Andréia Horta vive prostituta em ‘Colônia’: “Limpava um cômodo inteiro com um pano e um balde com água suja”


Com estreia marcada para dia 25, ‘Colônia’ é uma série ficcional baseada na história do Hospital Colônia de Barbacena, Minas Gerais, que foi palco de atrocidades, internações infundadas e mortes de pessoas vítimas da sociedade. Estrelada por Fernanda Marques, no papel da jovem Elisa, a série tem no elenco atores como Andréia Horta, no papel de uma prostituta, Augusto Madeira, Naruna Costa, Bukassa Kabengele, Arlindo Lopes, Rejane Faria, além de participações especiais de Stephanie de Jongh, Rafaela Mandelli, Christian Malheiros, Eduardo Moscovis, Marat Descartes e Nicola Siri, entre outros

*Por Bell Magalhães

Revolucionando o formato de seriados brasileiros, estreia no Canal Brasil, no próximo dia 25, a série ‘Colônia’, criada e dirigida por André Ristum, que também assina o roteiro ao lado de Marco Dutra e Rita Gloria Curvo. A produção é inspirada no livro ‘Holocausto Brasileiro’, de Daniela Arbex, que conta a história do Hospital Colônia de Barbacena, em Minas Gerais, e de seus internos durante os 117 anos de atividade.

Explorando o real com o ficcional, a história gira em torno de Elisa, vivida por Fernanda Marques, uma jovem de 20 anos que está grávida e foi enviada para o local pelo pai, Júlio, interpretado por Henrique Schafer, que fica enfurecido ao descobrir que a filha arruinara seus projetos de casá-la com um rico vizinho de fazendas. Ao chegar na Colônia, Elisa descobre que, assim como ela, muitas outras pessoas sem nenhum tipo de diagnóstico de doença mental estão internadas, como a prostituta Valeska, de Andréia Horta, o homossexual Gilberto, de Arlindo Lopes, e dona Wanda, de Rejane Faria, enviados para o hospital por serem considerados incômodos para a sociedade. 

A trama conta a história de Elisa, vivida por Fernanda Marques, uma jovem de 20 anos, grávida e que foi enviada para o local pelo pai (Foto: Hélcio Alemão Nagamine)

A trama conta a história de Elisa, vivida por Fernanda Marques, uma jovem de 20 anos que está grávida e foi enviada para o local pelo pai (Foto: Hélcio Alemão Nagamine)

Andréia Horta, que está no ar na telinha em Império, dá vida à Valeska, conta que parte do trabalho consistia em realizar serviços de limpezas nos espaços de atuação, passar frio e fome, tudo para poder se aproximar da realidade e que, segundo ela, contribuíram para a entrega de uma atuação forte e sensível, apesar da dor e desespero da personagem: “Limpei um cômodo inteiro com um pano e um balde com água suja. Sujei as unhas, dentes, desgrenhei e ensebei os cabelos. A falta de recursos, como a ausência de banheiro, o figurino com pouca roupa e que não era preparado para o inverno, eram problemas vividos todos os dias pelos pacientes. Tudo isso abordado com sensibilidade e que fez com que criássemos essa delicadeza na atuação”, conta. 

Andréia: “A falta de recursos, como a ausência de banheiro e o uso de pouca roupa, eram problemas vividos todos os dias pelos pacientes” (Foto: Hélcio Alemão Nagamine)

Filmada em 2019 e com locações entre Campinas e São Paulo, a série marca a primeira recriação ficcional do lugar que foi palco de mais de 60 mil mortes de vítimas de maus tratos, eletrochoque, tortura e abandono. Segundo Ristum, as questões humanas e a necessidade de uma revisitação histórica que esclarecesse os fatos que ocorriam no hospital foram os grandes motores para a criação da série. “Buscamos retratar a realidade de diversos personagens que representam os grupos sociais que foram vítimas dessa violência ao longo de décadas de funcionamento. O local se tornou o destino de pessoas que eram execradas pela sociedade da época, como alcoólatras, homossexuais, meninas grávidas, vítimas de estupro e afins. Escolhemos contar as histórias de algumas pessoas para reforçar de onde vem a violência, como a instituição era usada e como a sociedade conservadora usava esse aparato”. 

Ristum: “Buscamos retratar a realidade de diversos personagens que representam os grupos sociais que foram vítimas dessa violência” (Foto: Hélcio Alemão Nagamine)

Para Fernanda Marques, a história de sua personagem a fez criar uma ligação instantânea com ela. A atriz encontrou semelhanças na trajetória de Elisa na própria família e fala sobre o preconceito ainda atual com pessoas que sofrem com transtornos psíquicos. “Na minha família tem histórico de doenças mentais, mas ninguém fala abertamente, porque ainda é um tabu para a sociedade. Além disso, o casamento arranjado me tocou muito, pois a minha avó também sofreu com essa falta de liberdade de escolha. Elisa era uma menina que tinha um casamento arranjado, perde a virgindade antes do casamento e é mandada para lá pelo pai. Meu desejo é contar a história dessas mulheres que sofreram algo parecido no meio dessa violência”, conta. Rejane Farias, que interpreta Wanda, falou das descobertas que fez ao longo da preparação para viver o papel: “Quando fiz o teste para ‘Colônia’, fiquei interessada pela história ser grave, drástica e contemporânea. Nesse percurso, descobri que a minha bisavó Antonia passou pelo Hospital Colônia. Pensamos que o que aconteceu lá pertence a um passado distante, mas não é, e só sabemos parte da história. Tudo isso foi criando uma teia de interesse que foi me despertando para construir a minha personagem”.  

Fernanda: “Meu desejo é contar a história dessas mulheres que sofreram algo parecido no meio dessa violência” (Foto: Hélcio Alemão Nagamine)

O ator Augusto Madeira, que vive um enfermeiro na série, contou que por pouco passou a oportunidade para frente: “Até quase recusei. porque já tinha feito um enfermeiro em ‘Nise, no Coração da Loucura’, mas a história é totalmente diferente. Em ‘Nise’ existe redenção, mas em ‘Colônia’, não, fora o esquecimento e a solidão, que também atinge os funcionários que trabalhavam no hospital. As pessoas vão perdendo a identidade e os enfermeiros são os aplicadores dessas penas”. Segundo o ator Bukassa Kabengele, ‘‘Colônia’ tem esse lugar de apagamento constante e sistemático da história brasileira’: “Vemos a questão do manicômio e da doença, mas a forma do poder e a estrutura desse lugar mostra quem está no poder e os excluídos dessa sociedade que investe na morte de alguns. Ela é uma produção que abraça esse grande desafio de uma história invisibilizada, algo que é muito comum por aqui, e a narrativa conta de uma forma muito sensível de como se fala dos excluídos, agressores e tem uma ponte direta com o que estamos vivendo hoje”.

Bukassa: “A forma do poder e a estrutura desse lugar mostra quem está no poder e os excluídos dessa sociedade que investe na morte de alguns” (Foto: Hélcio Alemão Nagamine)

O hospital foi inaugurado em 12 de outubro de 1903 e construído em terras da Fazenda da Caveira, propriedade que diziam pertencer ao delator da Inconfidência Joaquim Silvério dos Reis (1756-1792). O município receberia o epíteto de “Cidade dos Loucos”. O trem que carregava os internos para lá foi apelidado de “Trem de Doido” pelo escritor Guimarães Rosa (1908-1967). Com capacidade para 200 leitos, o hospital recebeu cerca de 5 mil pessoas nos anos 60, fazendo com que os pacientes fossem mantidos em condições sub-humanas. Faltavam leitos, roupas, proteção contra o frio, água e comida. Havia outras formas de tortura, como o eletrochoque, utilizado sem finalidade terapêutica, e os banhos frios. Com o objetivo de criar uma atmosfera quase idêntica ao hospital original, o preparador de elenco Luiz Mario Vicente fez uma imersão no modo de vida dos internados.

Na data da estreia, os 10 episódios que compõem a série estarão disponíveis nos serviços de streaming Canais Globo e Globoplay e o primeiro episódio estará disponível para não assinantes por sete dias. “Colônia” é uma produção de Sombumbo e Tc Filmes, em coprodução com a Gullane, produzida por André Ristum e Rodrigo Castellar, e financiada através do Fundo Setorial do Audiovisual. Estrelada por Fernanda Marques, no papel da jovem Elisa, a série tem no elenco atores como Andréia Horta, Augusto Madeira, Naruna Costa, Bukassa Kabengele, Arlindo Lopes, Rejane Faria, além de participações especiais de Stephanie de Jongh, Rafaela Mandelli, Christian Malheiros, Eduardo Moscovis, Marat Descartes e Nicola Siri, entre outros.

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