Minas Trend: ‘Sustentabilidade precisa ser parte intrínseca ao negócio e poder de transformação’, diz Gustavo Narciso, diretor do Instituto C&A


Promovida pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais, a 27ª edição do maior Salão de Negócios da América Latina contará com o SESI E SENAI TALKS. Um dos palestrantes é o diretor executivo do Instituto C&A abordando o tema ‘O impacto socioambiental no varejo da moda’. “Quando falamos em impactos socioambientais, contemplamos também possibilitar que mulheres, negros, indígenas, migrantes, LGBTQIAP+, empreendam e cresçam no segmento”, pontua Gustavo Narciso, acrescentando: “o empreendedor da moda deve se atentar aos novos modelos de produção. A reutilização de materiais, por exemplo, é uma tendência que tem ganhado cada vez mais espaço. Investir na promoção de ambientes mais democráticos e diversos também faz parte de práticas sustentáveis”

Minas Trend: 'Sustentabilidade precisa ser parte intrínseca ao negócio e poder de transformação', diz Gustavo Narciso, diretor do Instituto C&A

Destaque da 27ª edição do Minas Trend, o maior Salão de Negócios da América Latina, promovida pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG), a série de palestras em formato híbrido, presencial para lojistas e compradores, e na web para o público que ama moda, vai nos proporcionar um mergulho no cenário do setor que vem se aquecendo e implantando novas práticas. No Salão de Negócios, durante o SESI E SENAI TALKS, uma das trocas de conhecimento será com Gustavo Narciso, diretor executivo do Instituto C&A – braço social da C&A Brasil há 30 anos com o propósito de fortalecer comunidades brasileiras por meio da moda. Ele abordará o tema “O impacto socioambiental no varejo da moda”, no dia 20, no Expominas, em Belo Horizonte, e fomos conversar com o diretor para proporcionar a você, leitor, um pouco do que ele dividirá presencialmente.

O Instituto C&A parte da premissa que comunidades são mais que grupos de pessoas. São também as relações entre elas, conectadas a partir do senso de pertencimento. E inspira pessoas a se envolverem umas com as outras, por meio do empreendedorismo e do voluntariado na moda. Os voluntários doam tempo, trabalho e conhecimento adquirido no varejo para potencializar negócios sociais. A filosofia do Instituto C&A aponta: “Acreditamos que a conexão entre pessoas catalisam transformações coletivas. Do eu, para o nós. Do exclusivo, para o inclusivo. Do diverso, para o universo. Do vertical, para o horizontal. Da unidade para a comunidade”.

O diretor executivo do Instituto C&A analisa que na moda, assim como em outros segmentos, é preciso repensar a lógica de consumo e mesmo de produção, “tendo em mente que a sustentabilidade precisa ser parte intrínseca ao negócio, que também é uma oportunidade para promover transformação”. E acrescenta: “Quando falamos em impactos socioambientais, contemplamos também possibilitar que mulheres, negros, indígenas, migrantes, LGBTQIAP+, empreendam e cresçam no segmento. Além de voluntariado e empreendedorismo, no Instituto C&A estamos com mais dois pilares prioritários: ajudas humanitárias, com o qual tivemos mais atenção especialmente nos últimos dois anos por conta da pandemia da covid-19, e empregabilidade, uma nova frente em que atuaremos com mais força em 2022. No programa de Empreendedorismo, por exemplo, investimos e realizamos projetos em prol do impulsionamento de micro e pequenos negócios e no desenvolvimento de empreendedores – principalmente aqueles que lutam para afirmar seus direitos: como mulheres, pessoas negras, indígenas, LGBTQIAP+, migrantes, pessoas com deficiência, entre outros”.

Atividades do Instituto C&A no Brasil: “O Instituto atua como o pilar social da C&A Brasil e tem promovido impacto social há 30 anos nos territórios em que a empresa está presente” (Divulgação)

Um bom exemplo foi a Feira Preta na C&A, realizada em 2021, um projeto de fomento ao afroempreendedorismo na moda que gerou expressivos resultados, tangíveis e intangíveis. Já dentro de empregabilidade, em 2022, o Instituto C&A lançará o projeto Minha Carreira na Moda, com o objetivo de conectar pessoas interessadas em construir uma história no segmento da moda e empresas do setor. “Esses são apenas alguns de nossos projetos que têm como objetivo maior promover a transformação social dentro e por meio da moda”, comenta Gustavo.

Gustavo Narciso, diretor executivo do Instituto C&A, compartilha seu expertise com a plateia na palestra que aborda a moda com impacto socioambiental no varejo (Divulgação)

Gustavo Narciso, diretor executivo do Instituto C&A, compartilha sua expertise na palestra que aborda moda com impacto socioambiental no varejo (Divulgação)

Segundo o diretor do Instituto C&A, o empreendedor da moda deve se atentar aos novos modelos de produção. A reutilização de materiais, por exemplo, é uma tendência que tem ganhado cada vez mais espaço. Empreendedores que, desde o início, preocupam-se com o impacto socioambiental de suas produções são um modelo que deve crescer nos próximos anos. Investir na promoção de ambientes mais democráticos e diversos também faz parte de práticas sustentáveis.

E frisa que ainda há um longo caminho a percorrer para que essa transformação se consolide na moda. “Mas nós vamos continuar indo atrás deste objetivo. Acredito que se a C&A, por exemplo, foi uma das responsáveis por democratizar a moda no Brasil, agora é hora de democratizar o acesso, consumo e conhecimento sobre a moda sustentável e suas possibilidades”.

Fortalecendo comunidades através da moda

Nos últimos anos a C&A passou por mudanças na composição de seu negócio e o Brasil manteve o Instituto C&A. Gustavo Narciso joga luz sobre os principais objetivos do projeto no país, que são o voluntariado e o empreendedorismo como forma de fortalecer comunidades através da moda. “O Instituto atua como o pilar social da C&A Brasil e tem promovido impacto social há 30 anos nos territórios em que a empresa está presente. Ao longo dessas três décadas de compromisso com a sociedade civil, tivemos algumas transformações estratégicas e, desde 2015, nos aproximamos ainda mais do negócio, passando a investir exclusivamente na moda – fazendo com que a empresa atue de forma mais integrada e articulada às realidades sociais, econômicas e ambientais em que está inserida e também que o instituto acesse mais plataformas e recursos, ampliando o investimento social privado e a produção de bens públicos”, esclarece.

Um bom exemplo foi a Feira Preta na C&A, realizada em 2021, um projeto de fomento ao afroempreendedorismo na moda que gerou expressivos resultados, tangíveis e intangíveis. Já dentro de empregabilidade, em 2022, o Instituto C&A lançará o projeto Minha Carreira na Moda, com o objetivo de conectar pessoas interessadas em construir uma história no segmento da moda e empresas do setor. Esses são apenas alguns de nossos projetos que têm como objetivo maior promover a transformação social dentro e por meio da moda”. 

Perguntamos ainda a Gustavo Narciso, como o varejo pode ser sustentável baseado nas 10 recomendações do Colabora Moda Sustentável? “Muito tem sido feito no varejo de moda brasileiro nos últimos anos. A mudança do propósito do Instituto C&A, em 2015, para olhar para a transformação da indústria foi um destes acenos, seguido do surgimento e fortalecimento de outras organizações, como a Fundação Herman Hering, o Instituto Lojas Renner, o Instituto E e a recente chegada do Instituto Riachuelo, por exemplo. A ABVTEX vem realizando um trabalho formidável que vai ao encontro das certificações da cadeia de fornecimento dos grandes varejistas de moda. No entanto, todo esse esforço ainda precisa de mais aprofundamento para que possamos atender de forma mais robusta as recomendações propostas pelo Colabora Moda Sustentável”.

Ele ainda aponta que não são raros no nosso mercado deslizes que deflagram em pequenas crises que chegar até a cliente brasileira. E isso mostra que temos muito a avançar para responder cada vez mais rápido as demandas da sociedade. Neste sentido, o esforço do Instituto C&A desenvolve, investe e tem conectado a C&A Brasil a projetos, pessoas e iniciativas que tem, mesmo que em menor escala, respondido a estas recomendações, almejando escalá-las pelo negócio. “No entanto, todo esse esforço é limitado. Se formos considerar, por exemplo, o tema de transparência, o índice de transparência do Fashion Revolution conseguiu mobilizar uma fatia muito pequena de todas as marcas que operam no Brasil. Acredito que o varejo precisa colaborar mais, agir mais de forma coletiva, para que possamos resolver de forma mais rápida uma problemática que é comum. Atender as recomendações é investir em sustentabilidade, modelo de negócio e de consumo, e não tem como realizar uma mudança tão sistêmica que não seja por meio da colaboração”.

Gustavo cita ainda o terrível desabamento do Rana Plaza, na periferia de Daca, a capital do Bangladesh, e que abrigava fábricas independentes, com cerca de 5.000 trabalhadores como um dos episódios mais simbólicos sobre como o crescimento global do varejo de moda fracassou no que tange a garantir direitos e assegurar o trabalho decente. Desde o ocorrido foram intensificadas discussões sobre a responsabilidade social corporativa nas cadeias de suprimentos. Desde então, articulações globais têm sido realizadas para repensar os impactos socioambientais da cadeia da moda.

Em 2019, Gustavo Narciso participou do Copenhagen Fashion Summit e lá se deparou com cases internacionais que olhavam desde formas de repensar as práticas pouco sustentáveis e usos de defensivos agrícolas com tecnologia ultrapassadas no cultivo do algodão até maneiras de tornar o consumo do chamado “second hand” mais atraente para o público jovem europeu.

“O grande varejo ainda resiste em explorar de forma massiva essas tecnologias e esse é o desafio que temos que superar. O Fashion For Good, em Amsterdã, reúne hoje um celeiro de potências escaláveis que têm pensado soluções muito elaboradas para os problemas da indústria. A partir da decisão de apostar nessas potências, a C&A, por exemplo apostou na tecnologia C2C – e é importante dizer que foi um caminho para que o produto fosse se consolidando na marca. Um dos maiores aprendizados que a C&A teve ao utilizar a tecnologia C2C foi avançar para que esses produtos ficassem cada vez mais atraentes e gerassem mais desejo nas clientes da marca”.

E ele conclui: “Hoje avançamos muito a partir deste entendimento e entregamos um produto que atende às expectativas da consumidora com técnicas cada vez mais inovadoras de sustentabilidade como por exemplo nosso jeans, que ao mesmo tempo em que tem se mostrado extremamente comercial, é produzido a partir de processo com menos consumo de água. O design alinhado a sustentabilidade é a base de qualquer case bem sucedido no planeta e é essa a provocação maior que eu quero deixar no Minas Trend”.