Minha Casa em Mim: com curadoria de Ronaldo Fraga, projeto estimula empreendedorismo entre artesãos e pequenos produtores mineiros de Mariana e Barra Longa


A oportunidade de mostrar o talento e a ressignificação de vidas de 175 pessoas atingidas pelo rompimento da Barragem de Fundão. Elas desenvolvem trabalhos artesanais e agropecuários tradicionais da região e acaba de ser lançada oficialmente a coleção “Minha Casa em Mim” – www.minhacasaemmim.com.br – composta por produtos artesanais e gastronômicos que preservam e resgatam as mais genuínas tradições mineiras

O gênio da moda nacional, Ronaldo Fraga (Foto: Naty Torres)

As asas da imaginação de Ronaldo Fraga voam pelos mais lindos caminhos e o estilista nos presenteia sempre com… inovação. Quem acompanhou a edição virtual da São Paulo Fashion Week pôde conferir o filme exibido pelo estilista mineiro no encerramento da 50ª edição da semana de moda realizada em formato 100% virtual.

A farta e bela mesa posta por Ronaldo Fraga para fazer uma ode à estilista Zuzu Angel (1921-1976) e uma metáfora de tudo que ela enfrentou durante o regime militar reuniu o artesanato e as iguarias da culinária feitos por artesãos e pequenos produtores da região de Mariana e Barra Longa, em Minas Gerais, que foram impactados pelo rompimento da Barragem de Fundão. Os produtos fazem parte da coleção Minha Casa em Mim, desenvolvida sob a curadoria do estilista desde agosto de 2019. Do jogo de mesa bordado à mão ao cuscuz, da luminária ao vinho de jabuticaba, das almofadas a rosquinhas de leite caseiras, os diversos produtos dispostos sob a mesa dialogam com o reconhecido trabalho de Zuzu Angel, primeira criadora a destacar o artesanato local em suas coleções e usar as referências da cultura nacional em suas criações.

Ronaldo Fraga é curador do projeto Minha Casa em Mim (Foto: Naty Torres)

E hoje venho aqui contar para vocês sobre as notícias quentinhas que recebo de Minas Gerais. Um ano após seu início, período que demandou uma série de atividades técnicas e de gestão com 13 grupos de artesãos da região de Mariana e Barra Longa (MG), acaba de ser lançada oficialmente a coleção “Minha Casa em Mim” – www.minhacasaemmim.com.br – composta por produtos artesanais e gastronômicos que preservam e resgatam as mais genuínas tradições mineiras. Com curadoria de Ronaldo Fraga, o projeto propôs releituras e ressignificação da produção local de forma a agregar valor aos itens desenvolvidos e implantar uma cultura de economia criativa pautada nos conceitos colaborativos e sustentáveis.

Foto: Naty Torres

 

Os artesãos foram orientados por consultores como Ana Vaz, especializada em design têxtil, Baba Santana, referência em papietagem, e o designer Marcelo, expert no uso do bambu, para aprimorarem suas técnicas e habilidades, além de receberem direcionamentos técnicos e gerenciais como uniformização da produção, embalagem, procedimentos sanitários e precificação de produtos, entre outros.

A coleção, que busca privilegiar produtos com o mais genuíno DNA mineiro e estimular o potencial artesanal das regiões, é formada por diversos itens que revelam a cultura e tradições dos respectivos locais onde são desenvolvidos, como o vinho de jabuticaba de Monsenhor Horta, o doce de mamão rosas crocantes de Mestre Ataíde da comunidade de Camargos, as luminárias de bambu do distrito de Cláudio Manuel e as almofadas bordadas com andorinhas pelo Grupo Meninas da Barra, entre outros.

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Empreendedorismo colaborativo

Para Mirian Rocha, da ACG – Associação de Culturas Gerais -, responsável pela metodologia aplicada durante as atividades, a maior contribuição do projeto junto aos participantes foi a compreensão da necessidade de se construir uma rede colaborativa e compartilhada e o entendimento do valor cultural e comercial dos produtos locais.

“Esses artesãos e pequenos produtores nunca foram valorizados e a própria população nunca reconheceu a importância da economia criativa dessas comunidades. Sem dúvida, com “Minha Casa em Mim” conseguimos dar visibilidade ao grupo reforçando uma economia associativa e colaborativa”, analisa. Segundo a gestora, o movimento gerou a criação da primeira cooperativa de artesãos de Mariana e região e as estimativas de crescimento de renda das famílias envolvidas também é bastante promissora. “Acreditamos que, com a ressignificação e qualificação dos produtos comercializados, podem até mesmo triplicar o faturamento atual”, conclui Mirian.

Esse entusiasmo também é compartilhado pelos grupos de artesãos envolvidos na iniciativa como Célia Antunes dos Passos, presidente da Associação Arte, Mãos e Flores, entidade que reúne 28 mulheres que se dedicam ao artesanato têxtil. “Estávamos quase desistindo pela falta de apoio, mas o projeto aumentou nossa autoestima ajudando a valorizar mais nosso trabalho. É muito gratificante e os resultados financeiros já começam a surgir. Hoje, nossas associadas, além de uma melhor alimentação, também conseguem reformar a casa e investir em qualidade de vida”, atesta Célia. Segundo a artesã, a perpetuação do trabalho, através do interesse dos mais jovens despertado pelo Minha Casa em Mim, é o que mais incentiva o grupo. “Queremos deixar nosso legado para os jovens para não deixar morrer a tradição local”, completa.

“O programa abriu novos horizontes para nosso grupo, agregando valor ao trabalho e divulgando nossa cidade”, revela Raimunda Maria dos Anjos, presidente da Associação Movimento Renovador de Mariana, entidade que reúne bordadeiras que se inspiram nas artes, tradições e monumentos da cidade para realizar seu trabalho. “Aprendemos que podemos agregar a cidade em nossos produtos com novas formas e possibilidades. Com a chegada do projeto, ganhamos espaço, a melhora na renda pessoal e aprimoramos nosso trabalho. Afinal, se você borda contando uma história, o produto tem mais valor”, finaliza a bordadeira.

Marlene Resende Fonseca, que preside a Associação Feira de Artes e Ateliê de Mariana, coletivo artístico e gastronômico, afirma que Minha Casa em Mim “trouxe um significado imenso para nós ao aperfeiçoar e criar novos produtos”. Marlene também aposta no incremento das vendas devido ao valor agregado aos produtos. “Aumentou a valorização do produto abrindo um leque para o mundo. Estamos mais profissionalizados”, conclui.

A coleção “Minha Casa em Mim” faz parte do projeto Catarse Coletiva, criado pela Fundação Renova em parceria com a Associação de Culturas Gerais (ACG).

Minha Casa em Mim (loja virtual): www.minhacasaemmim.com.br

 Grupos participantes:

  • Associação Arte, Mãos e Flores
  • Associação Mãos que Brilham
  • Associação Monsenhor Horta
  • Casa das Artes
  • Clube de Mães da Colina
  • Coletivo Cláudio Manoel
  • Coletivo de Camargos
  • Coletivo Padre Viegas
  • Cooperativa Rural de Gesteira
  • FAM – Feira de Arte e Ateliê
  • Feira Marte
  • Meninas da Barra
  • Movimento Renovador