A Danielian Galeria realiza de 10 de setembro a 22 de outubro de 2021 a exposição “Manuel Messias – Do Tamanho Do Brasil”, com 50 obras de diversos períodos da trajetória do artista nascido em 1945 em Sergipe, e que foi ativo participante do cenário artístico do Rio de Janeiro até sua morte, em 2001, mesmo tendo enfrentado situações de extrema pobreza, e de nos últimos dez anos de sua vida ter estado por vários períodos em situação de rua.
A exposição é o ponto de partida de um projeto coordenado por Marcus Lontra e Rafael Peixoto, que pretende dar visibilidade e reconhecimento para a qualidade artística e poética da produção de Manuel Messias dos Santos (1945-2001). A exposição será acompanhada de textos dos dois curadores e também do colecionador, curador e médico Ademar de Britto.
A segunda ação prevista no projeto consiste na publicação de um livro que se torne referência na pesquisa sobre a trajetória de Messias. Segundo Marcus Lontra e Rafael Peixoto, em função de uma biografia conturbada, marcada pela pobreza, pela situação de rua e por transtornos psiquiátricos, a obra e a vida de Messias sofrem com severo apagamento cultural, eco das desigualdades sociais, do racismo e da total marginalização dos indivíduos.
“O projeto do livro tem três eixos fundamentais: a pesquisa, a reprodução de obras e o embasamento crítico e teórico”, informam. Estão sendo levantados dados e informações que possam trazer uma cronologia mais precisa dos fatos que marcaram a trajetória de Manuel Messias. “Com mais de 200 artigos em jornais e publicações, pudemos comprovar a sua participação ativa na cena artística brasileira durante 30 anos, com exposições no Brasil e no exterior, sendo premiado diversas vezes e com unanimidade crítica a respeito de sua obra”.
A partir de intensa pesquisa foram rastreados mais de 180 trabalhos em acervos particulares e instituições. Como resultado desta investigação, foram recuperadas séries criadas por Manuel Messias que estavam ”pulverizadas em diversas coleções e que revelam uma produção constante, consciente e coesa, de elaborado senso estético e profundo conhecimento artístico”, contam Lontra e Peixoto. Autores de diversos campos do conhecimento – críticos, historiadores, antropólogos e psicanalistas que mantém estrita pesquisa vinculada à arte – foram convidados a refletirem sobre a produção de Manuel Messias, “abrindo um espaço amplo de pensamento”.
A exposição reúne xilogravuras, principal meio de trabalho de Manuel Messias, e também pinturas com tinta a óleo e pastel. São destaques as séries “Via Sacra”, “Your Life – M’fotogram” e um álbum em que o artista cria obras a partir de um alfabeto próprio carregado de referências históricas e da estética sintética que marca a sua produção.
“Sua produção, desde o início, apresentou forte caráter expressionista. Nos primeiros anos ficam claras as influências dos expressionistas alemães, das gravuras de cordel, dos quadrinhos e de importantes nomes da gravura brasileira como Goeldi e Grassmann”, comentam Marcus Lontra e Rafael Peixoto.
Negro e de uma família muito pobre, Manuel Messias migrou para o Rio de Janeiro aos sete anos acompanhando uma tia. Tempos depois sua mãe chega à cidade onde se emprega como trabalhadora doméstica na casa de Leonídio Ribeiro, diretor do Museu de Arte Moderna à época. No início dos anos 1960, ao ver que o menino desenhava, ele lhe deu uma bolsa de estudos com Ivan Serpa (1923-1973), que o estimulou a fazer xilogravura. Manuel Messias estudou ainda com o pintor, gravador e desenhista Abelardo Zaluar (1924 – 1987). A passagem de Messias como ajudante e arte-finalista em uma agência de publicidade ainda nos anos 1960 também foi fundamental para a criação de uma linguagem de alto poder sintético e comunicativo, que marca grande parte da sua produção, salientam Marcus Lontra Costa e Rafael Peixoto.
Mas a pobreza e a falta de estruturas que o amparassem, somadas a problemas psiquiátricos que Manuel Messias e sua mãe passaram a sofrer, o levaram ao extremo da exclusão social. Entretanto, apesar disso ele continuou produzindo, fazendo exposições e recebendo prêmios como os do MAM e do Museu Nacional de Belas Artes.
Manuel Messias chegou a morar em uma pensão na Lapa onde também vivia Cildo Meireles, e comprou uma casa na Cidade de Deus, com o resultado das vendas de uma exposição feita em 1974 na Bolsa da Arte, de Evandro Carneiro, e a partir da mobilização do circuito da arte. Mas em 1989, com o agravamento de sua condição financeira e também psiquiátrica, abandonou o lugar, dizendo ter sido expulso pela criminalidade.
A partir daí passou a morar, sempre com a mãe, em ruas próximas às casas de amigos, como a artista Martha Pires Ferreira – que trabalhou anos a fio com a dra. Nise da Silveira – que o amparava e comprava material para suas obras, e guardava suas gravuras.
Marcus Lontra e Rafael Peixoto observam que, apesar da falta de estrutura em que vivia, Manuel Messias era “um leitor compulsivo, com um profundo conhecimento sobre arte e uma ampla bagagem cultural”.
SERVIÇO: “Manuel Messias – Do Tamanho Do Brasil”
Danielian Galeria, Gávea, Rio de Janeiro
10 de setembro a 22 de outubro de 2021 [protocolo anti-Covid, agendamento prévio]
Rua Major Rubens Vaz, 414, Gávea, Rio de Janeiro, CEP 22470-070
Telefone: +5521.2522.4796
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