Carol Alves vive justiceira na Wolo TV, dedicada à narrativa negra: Não precisamos esperar para contar nossa história


“Punho Negro” está marcada para estrear na Wolo TV em abril e exibirá todos os episódios da primeira temporada da série. A atriz ressalta a importância do diálogo do seriado com o público e o impacto que ele gera tanto no meio audiovisual como na sociedade: “São pautas que interessam a todos e nós queremos que sejam debatidas”. Com a entrada no streaming, Carol fala da necessidade de se criar estruturas que sustentem a produção de conteúdo negro no Brasil: “O ‘aquilombamento’, esse acolhimento, é muito importante para a gente resistir”, pontua

Carol Alves vive justiceira na Wolo TV, dedicada à narrativa negra: Não precisamos esperar para contar nossa história

*Com Bell Magalhães

Da Bahia para o Brasil, Carol Alves chega no próximo mês às telas como a estrela de “Punho Negro”, próxima série da Wolo TV, e que explora a representatividade negra no mundo dos super-heróis. A plataforma é o primeiro serviço streaming afro-brasileiro, propõe a exibição de produtos dedicados às narrativas negras, contados e produzidos pelo olhar e vivência de quem os protagoniza. Criada pelo ator e diretor angolano Licínio Januário em parceria com o brasileiro Leandro Lemos, o  serviço estreou no Brasil com a série “Casa de Vó“, com Margareth Menezes, Rincon Sapiência e Johnny Klein no elenco. A produção contou com uma média de 60 funcionários, dos quais mais de 90% eram negros – algo que infelizmente ainda não é comum no meio audiovisual. Além delas, a plataforma já anunciou a entrada de mais três conteúdos: “As Aventuras de Amí“, voltada para o público infantojuvenil, “Malandragem” e “Punho Negro“, que logo somarão ao catálogo do serviço.

Carol Alves vive super-heroína no seriado "Punho Negro". (Divulgação)

Carol Alves vive super-heroína no seriado “Punho Negro”. (Divulgação)

Punho Negro” conta a história da ‘primeira super-heroína negra do Brasil’. Ambientada na cidade de Salvador e com a realização da produtora independente Êpa Filmes, a trama narra a vida de Tereza, que equilibra a vida comum que tem enquanto mulher e mãe e a justiceira Punho Negro, que combate o mal com seu superpoder: a força. O poder da protagonista é a primeira etapa da desconstrução que ocorre ao longo da série: “Apesar do físico da Tereza ser magro, ela é muito forte, em todos os sentidos. Mas a força nem sempre é sinônimo de virtude, por essa razão levantamos a discussão sobre o poder dela. Existe muito o estereótipo da mulher negra ter que aguentar tudo, ser inabalável, e por isso nós tentamos abordar essa dualidade”, frisa Carol.

Apesar do tema ser algo comum no mainstream, a série também critica como a ficção aborda o mundo dos heróis de ação, que é voltado para o público de maioria branca e masculina. Sobre o impacto da heroína, a atriz conta que é bem maior que a complexidade do papel fará várias mulheres se identificarem com a personagem: “Dentro desse universo que ela habita, ser super-heroína é só uma profissão como qualquer outra. Então ela também tem que fazer coisas que a gente faz no nosso dia a dia, que é nos dividir entre casa, trabalho, vida pessoal, e Tereza passa por todas essas questões”.

Carol Alves como Punho Negro: "Existe muito o estereótipo da mulher negra ter que aguentar tudo, ser inabalável, e por isso nós tentamos abordar essa dualidade”. (Divulgação)

Carol Alves como Punho Negro: “Existe muito o estereótipo da mulher negra ter que aguentar tudo, ser inabalável, e por isso nós tentamos abordar essa dualidade”. (Divulgação)

Com essa gama de produções ganhando espaço no público, a representatividade é vista por outro ângulo. A necessidade agora é de ganhar espaços que vão além da atuação, e entrar na produção e direção desses produtos. “Antes falávamos sobre a importância da representatividade e identidade, então hoje fica ainda mais forte a necessidade de as pessoas negras criarem as suas próprias narrativas”, no que acrescenta: “Não é só ter visibilidade de estar participando de alguma produção de fora, mas de nós apresentarmos as nossas histórias do nosso ponto de vista. As pessoas já entenderam que representatividade é importante, então agora queremos criar as nossas histórias a partir da vivência que temos”. 

Mais que uma plataforma, a Wolo TV é um sinônimo de união. O serviço vai além da proposta do streaming e está virando uma grande rede de apoio. Os profissionais podem transitar entre outras produções, contribuindo para criação de mais projetos e fortalecendo a construção de uma base negra no audiovisual. Milena Anjos, produtora de “Punho Negro”, está participando do roteiro de “Casa de Vó”, por exemplo: “Criar essa rede de apoio é muito importante. O ‘aquilombamento’, que é essa conversa e o apoio, é muito importante para a gente resistir. A Wolo, como realizadora, viabiliza não só a representação, mas a produção e o protagonismo narrativo e imagético nas telas, fazendo com que as negras cresçam para além da produção independente”, e continua: “São pautas que interessam a todos e nós queremos que sejam e devem ser debatidas”.

“Não é só ter visibilidade de estar participando de alguma produção de fora, mas de nós apresentarmos as nossas histórias do nosso ponto de vista”. (Divulgação)

“Não é só ter visibilidade de estar participando de alguma produção de fora, mas de nós apresentarmos as nossas histórias do nosso ponto de vista”. (Divulgação)

Apesar de ganhar o prêmio de Melhor Ideia Original no Rio Webfest 2018, a atriz conta que a projeção não foi tão grande. Carol conta que espera que a entrada no pay-per-view incorpore o público dos outros programas: “Tivemos uma mídia espontânea aqui na cidade, mas não foi expressivo. Com a Wolo nós teremos a oportunidade de entrar em circuitos de outros estados, nos fortalecendo enquanto produtores negros do audiovisual”. Mas essa realidade está prestes a mudar. Com a entrada da empresa de telefonia Oi como patrocinadora, a atriz conta o que espera para a segunda temporada do seriado: “Com o patrocínio, teremos mais 5 episódios carregados de muita força feminina. Começamos de forma independente, na guerrilha, então não pudemos realizar muito do que planejamos para a série por falta de recursos. Agora temos a oportunidade de construir com mais estrutura, e poderemos explorar o que não conseguimos anteriormente, como lutas e efeitos, elevando “Punho Negro” a outro nível. Estamos animados!”. Nós também, Carol!

"Começamos de forma independente, na guerrilha. Agora temos a oportunidade de construir com mais estrutura, e poderemos explorar o que não conseguimos anteriormente". (Divulgação)

“Começamos de forma independente, na guerrilha. Agora temos a oportunidade de construir com mais estrutura, e poderemos explorar o que não conseguimos anteriormente”. (Divulgação)

Quais serão os próximos planos de Carol? Além do seriado baiano, a atriz pretende ampliar a gama de produções de protagonismo negro, dessa vez com uma obra de autoria própria chamada “O Diário de Um Crespo”. A próxima empreitada está em fase de concepção, mas a ideia é criar um ambiente lúdico que permeia a vivência de mulheres em uma jornada de autoconhecimento por meio de seus cabelos crespos. E a atriz já adiantou: “O mote é uma pergunta que já me fiz: ‘e se o meu cabelo falasse?’. A proposta da minissérie é contar as aventuras de uma jovem mulher e seu cabelo falante. Ela vai se encontrar dentro do próprio processo de descobrir o próprio cabelo”.