Sophie Charlotte, Drica Moraes e Tainá Müller são algumas das atrizes que publicaram fotos nas redes sociais vestindo uma camiseta que lê-se ‘Mexeu com uma, mexeu com todas #ChegaDeAssédio’. O motivo da manifestação que reuniu várias personalidades globais é a denúncia de assédio contra José Mayer feita pela figurinista, de 28 anos, Susllen Meneguzzi Tonani. Em relato publicado no blog ‘#AgoraÉQueSãoElas’ da Folha, ela acusa o ator de colocar a mão em sua genitália, em fevereiro deste ano, e a chamá-la de ‘vaca’. O assédio teria acontecido na frente de outras duas camareira, o que levou a figurinista ao estopim. Susllen já havia feito a denúncia há cerca de um mês, mas o caso ganhou visibilidade quando foi publicado no blog o seu depoimento do ocorrido. Não havia levado o caso a imprensa antes porque resolveu esperar o fim de seu contrato na produção da novela ‘A lei do amor’.
No texto, a assistente diz que esta situação vinha se repetindo há oito meses em ocasiões que ele falava frases como: ‘você é bonita’, ‘você se veste bem’ até ‘fico olhando a sua bundinha e imaginando o seu peitinho’. Em defesa de Susllen, várias funcionárias de diferentes escalões da emissora vieram trabalhar hoje, nesta terça-feira com a camiseta que foi vendida ontem no valor de R$ 22,00 pelas ruas dos Estúdios Globo (Projac).
Por causa do protesto, a emissora decidiu cancelar a escalação de Mayer para a próxima novela das 21h, de Aguinaldo Silva. No papel, interpretaria o personagem Sampaio e seu par romântico seria atriz Lilia Cabral, repetindo o casal que também contracenou em 2011, ‘Fina Estampa’.
A direção tratou o movimento como ‘uma manifestação contra um comportamento social’ e afirmou que isto está de acordo com os princípios da empresa e pede que os funcionários denunciem. Em reunião, o diretor-geral, Carlos Henrique Schroder, pediu que os chefes e gerentes buscassem se aproximar mais dos subordinados para que casos parecidos não voltem a ocorrer. Ontem, Schroder enviou e-mails falando sobre o que deve ser feito nessa situação e reafirmando o apoio ao movimento.
Na tentativa de se defender, Mayer afirmou que seu modo de agir foi uma mistura entre ficção e realidade. Deu a entender que seu personagem em ‘A lei do amor’, Tião Bezerra, é o verdadeiro responsáveis pelas frases e atitudes de que é acusado. O ator diz respeitar todos os seus companheiros de trabalho.
“Mesmo não tendo tido a intenção de ofender, agredir ou desrespeitar, admito que minhas brincadeiras de cunho machista ultrapassaram os limites do respeito com que devo tratar minhas colegas. Sou responsável pelo que faço”, afirmou em carta o ator.
Famosas como Fátima Bernardes, Fernanda Lima, Bruna Marquezine, Drica Moraes, Tainá Muller, Luisa Arraes, Alice Wegmann, Mariana Xavier, Tatá Werneck, Sophie Charlotte, Grazi Massafera, Camila Pitanga, Cleo Pires, Leandra Leal, Débora Falabella, Maria Casadevall, Dira Paes e Cris Vianna aderiram ao protesto vestindo a camisa ou se solidarizando nas redes sociais. Algumas dessas, já trabalharam diretamente em sets com o ator, inclusive Grazi contracenou na última novela ‘A lei do amor’. Além delas, a figurinista Cláudia Kopke também participa do movimento global.
Algumas atrizes que já contracenaram como par romântico de Mayer também aderiram ao protesto. Entre elas, Taís Araújo durante a novela ‘Viver a vida’, de 2009, e Deborah Secco na novela ‘Laços de família’, em 2000.
José Mayer Drumond nasceu em Minas Gerais, mas se mudou para o Rio de Janeiro para tentar a vida de ator. Em 1980, fez sua primeira novela chamada ‘Chega mais’. Desde então, atuou em ‘Mulheres apaixonadas’, ‘A favorita’ e ‘Laços de família’. Contracenou com grandes atrizes como Vera Fischer e Taís Araujo. É casado com Vera Fajardo.
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E-mail enviado aos funcionários pela direção:
Hoje, tivemos uma reunião que considero muito importante. Ouvi com muita atenção cada uma das colocações de vocês, principalmente no que diz respeito a sempre nos comunicarmos melhor. Por isso resolvi mandar este e-mail, para que vocês estejam alinhados com o que pensamos, o que respondemos e o que fazemos. Temos sido questionados por várias pessoas da imprensa sobre nossa posição como Globo. Estas quatro perguntas e quatro respostas sintetizam nossa posição. E resolvemos compartilhar com cada um de vocês. Mesmo porque, você é nosso maior disseminador. Como acreditamos que você também está sendo cobrado e perguntado, compartilhar nossa visão e nossas respostas seguramente pode ajudar nas suas. Estamos juntos e seguros de que estamos agindo conforme nossa consciência, dentro dos mais profundos compromissos com todos os nossos colaboradores e com o Respeito. Qualquer dúvida, pode perguntar.
Abraço,
Schroder
José Mayer teve sua escalação suspensa da novela de Aguinaldo Silva como punição pela acusação de assédio?
A Globo decidiu não escalar José Mayer para a próxima novela das nove de Aguinaldo Silva, prevista para ir ao ar em 2018. Essa é uma atitude isenta e responsável da Globo de não dar visibilidade a uma das partes envolvidas numa questão que é visceralmente contra tudo que a Globo acredita. E não é uma atitude isolada. A atitude da Globo será sempre essa. A de defender que casos como esse devem ser apurados, ouvindo e oferecendo todo apoio às duas partes, dando possibilidade para que a verdade aflore e criando condições para que não se repitam. Foi isso que fizemos. E é isso que sempre faremos.
Soubemos que diferentes profissionais da emissora estão se reunindo entre si e com a direção desde o fim de semana para tratar desse assunto. Procede?
Neste final de semana, houve uma reunião organizada por profissionais da empresa para a qual a Globo foi convidada e esteve presente. E hoje houve uma reunião extraordinária nos Estúdios Globo com os principais líderes do entretenimento para conversarmos franca e abertamente sobre este caso. Mas é importante que se diga que reuniões de trabalho acontecem e acontecerão sempre que forem necessárias, principalmente quando disserem respeito a fatos contrários aos nossos valores. Isso está em total alinhamento com a nossa gestão de transparência e diálogo permanente.
Além disso, o fato de termos um processo de compliance estruturado, dentro do Grupo Globo, reflete a nossa crença de que nenhum assunto deve ficar sem análise, sem apuração e sem atitude tomada. É assim hoje e assim será sempre. Não compactuamos com atitudes que contrariam o Respeito que defendemos. Essa acabou sendo mais uma oportunidade para que a Globo reforce crenças de respeito à diversidade, ao ser humano, que existem na emissora há tempos. Tudo que tem sido discutido internamente, todas as dúvidas que têm sido tiradas, têm como base o Código de Ética e de Conduta do Grupo que prega esses valores desde sempre.
Como serão tratadas as funcionárias que forem trabalhar com a camiseta ‘Mexeu com uma, mexeu com todas’? A Globo sabe dessa mobilização?
Não só sabemos como apoiamos. Temos conhecimento dessa iniciativa e ela será bem recebida, pois está absolutamente alinhada com as crenças e os valores da empresa. Nós, assim como nossos funcionários, defendemos a transparência, a liberdade de expressão e a mobilização para as causas nas quais acreditamos. Nossos funcionários e funcionárias que vierem vestidos com a camiseta amanhã terão como companhia nossos executivos e diretores, com ou sem camiseta o Respeito é uma causa comum a todos. Não tem como ser diferente.
É verdade que a Globo está produzindo uma campanha interna pelo Respeito?
A campanha já existe, se chama ‘Tudo Começa Pelo Respeito’ e está no ar desde agosto do ano passado. Com desdobramentos na dramaturgia, no futebol, na Fórmula 1, no discurso de nossos autores, diretores e executivos. Está é a verdade da Globo, o que ela prega e no que ela acredita. O que a Globo fala, ela faz. O que ela faz, ela fala.
Leia a carta escrita pelo ator José Mayer:
“Carta aberta aos meus colegas e a todos, mas principalmente aos que agem e pensam como eu agi e pensava:
Eu errei.
Errei no que fiz, no que falei, e no que pensava.
A atitude correta é pedir desculpas. Mas isso só não basta. É preciso um reconhecimento público que faço agora.
Mesmo não tendo tido a intenção de ofender, agredir ou desrespeitar, admito que minhas brincadeiras de cunho machista ultrapassaram os limites do respeito com que devo tratar minhas colegas. Sou responsável pelo que faço.
Tenho amigas, tenho mulher e filha, e asseguro que de forma alguma tenho a intenção de tratar qualquer mulher com desrespeito; não me sinto superior a ninguém, nao sou.
Tristemente, sou sim fruto de uma geração que aprendeu, erradamente, que atitudes machistas, invasivas e abusivas podem ser disfarçadas de brincadeiras ou piadas. Não podem. Não são.
Aprendi nos últimos dias o que levei 60 anos sem aprender. O mundo mudou. E isso é bom. Eu preciso e quero mudar junto com ele.
Este é o meu exercício. Este é o meu compromisso. Isso é o que eu aprendi.
A única coisa que posso pedir a Susllen, às minhas colegas e a toda a sociedade é o entendimento deste meu movimento de mudança.
Espero que este meu reconhecimento público sirva para alertar a tantas pessoas da mesma geração que eu, aos que pensavam da mesma forma que eu, aos que agiam da mesma forma que eu, que os leve a refletir e os incentive também a mudar.
Eu estou vivendo a dolorosa necessidade desta mudança. Dolorosa, mas necessária.
O que posso assegurar é que o José Mayer, homem, ator, pai, filho, marido, colega que surge hoje é, sem dúvida, muito melhor.
José Mayer”
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