Pesquisadora de narrativas sobre mulheres, Maria Carolina Medeiros afirma: “Eu não vou falar sobre Carla Diaz”. Vem entender!


Maria Carolina Medeiros é professora, doutoranda em Comunicação na PUC-Rio e pesquisa narrativas sobre mulheres e frisa: “Para entender o que está por trás do que entendemos como nossos desejos, para compreender os processos sociológicos e a forma como mulheres são socializadas, não tem fórmula mágica nem textão no Instagram: demanda estudo, informação, pesquisa, dedicação”

Carla Diaz (Foto: Reprodução/Instagram)

Carla Diaz (Foto: Reprodução/Instagram)

*Por Maria Carolina Medeiros

“A atriz Carla Diaz é a eliminada da semana do Big Brother Brasil. Há algum tempo a participante vem sendo objeto de análise de diversos especialistas (ou não), que debatem sobre seu comportamento, sobre uma suposta submissão à Arthur (participante com quem ela teve um romance no programa) e sobre o também suposto “relacionamento abusivo” de ambos.

Eu não vou falar sobre Carla Diaz, porque penso que é leviano tratar a vida de pessoas que não conheço como se estivessem disponíveis para serem analisadas, apenas porque estão em um reality show. E eu, como pesquisadora em Comunicação, sequer teria ferramentas necessárias para analisar a personalidade e as ações da atriz.

O que também tem sido dito é acerca da opressão estrutural às mulheres e que atinge Carla, como a todas nós. Muito se tem aventado sobre a necessidade de agradar, sobre a performance de feminilidade que nos cabe a fim de ser socialmente aceita e que, supostamente, faria com que Carla ficasse num relacionamento com Arthur, mesmo sem ser valorizada por ele.

Eu, que discuto sobre socialização da mulher desde a infância, sobre a imposição histórica do casamento e da maternidade, sobre a impossibilidade social de aceitar que uma mulher não esteja num relacionamento vinculada a um homem, sobre a imanência da mulher segundo Simone de Beauvoir, não tenho nada de novo a acrescentar especificamente neste episódio. Simplesmente porque não é sobre Carla e não acho justo que ela seja pega como exemplo. Para entender o que está por trás do que entendemos como nossos desejos, para compreender os processos sociológicos e a forma como mulheres são socializadas, não tem fórmula mágica nem textão no Instagram: demanda estudo, informação, pesquisa, dedicação.

É o que modestamente tenho buscado fazer, transpondo os muros da academia e levando informação a mais mulheres. Nada de “ajudo a empoderar”. Tampouco “ajudo a se emancipar”. A construção da opressão é estrutural e secular, o caminho contra ela também deve ser. A quem interessar possa, estou disponível para o debate e a disseminação da informação por meio do meu Instagram. Mas não contem comigo para textos mágicos desvendando peculiaridades de alguém que não conheço. Quem quiser entender a estrutura na qual estamos todas inseridas, me procure por lá e vamos debater juntas, sempre!”

*Professora, doutoranda em Comunicação na PUC-Rio e pesquisa narrativas sobre mulheres