Se antes o mercado literário estava incensado por uma literatura adulta, quente como o fogo, ou pelo debate em torno da autorização das biografias não autorizadas, agora ele ganha novo fôlego (lê-se aqui expectativa e vendagem) com histórias de subcelebridades polêmicas. As personalidades da mídia, que são prato cheio para as revistas de fofoca, e que conseguiram se manter sob os holofotes a partir de algumas passagens não muito orgulhosas, foram além: elas não se limitam mais a assistentes de palcos, repórteres por um dia, reality shows e filmes pornô. Elas querem contar suas memórias e prometem pipocar – mais ainda – o mercado das biografias. E os casos são muitos: Rafael Ilha, Gretchen, Andressa Urach, Thammy Miranda e por aí vai.
O movimento, que ganhou força com Alexandre Frota em “Identidade Frota”, foi coroado com a bombástica “Morri para viver – meu submundo de fama, drogas e prostituição”, escrita pelo vice-presidente de jornalismo da Record, Douglas Tavolaro. A obra, sobre o passado de Andressa Urach, ex-“A Fazenda”, e atual repórter da Rede Record, tem um conteúdo forte. Andressa revela, dentre tantas coisas, que era garota de programa e cobrava R$ 15 mil por duas horas de sexo. “Eu me tornei, infelizmente, uma das prostitutas mais desejadas e caras do Brasil. Eu fazia presença em casas noturnas. Se tivesse um cliente interessado em me pagar para ter sexo, o negócio era feito ali com o gerente da boate. Tudo era autorizado por mim. Eu dava um sim ou não para cada proposta antes de fechar o negócio. Mas tinha uma regra rígida. Jantar, fotos ou vídeos não eram permitidos. Eu ficava apenas duas horas dentro do quarto de hotel e o pagamento tinha de ser feito antes do ato sexual”, diz um trecho da biografia.
Agora convertida, Andressa também revelou sua trajetória insana por ser uma mulher famosa. “Eu transformei meu corpo em uma peça barata de merchandising. Eu abri minha intimidade para centenas ou até milhares de homens nos meus 27 anos de vida. Protagonizei as cenas mais humilhantes para qualquer ser humano. Eu encontrei satisfação em infligir e receber dor em atos sexuais . Eu estava obcecada com o prazer em ser submissa e joguei fora minha honra como um pedaço de lixo”. E não só: ela também conta já se deitou com um jogador da Seleção Brasileira de futebol em 2012. O tal atleta pagou R$ 4 mil por cinco dias com ela em Londres, no Reino Unido. “O acordo começou em uma conversa privada no Facebook. Ele disse que era casado e tinha filhos, mas me achava muito atraente. Ele me pediu discrição antes, durante e depois dos dias que passamos juntos na Inglaterra”.
Outra publicação que está na boca do forno é “Rafael Ilha – As pedras do meu caminho”, sobre o ex-Polegar que já foi viciado em drogas e preso por porte ilegal de armas. Escrita pela apresentadora Sonia Abrão, a obra relata, dentre outras cosias, o dia que Rafael tentou se suicidar. “Dentro do elevador do edifício em que morava sua avó, Rafael Ilha só ouvia os próprios gritos. Não havia o que negociar. Não aguentava mais, não queria mais, vida sem sentido, vazio, fúria. Com um caco de vidro pontiagudo encostado no pescoço, ameaçava um ponto final. E foi mais rápido que os apelos dos socorristas: abriu um corte no pescoço, da nuca até o lado esquerdo”, diz um trecho. Rafel também relatou para Sonia como foram os 13 anos viciado em crack e com a ausência do pai.
Ainda na pegada polêmica, Gretchen, a eterna rainha do rebolado, voltará ao mercado editorial com “Gretchen – Uma biografia quase não autorizada” depois de ter lançado “Gretchen, a biografia”. Escrita por Gerson Couto, bailarino do programa “Amor & Sexo”, e Fábio Fabrício Fabretti, pesquisador que integra a equipe que trabalha com a novelista Gloria Perez; a obra falará dos filmes pornográficos em que atuou, e de quando descobriu que seu filho Thammy Miranda é transgênero. Com narrativas em primeira pessoa, o livro também contará com depoimentos de Ivete Sangalo e Fernanda Lima. O que sabe é que esse terá uma pegada mais leve que o outro, que revelou que Gretchen apanhava do pai alcoólatra.
E já que falamos de Thammy, um livro para chamar de seu também está nesse balaio. “Nadando contra corrente” será lançada em setembro na Bienal do Livro pela Editora Record. A autora, Marcia Zanelatto, relatou os hábitos da infância, em que já se portava rejeitando a condição de mulher. “Thammy sempre gostou de usar roupas de meninos. Quando tinha quatro ou cinco anos, pediu a avó um kichute [tipo de calçado]. Ele [o livro se refere à biografada no masculino], ainda criança, gostava de fazer xixi em pé. E a família procurava lidar com isso com muita tranquilidade, sem pré-julgamento. Numa das festinhas de aniversário, pediu um He-man de presente”, conta.
No mesmo passo que Gretchen defendia o filho dos comentários maldosos de vizinhos, o avô, policial civil linha dura, não aceitava a escolha do neto. “Um dia, durante um almoço em família, o avô perguntou onde Thammy havia comprado as cuecas que ele estava usando para fora da calça. Disse que queria umas cuecas assim também. Thammy realmente é um homem. Ele é muito pragmático, tinha dificuldade de falar de detalhes”. Polêmicas também não faltaram quando o assunto sexo foi tocado. “Thammy é virgem. O momento de mais intimidade que ela teve com um homem está no capítulo No Motel Com Zorro. Ele tinha 16 e foi para um motel após uma festa à fantasia. O namorado estava fantasiado de Zorro. Ele queria transar, mas aí ele demorou no banho para esperar ele dormir. Depois foi a vez de ele entrar no banho e Thammy fingir que estava dormindo. Eles ficaram naquela negociação para não ter penetração e não teve. Esse foi o máximo que Thammy chegou com um homem”, contou a autora ao Jornal Extra.
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