*Por Brunna Condini
O Big Brother Brasil 21 segue colocando assuntos na roda. E mais uma vez, a rapper Karol Conká está envolvida em uma polêmica. Desta vez, foi uma opinião a respeito ‘da branquitude’ da pele de Michael Jackson (1958-2007). Na verdade, a cantora em papo com Fiuk e outros participantes afirmou que o cantor teve vitiligo por “querer ser branco”, ou seja, de alguma forma foi portador da doença por ser preconceituoso com a cor da sua pele. “Teve vitiligo, foi emocional. Ele queria ficar igual ao Fiuk e ficou feio, cara. Ele era lindo, ficou com a pele mais branca que a sua”, disse a cantora ao Fiuk. “Eu nunca mais vi nenhuma outra pessoa ter um vitiligo que a mancha pega o corpo inteiro”. E completou. “No colégio, eu usava um moletom escrito ‘negro é lindo’ e falavam assim: ‘Se fosse lindo Michael não tinha ficado branco'”, afirmou Karol, que tem muitas opiniões sobre tudo ou quase tudo. Pelo menos é o que tem demonstrado dentro do reality. No entanto, seu desconhecimento acerca da condição característica causou comoção na internet.
Michael Jackson já havia falado publicamente sobre o tipo raro de vitiligo que tratava, onde quase todo o corpo perde a pigmentação. O dermatologista Igor Manhães explica o vitiligo. “É uma doença de pele de causa autoimune. Ou seja, a pessoa tem um mecanismo em que as próprias células de defesa atacam outras do corpo, nesse caso, os melanócitos produtores da melanina, pigmento que dá cor a pele. Como toda doença autoimune, também tem influência emocional. Em períodos de estresse cursam com piora e aumento das lesões claras do paciente ou aparecimento de novas. Dessa forma, o vitiligo piora com estresse mas esse não pode ser infligido propositalmente a uma pessoa”, destaca o especialista. “Os tratamentos podem ser realizados com corticóides tópicos, orais ou injetáveis e fototerapia, onde o paciente é exposto a luz em cabines próprias estimulando a repigmentação das lesões de pele. Em pouquíssimos casos, a extensão das lesões pode comprometer área maior que da pele sã, e para alguns pacientes pode ser ofertada a possibilidade de clarear o restante da pele que mantinha a cor original. Lembro, que são pouquíssimas essas situações e essa conduta por ser muito polêmica. No caso do Michael Jackson, é sabido que ele vivia sob grande pressão emocional e não se sabe se realmente optou por tratar seu vitiligo ou deixou a doença progredir e tentou clarear a pele. Assunto muito controverso, levantado recentemente na mídia, não se pode dizer que o cantor queria ‘se tornar branco’ mas o vitiligo foi uma doença que o afligia e não podemos afirmar quais foram as condutas terapêuticas adotadas quando ele era vivo”.
A conta oficial do ídolo pop no Instagram, coincidentemente ou não, se pronunciou após as declarações de Karol no Big Brother Brasil: “‘Sou um negro americano e tenho orgulho de ser um negro americano”, diz a legenda do post. “Michael Jackson era um verdadeiro pioneiro e ativista. Por meio de sua música e curtas, ele compartilhou a mensagem de amor, paz e igualdade”, escreveu sua equipe. O post celebra o mês da história negra nos Estados Unidos.
O modelo e músico Vitor Maccla se pronunciou em seu Instagram sobre a fala da rapper em rede nacional: “Alô @karolconka o Michel Jackson não quis ficar todo branco. Na verdade, ele tinha um tipo raro de vitiligo que é o vitiligo universal. Desde criança sofri preconceito por ter vitiligo, e uma das frases que mais ouvia era a de que eu queria ficar branco como o Michael. Este tipo de fala produz narrativas preconceituosas e atacam o bem-estar de um grande número de pessoas que convivem com vitiligo. Quem tem vitiligo não quer mudar sua origem racial. O vitiligo não muda a identidade racial de ninguém”.
Em conversa com Vitor o site conseguiu esclarecer melhor o tema. Em seu post você reforça o desconhecimento e preconceito acerca da condição. Qual o prejuízo de uma fala como a da Karol Conká para tantos telespectadores? “Esta fala fere as narrativas de afirmação racial que o próprio Michael Jackson já deu. Inclusive em entrevista no programa da Oprah Winfrey. Acontece que ele desenvolveu um tipo raro de vitiligo o vitiligo universal. Sim! Existem vários tipos de vitiligo: como o focal, segmentar, mucosal , acrofacial , comum e o universal. O vitiligo universal é considerado raro e acomete cerca de 70 a 80% do corpo da pessoa, ausentando na maioria dos casos a melanina por completo da pele do indivíduo. Afirmar o que ela disse categoricamente em um programa de rede nacional ofendeu toda uma comunidade de pessoas que vivem com vitiligo no Brasil”, desabafa Vitor.
E acrescenta: “Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia, quase um milhão de pessoas só no Brasil convivem com o vitiligo. A doença acomete 0,5% de pessoas em todo o mundo. No mundo comemora-se no dia 25 de junho, data de falecimento do Michael, o Dia Mundial de Conscientização do Vitiligo. Michael é considerado o ícone do vitiligo por toda comunidade. Colocar esse discurso de que ele não assumia sua cor, sua raça, é construir uma narrativa infundada sobre o seu vitiligo e sua negritude. Falas como essa da Karol me remetem à minha infância na década de 1990, onde o preconceito era muito forte. Lembro que a maioria dos bullying que eu sofria eram associados a piadinhas do tipo: “Você vai ficar que nem o Michael Jackson!”. É preciso lembrar também que toda a comunidade do vitiligo reagiu prontamente nas redes sociais contra essa fala. Todos nós nos sentimos atacados pela desinformação. A condição característica é algo que ainda gera muito preconceito no cotidiano de quem a vive. Muitas pessoas têm inúmeras dificuldades em conseguir emprego, se relacionar socialmente. Então, tecer narrativas de empoderamento sobre o vitiligo é cada vez mais necessário”.
O modelo levanta ainda uma reflexão sobre o tipo de influência que as figuras públicas podem ou devem exercer quando participam de uma atração com esse alcance: “Essa tônica de trazer ‘influenciadores’ tem sido prática recorrente no programa, mas nos coloca frente aos seguintes questionamentos: quem são essas pessoas que nós seguimos na internet? Quem são elas de fato na vida real? O Big Brother é a vida real? O fato é que tudo que se fala lá dentro pode ecoar de um modo muito maior. No atual sistema de informação em que vivemos, a mídia constrói e tece narrativas com uma velocidade muito maior do que em outros tempos. A responsabilidade do que se fala lá dentro deve ser maior, bem como o cuidado que o programa tem que ter em desenvolver as suas edições. E também em relação ao cuidado da direção do programa com a saúde mental dos participantes que ficam sujeitos à tamanha exposição”.
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