*Por Simone Gondim
A revelação, pelo site The Intercept Brasil, das imagens da audiência do caso Mariana Ferrer, nas quais a jovem é humilhada pelo advogado de defesa do réu, sem que o juiz ou o promotor responsável tomem providências para impedir, chama a atenção para os vários tipos de violência sofridos por vítimas de estupro. Além do abuso sexual em si, essas pessoas – principalmente quando se trata de mulheres – são alvo do julgamento de parte da sociedade, que tende a culpá-las pela agressão. Muitas dessas histórias terríveis acabam virando inspiração para filmes ou sendo mostradas em documentários, que escancaram o machismo estrutural em diferentes lugares. O site HT lista algumas produções que tratam desse assunto, mas faz um alerta de gatilho: caso você não saiba se irá lidar bem com o tema, melhor interromper a leitura.
Em “Acusados”, de 1988, Jodie Foster ganhou seu primeiro Oscar de Melhor Atriz ao interpretar a garçonete Sarah Tobias, estuprada por três homens em um bar, diante de várias testemunhas que nada fazem ou estimulam os agressores. Sarah e a promotora Kathryn Murphy (Kelly McGillis) decidem processar não apenas os estupradores, mas todos os que assistiram e nada fizeram para impedir o crime. Enquanto batalha para conseguir que os envolvidos sejam punidos, a garçonete enfrenta o desrespeito e o escárnio da população. A história é inspirada no que aconteceu com Cheryl Araujo, que sofreu estupro coletivo dentro de uma taberna nos Estados Unidos, em 1983. O julgamento dos criminosos teve ampla cobertura da mídia, na época, e Cheryl teve a reputação atacada inúmeras vezes. Os comentários eram essencialmente machistas.
O documentário “Rede de abuso” conta a agressão sofrida por uma menor de idade em uma pequena cidade de Ohio, nos Estados Unidos, em 2012. Ela estava bêbada e não se lembrava do que havia acontecido. Quando jogadores do time de futebol americano The Steubenville Big Red, adorados pela comunidade local, são apontados como suspeitos, o comportamento da jovem estuprada é questionado a todo o momento. Quem ajuda a solucionar o caso é a blogueira Alexandria Goddard, que usa as redes sociais para fazer uma extensa pesquisa sobre os acusados. O filme expõe a existência de uma cultura do estupro, da qual fazem parte homens e mulheres, independentemente da idade.
Já “Inacreditável”, minissérie em oito episódios, acompanha a adolescente Marie Adler (Kaitlyn Dever), que denuncia um estupro – um estranho mascarado invadiu seu apartamento e a atacou durante várias horas, tirando fotos dela em situação vulnerável. Antes de sair, o criminoso força Marie a tomar banho e leva os lençóis da cama, eliminando provas. Pressionada pelos detetives com quem falou, a jovem retira a queixa e depois se vê envolvida em uma acusação de falsa denúncia, que pode levá-la a até um ano de prisão. A história é baseada um caso real, de 2008, contado em uma reportagem vencedora do Prêmio Pulitzer, em 2015. A matéria também rendeu o livro “Falsa acusação – Uma história verdadeira”.
Outro documentário sobre violência sexual é “Audrie & Daisy”, que aborda os estupros de Audrie Pott e Daisy Coleman, (na época, elas tinham 15 e 14 anos, respectivamente). As duas foram agredidas por vários adolescentes que julgavam serem seus amigos – um deles era filho de uma família influente da cidade de Maryville, no Missouri (EUA). Após denunciarem o crime, as jovens sofreram ataques de pessoas da comunidade em que viviam, com a casa da família de Daisy sendo incendiada e fotos do estupro de Audrie espalhadas na internet. O fim de ambas as meninas foi trágico: Audrie se enforcou dias depois do crime, em 2012, e Daisy cometeu suicídio em 2020.
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