Nos EUA, Sonia Braga fala sobre crise política no Brasil: “Este não parece mais com o país que conheci”


Durante a exibição do filme “Aquarius” na Flórida, a atriz de 66 anos ainda criticou as produtoras cinematográfica hollywoodiana: “A indústria não é justa conosco, não sei do que falam quando dizem a palavra diversidade, porque ainda não a vejo. Não vejo muitos latinos”

Sônia Braga tem se tornado uma espécia de porta-voz da população brasileira que não apoiou o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Depois de protestar ao lado do elenco do filme “Aquarius”, no Festival de Cinema de Cannes, na França, a atriz vem se manifestando em diversas ocasiões sobre aquilo o que ela tem considerado como “golpe”. Agora, na noite da última sexta-feira, durante a exibição do longa dirigido por Kleber Mendonça Filho, na Flórida, nos Estados Unidos, a artista soltou o verbo e fez um apelo para que os brasileiros defendam a democracia do país.

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“Há um golpe no Brasil, não é um golpe militar. É muito difícil para as pessoas fora do Brasil saberem exatamente o que está acontecendo e a dimensão do perigo pelo qual estamos passando. Este não parece mais com o país que conheci, onde vivi e que amei tanto. Sempre tive sentimentos intuitivos sobre o que é bom e o que é justo para meu país e meu povo. E o que posso fazer melhor é dizer em voz alta o que sinto”, disse a atriz, que mesmo vivendo atualmente em Nova York, segue atenta a todos os movimentos políticos do Brasil. “É inclusive difícil dizer que o prefeito do Rio de Janeiro que venceu (as eleições) é de extrema-direita”, comentou, referindo-se à vitória de Marcelo Crivella, do Partido Republicano Brasileiro.

Como já contamos anteriormente aqui no HT, em “Aquarius”, Sônia interpreta Clara, uma jornalista aposentada que se nega a vender seu apartamento de frente para uma praia de Recife, onde viveu boa parte de sua vida. Apesar da pressão da construtora, ela se mantêm firme em sua posição e vai até as últimas consequências para manter seu imóvel. “Este filme abre o debate sobre o que é o país agora e o que queremos para o futuro”, disse a atriz de 66 anos, famosa por seus papeis em “O Beijo da Mulher-Aranha”, “Dona Flor e Seus Dois Maridos” e “Gabriela”.

Sonia Braga é a grande homenageada da abertura da 44ª edição do Festival de Cinema de Gramado (Foto: Edison Vara/Pressphoto)

Sonia Braga foi a grande homenageada da abertura da 44ª edição do Festival de Cinema de Gramado (Foto: Edison Vara/Pressphoto)

Sem papas na língua, ela ainda criticou a indústria cinematográfica hollywoodiana por não ampliar seu espaço para atrizes latinas e estrangeiras em suas produções. “A indústria não é justa conosco, não sei do que falam quando dizem a palavra diversidade, porque ainda não a vejo. Não vejo muitos latinos”, avaliou ela, que ainda contou que ela e a italiana Isabella Rossellini disputaram o papel principal do longa “As Pontes de Madison”, no entanto, sem sucesso. “Não conseguimos, porque Meryl Streep queria atuar nele e o fez. Acredito que a Academia deveria ter uma cadeira permanente para ela”, completou.