine

Em contrapartida, Castorine avalia que a atual postura de Yeda se encaminha para a abordagem de problemas de autoimagem, tópico constantemente associado a papéis interpretados por pessoas gordas. A artista afirma que a personagem não deseja passar uma imagem de vitimismo aos amigos e à família por ser muito orgulhosa.

“Grande parte das vezes que as inseguranças com a autoimagem de pessoas gordas são abordadas, há a representação de um sofrimento tão grande que causa a pessoa infeliz. Não acho que a Yeda é infeliz. Ela pode – e vai – ficar um pouco maluca, mas é um processo coerente. Talvez, ela precise se bagunçar um pouco para se achar”, avalia.

A atriz Castorine fala sobre a parceria dela com o artista Diego Cruz, que foi par romântico de sua personagem em "Elas por Elas"

Castorine fala sobre a parceria com Diego Cruz, que foi par romântico de sua personagem em “Elas por Elas” (Foto: Divulgação)

A atriz acredita, por outro lado, que o namoro entre Aramis e Yeda não deu certo por conta da autossabotagem da personagem e relaciona a situação com suas experiências românticas pessoais. “Assim que recebi o texto, lembro de ter pensado que esse afastamento aconteceu no início do meu namoro com quando tentei me afastar do Victor Hugo. Acabei sendo otária, porque tinha medo de sair como otária. É lógico que isso é uma insegurança voltada para o corpo. Por isso, a Yeda fica meio respaldada nesta nova fase. Ela retrocede daquela imagem de uma menina super bem resolvida e cai na ideia que as pessoas estão contra ela por ser gorda”.

Ainda juntos, as cenas do advogado com a personagem repercutiram pelo tom cômico inserido no formato romântico, além de referências inspiradas em comédias românticas dos anos 2000. Castorine admitiu adorar os clássicos românticos da Sessão da Tarde. O rapaz tinha uma postura apaixonada, paciente e cordial com Yeda, o que fez com que os telespectadores se frustrassem com a separação do casal.

“Entendo que a cena do primeiro beijo deles foi muito clássica dos anos 2000. Foi a primeira vez que senti que o romance com mulheres gordas foi abordado de uma maneira diferente. Ao mesmo tempo, acho que é importante falarmos sobre o lugar de poder na relação dela com o Aramis: ela comanda. O homem ter muito controle na relação é uma ideia que tem mudado muito. Por isso, adoro a Yeda no lugar de deixá-lo inseguro. Sei que as pessoas vão ficar com ódio dela, mas que aceitem que é o que está acontecendo na nossa vida”, comenta.

Castorine fala sobre o empoderamento das mulheres em relacionamentos interpessoais amorosos

Castorine fala sobre o empoderamento das mulheres em relacionamentos interpessoais amorosos (Foto: Divulgação)

Sobre a dinâmica dos atores fora dos sets de filmagem: a atriz descreve que desenvolveu uma relação de intensa parceria com Diego durante as gravações. A partir dos primeiros contatos, ela afirmou desejar levar o ator para a vida toda e recordou ter amado contracenar como par romântico do galã. A dupla criava características e comportamentos próprios para o casal, hábito que se deu pela origem em comum deles: o teatro.

Atualmente, a personagem está se envolvendo com o jovem Edu, interpretado por Luís Navarro.

Toques pessoais de Castorine em Yeda

Segundo a atriz, uma das diretoras do remake de “Elas por Elas”, Amora Mautner, deu liberdade para que os artistas trouxessem contribuições de fora do set para a construção do personagem. Castorine propôs, então, uma mudança radical na personalidade da Yeda: de uma jovem meiga para uma mulher gorda confiante.

Trouxe uma personalidade ainda mais forte para a Yeda com as minhas ferramentas. Lembro que, quando contracenei pela primeira vez, várias pessoas disseram que haviam imaginado a personagem como uma menina mais doce, sonhadora e com uma personalidade submissa. E eu não ser submissa. Algo que gostei de fazer foi trazer a Yeda para um lugar mais forte, por mais que isso incomode algumas pessoas por ela ser uma mulher gorda chamativa. Apesar do incômodo, acho importante estar fazendo esse trabalho assim – Castorine 

Castorine revela sobre a mudança que propôs a personagem Yeda, em "Elas por Elas"

Castorine revela sobre a mudança que propôs a personagem Yeda, em “Elas por Elas” (Fotos: Divulgação)

Ainda no tópico do estilo “chamativo” de Yeda, a artista aproveita para ressaltar a adoração pelos figurinos cheios de personalidade que usa. Ela disse admirar a criatividade da equipe de figurino, que torna roupas formais de escritório e uniformes em looks cheios de vida com cores vibrantes.

É muito difícil vestir um figurino e dizer que não estou confortável com ele no meu corpo, o que é algo muito bom. Quando vou ao shopping, por exemplo, é uma bosta para achar roupas [que me servem bem]. Ao chegar no trabalho, experimento as roupas e todas cabem. Isso é um alívio. E eu gosto muito das roupas também – Castorine