Apesar de já ter acabado há mais de uma semana, “Verdades Secretas” se provou um fenômeno televisivo tão grande que até hoje o público tem usado suas frases, referências e debatido os finais dos personagens. E não é só o pessoal de casa que ainda lembra a mini-novela: quem também se entregou à saudades foi Mauro Mendonça Filho, o diretor da trama, que na madrugada de hoje publicou um texto em seu Facebook agradecendo ao elenco e à equipe, enquanto rasgou elogios a todos os envolvidos na produção da Globo.
“Em todo trabalho que faço, é tradição render homenagens no final. ‘Verdades Secretas’ terminou faz uma semana. Fiz uma mudança, uma viagem e não deu tempo para nada. Mesmo tardiamente, gostaria de abrir os trabalhos”, explicou Mauro. “Em primeiro lugar, falando do elenco. Meu Deus, que elenco! Confesso que quando olhavam a planilha, antes de gravar, muita gente torcia o nariz, com medo. Mas o tempo provou que a mistura de medalhões com atores em desenvolvimento, gratas surpresas e ótimas novidades foi muito acertada. Não que os meninos não estivessem bem, mas as fantásticas performances das meninas, aliadas à beleza estonteante, ao universo da moda e à função das mulheres na trama fez da novela uma verdadeira ode ao universo feminino, ao contrário do que tentaram alardear no começo”, alfinetou.
O diretor então começou a elogiar – quase – todos os integrantes da vasta equipe de atores, escrevendo: “Um elenco que conta com Ana Lúcia Torre, meu Deus que atriz. Que sensibilidade, que verdade, que pessoa maravilhosa. Eva Wilma, um monstro, numa performance difícil, alcoolismo na terceira idade. E a Marieta Severo? Eu fico com a sensação de que ninguém faz antagonista melhor que a Marieta. E eu não sei nem dizer o porquê, já que ela é do bem, uma dama, totalmente fora do circuito da canalhice. É talento, mesmo, observação. O final dela olhando pra câmera e falando ‘Serve’ foi ontológico. O que era o Giane (Reynaldo Gianecchini) nesse papel? Nunca, ninguém o viu no tom que ele imprimiu ao Anthony. Walcyr (Carrasco, autor) já tinha ficado impressionado com ele na leitura. Resolvemos ir no caminho do psicopata leve (nem todo psicopata é assassino, às vezes é só um cérebro egoístão, tem muito no mundo dos (das) modelos). Ele arrebentou. Fernando Eiras é um baita ator, que eu já queria trabalhar há muito tempo. Entrou no segundo tempo, pra marcar só golaço”.
“E a gracinha da Agatha Moreira. A gente chamava ela de xodó. Seu jeito lesada/engraçada, na verdade, só esconde alguém determinado, lutador, que não está com a vida ganha e que tem uma brilhante carreira de estrela pela frente. Além de ser uma gata, linda. Ela foi a mais rock’n’roll do elenco, o que era crucial pra gente”, elogiou o diretor.
Sobre o casal mais divertido da trama, Mauro ainda comentou: “Quem também brilhou na inicialmente ‘polêmica’ (not!) agência de modelos foi Rainer Cadete. Ele tinha tanta vontade de brilhar que tivemos até que regravar umas coisas. Mas quando ele achou o misto de exuberância com sensibilidade para o personagem mostrou que tem muito talento. Sua parceira, Dida Camero também foi um destaque. Teve uma cena que ela chorava que nem criança, que fiquei louco”.
Mauro não deixou de citar a importância de abordar a juventude, através das modelos e do núcleo do colégio, de uma forma mais real e menos entregue aos clichês e estereótipos comuns. “Merece destaque também Yasmin Brunet, que mostrou que tem um potencial de heroína romântica forte, uma alma profunda, sensibilidade. Além de ser estonteamente linda. Yasmin, mete bronca, não desista, babe! Raphael Sander aproveitou bem sua oportunidade, assim como Rhaisa Batista. Menção também para Jéssica Córes, Christian Villegas e Pedro Gabriel Tonini. Teve um crítico que falou que a novela trouxe um legado de falar de adolescentes de uma forma menos paternalista, mostrando um pouco mais a realidade como ela é. Fiquei muito feliz com esse reconhecimento. Era uma forte preocupação minha e do Walcyr. A gente começou a trabalhar com os jovens três meses antes do início das gravações. Eu sempre dizia pra eles que juventude e rock’n’roll tem que ter um tom de ameaça. Não pode ser muito família, senão não é real. E trabalhamos isso”.
Mauro continuou: “Acho que o Gabriel Leone, junto com a Agatha e outros, encampou muito bem esse papel. Gabriel foi adotado pela gente desde o início dos trabalhos. Muito bonito, sensível, foi crucial pra contar a história central, junto com a Angel. Tem um talento enorme. Giuliano Laffayette é outro. Bella Piero, vamos ouvir falar muito nessa menina ainda. Mariana Molina, Raphael Ghanem que é um excelente comediante e principalmente, Felipe Flaitt Hintze, com sua composição sentimental firme do menino gordo, carente, que sofre bullying, mas que se revelou meio esquisito. Menção para o pessoal do colégio, Yaçanã Martins, Kacau Fontabely, Joao Cunha e destaque total para dois atores que não consigo deixar de trabalhar de jeito nenhum, os maravilhosos Bel Kutner, talentosa, a única que viu quem era Angel desde o começo, e Genésio de Barros, um atorzaço!”.
Voltando aos casais improváveis, Mauro Mendonça Filho citou o incrível final de Bruno e Sam: “Quem arrebentou também foi João Vitor Silva, fazendo o menino que se vicia em cocaína. Eu já ví um adolescente em cliníca de reabilitação e é de partir o coração. João fez muito bem o menino romântico perdendo a virgindade e o viciado. Tem uma carreira longa pela frente, esqueçam o Pedrinho, ‘pelamordedios’. Felipe de Carolis, quando achou a sensibilidade do personagem, principalmente, no amor com o personagem do João Vítor, fez um trabalho muito bom”.
“Guilhermina Guinle fez uma das suas performances mais sensíveis na TV e está cada vez mais bonita. Adriano Toloza também aproveitou bem sua oportunidade. Menções para Sylbeth Soriano e Werles Pajero“, prosseguiu.
O vilão que conseguiu dividir o público entre o ódio mortal e a atração foi um dos principais destaques dessa grande declaração. “Rodrigo Lombardi foi o protagonista masculino que todo diretor sonha em ter. Todas as funções de macho alfa que o personagem precisava estavam lá, muito embora seja uma pessoa ultra-sensível, nada parecido com o Alex. E ele está muito bonito, em forma, a mulherada ficou doida. Eu pedi pra ele achar uma doença. Uma doença de alguém que pode ter tudo, mas que falta sempre alguma coisa. Precisávamo criar a obsessão dele, pela menina. E claro, pedi para ler ‘Lolita’ (de Vladimir Nabokov). Eu adorava a vulnerabilidade dele diante da Angel, era perfeito. Sabia que iam adorar o final dele ser trucidado e segurei isso a sete chaves. Deu certo”.
De acordo com o diretor, a grata surpresa do desenvolvimento de Grazi Massafera como atriz não foi nenhuma novidade para ele. “Grazi Massafera… falar mais o quê? Se foi surpresa a performance dela pra todo mundo, pra mim não foi. Fui o primeiro a dar um papel de destaque para ela em ‘Negócio da China’ (2008). A profissão de ator é assim, você não pega de cara. Tem gente que começa na carreira aos 13 e, só aos 30, deslancha. Fazendo teatro ou trabalhando na surdina é mais fácil. Grazi surgiu já adulta, depois de um sucesso estrondoso no BBB e vem se desenvolvendo, só que aos olhos do público, na televisão, sujeita à pedradas. Grazi é uma mulher de verdade. Ela é fora do clichê. Ela surgiu num teste, demonstrando tudo o que eu e Walcyr pensávamos para a personagem. Uma alma já corroída pelas drogas, pela vaidade, putaria e indústria do consumo. A partir dali, era ladeira abaixo, degradação pura, crack, lama, perda dos valores. A gente foi junto na cracolândia, ela passou incólume, lá. Conversamos com as pessoas, foi uma experiência incrível. Grazi até improvisar fez bem. A cena da curra e o pedido de socorro em desespero foram foda. Ficarei eternamente grato pela forma que ela se jogou na personagem. Grazi, você mora eternamente no meu coração. Foi muito ajudada pelos colegas”.
A versatilidade de Drica Moraes como uma mãe que vai da servidão à total loucura e depressão ganharam homenagem mais do que empolgada do diretor. “E Drica Moraes? Na minha opinião, a melhor atriz da sua geração (que é a mesma que a minha). Uma doida. Faz mocinha, faz comédia, faz vilã (Cora, lembram?), tudo o que ela faz é excepcional. Eu lembro dela em ‘Melodrama’, espetáculo do Kike Diaz, chorando sangue, eu falava ‘Nossa, a Drica não é dramática, é trágica’. E essa tragédia apareceu na Carolina. Ela subverte, fica com o revolver na mão rindo. Ou mesmo no primeiro capítulo, dando o flagra no marido, ria. Eu tenho absoluta admiração (e até identificação) por atores que subvertem a ordem natural das coisas e transformam o trivial em algo imperfeito, como a vida. Você é uma monstra Drica, sou seu maior fã!”.
E, por fim, claro, a infame e paradoxal Angel não poderia ficar de fora, para terminar o momento. “E pra terminar, nada disso teria acontecido se a protagonista não tivesse funcionado. E a nossa protagonista nunca tinha feito absolutamente nada na vida. Descobrimos Camila Queiroz num teste onde, inicialmente, ela mostrou que tinha beleza, verdade e biótipo perfeito para o papel. Até sotaque caipira tinha. Chamei para um outro teste, eu dirigindo, dessa vez com a Agatha. Mostrou desenvolvimento, inteligência, aptidão e mais verdade. Aprovamos para o papel. Começou a se preparar três meses antes. Muita gente desconfiada, ela mesma. Afinal, não era um papel nem um pouquinho simples. Sendo bem direto, era foda. Mas ela foi se jogando, se jogando, abrindo camada, por camada, até que em um dia dos ensaios, plim, abriu a tampa da emoção e brotou a atriz. De um forma linda, sincera, emotiva e cada vez mais verdadeira. No segundo dia de gravação, ela já estava arrebentando, fazendo cenas dificílimas e muitíssimo bem. E foi assim até a última cena, onde segurou a peteca da história com uma segurança fora do comum. Camila tem um QI, uma inteligência de ator acima da média. É impressionante como aprendeu tudo tão rápido e colocou em prática imediatamente. Sou da opinião de que tudo ela fará bem, inclusive comédia ou gravações corridas, sem tempo de preparo. Talento a dar com o pau. Além de linda, sexy, divertida e, acima de tudo, uma trabalhadora, séria, que colou nos grandes atores da novela e tirou deles o melhor”.
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