Só nesse ano, personalidades como Kim Kardashian e Kendall Jenner e marcas como Louis Vuitton, Carolina Herrera e Gucci também estiveram no centro da polêmica
*Por Karina Kuperman
Rihanna é a nova capa da “Harper’s Bazaar China”. Mas o que era para ser só alegria – já que a publicação chegou a compará-la com Michael Jackson ao dizer que ela é ‘o rei do pop’ – tem gerado grande polêmica na internet. Isso porque, nas imagens, a cantora aparece vestida em um tradicional traje chinês. A foto, publicada nas redes sociais de Riri, tem sido o palco da enorme discussão sobre apropriação cultural, com direito a muitas críticas. “Eu te amo até o infinito e você parece rainha do fogo, mas também estou confuso: O QUE É ESSA APROPRIAÇÃO CULTURAL? Se uma garota branca usasse essa roupa, ela iria receber tanta crítica”, comentou um admirador. Outros chegaram a dizer que ela é “culturalmente insensível”.
Essa não é a primeira vez que o tema gera debates árduos na rede. No final do ano passado, a capa de outra publicação, com Kendall Jenner, também rendeu pano pra mangas. A top foi fotografada para a Vogue com um penteado afro e diversas pessoas questionaram o motivo pelo qual a revista simplesmente não contratar uma modelo negra e que tivesse naturalmente o cabelo que foi produzido em Kendall. A Vogue desculpou-se publicamente disse que o cabelo de Kendall foi escolhido para refletir um ar eduardiano que as roupas da grife Brock Collection pediam, já que, no período que o ensaio foi estabelecido – início dos anos 1900, as mulheres usavam cabelos volumosos.
A foto de Kendall Jenner na Vogue (Foto: Reprodução/Vogue)
No início desse mês, outra integrante da família, Kim Kardashian também foi acusada de apropriação cultural por conta de sua nova linha de lingeries, batizada de “Kimono”. Muitos fãs acusaram a mulher de Kanye West de estar tentando se apropriar de uma palavra para lucrar com a cultura japonesa. Usuários do Twitter chegaram a ironizar o nome da marca com a hashtag “KimOhNo”, que, em português, significa “Kim, ah, não”. Uma mensagem dizia: “Uau, Kim, obrigado por estragar a cultura japonesa!!! Minha cultura não é seu brinquedinho. Você não tem nenhum respeito por pessoas que não são sua família, tem? Nesses 15 anos desenvolvendo o projeto, não deu pra encontrar um conselheiro cultural?”. Desde então, a estrela de “Keeping Up With The Kardashians” pediu desculpas e anunciou que estava renomeando a marca. “Ser uma empresária e a minha própria chefe tem sido um dos desafios mais recompensadores com os quais eu fui abençoada na minha vida. O que tornou isso possível para mim, após todos esses anos, tem sido a direta linha de comunicação com os meus fãs e público. Estou sempre ouvindo, aprendendo e amadurecendo — aprecio muito a paixão e variedade de perspectivas que as pessoas me trazem. Quando eu anunciei o nome da minha linha de roupas modeladoras, na minha cabeça, eu o fiz com as melhores intenções. Minhas marcas e produtos são construídos com inclusão e diversidade em sua essência, e após uma cuidadosa consideração, eu lançarei a minha linha com outro nome. Entrarei em contato em breve”, escreveu, em suas redes.
Marcas renomadas também já estiveram no centro desse tipo de polêmica. No mês passado, a coleção Resort 2020 de Carolina Herrera foi acusada de apropriação cultural pelo governo mexicano. Com referências à “alegria de viver” da América Latina, a coleção trouxe diversos elementos de povos indígenas e chamou atenção até mesmo da secretária da Cultura do México, Alejandra Frausto, que enviou uma carta à marca. Segundo o texto, os desenhos, bordados e detalhes usados na coleção representam a visão de mundo dos povos nativos de localidades específicas do país. Frausto explicou, ainda, que o bordado tem origem na comunidade de Tenango de Doria, em Hidalgo, e pediu uma explicação pública sobre o que motivou a coleção.
Um dos vestidos da coleção que causou polêmica (Foto: Reprodução/Carolina Herrera)
Menos de um mês após essa situação, o governo mexicano fez o mesmo com outra grife: pediu explicações à francesa Louis Vuitton por utilizar uma estampa tradicional indígena no desenho de uma cadeira, cujo preço de venda é 18,2 mil dólares (cerca de 80 mil reais). A peça tem desenhos tropicais e foi inspirada ‘no artesanato tradicional de todo o mundo’, segundo o site da marca. “Nos sentimos obrigados a consultar (a Louis Vuitton), de maneira respeitosa, se procuraram e, nesse caso, contaram com a colaboração da comunidade e de seus artesanatos para a elaboração da cadeira em questão”, disse a carta do Ministério da Cultura do México. A grife ainda não se pronunciou.
Em maio, foi a Gucci quem entrou na polêmica, ao colocar à venda na Nordstrom uma peça que lembra o cocar religioso sikh. O turbante já havia causado alvoroço depois de ter sido visto em um modelo no Milan Fashion Week Show da marca de luxo no inverno passado, quando internautas chegaram a criticar Gucci por não usar um “modelo negro”.
O turbante Gucci vendido pela Nordstrom (Foto: Reprodução)
Agora, com as vendas na Nordstrom, o Twitter voltou a bombar com o assunto. “O turbante sikh não é apenas um acessório de moda, mas também é um artigo religioso sagrado de fé. Esperamos que mais coisas possam ser feitas para reconhecer esse contexto crítico”, disse um deles, que acrescentou a hashtag “apropriação”. Outro foi além: “Alguém na @Gucci sequer se deu ao trabalho de descobrir o que um dastaar (turbante) significa para os sikhs? Passou por suas mentes para considerar a história por trás de nossa identidade? Meu povo é discriminado, até mesmo morto, por usar um turbante ”.
Esses e outros casos são alguns dos exemplos da falta de informação sobre o tema, e mostra a necessidade de se refletir e discutir o assunto. Por conta da globalização, atualmente temos acesso à muitas culturas e povos, e isso faz com que todos se sintam com propriedade de falar sobre tudo, mas não é bem assim. De acordo com diversos antropólogos, o grande problema da apropriação cultural é esvaziar de sentido uma cultura apenas com o propósito capitalista, ou seja: ganhar dinheiro em cima de um símbolo importante para pessoas que, nesse ciclo, acabam sendo excluídas. Vale a reflexão!