ID:Rio Festival: No Moda Summit, o upcycling e a ênfase em reaproveitar e ressignificar peças de descarte dando novas alternativas ao produtos


Entre os dias 15 e 17, no Reserva Cultural, em Niterói, o Estado do Rio será epicentro de evento multiplataforma da moda autoral e criativa. E, compartilhando experiência e conhecimento sobre o tema, a designer Mirella Rodrigues, fundadora do projeto Think Blue, vai realizar palestra mostrando como utilizar a moda como ferramenta de transformação na sociedade. “Vou falar sobre uma moda mais limpa, mais sustentável e consciente através da técnica do upcycling. No final, vou realizar uma demonstração simples para que o público consiga compreender que criar novos produtos a partir de uma matéria-prima descartada é possível e extremamente necessário”

Mudanças de hábitos e padrões de comportamento que vinham se desenhando ou mudando lentamente tiveram uma forte aceleração com a pandemia. O consumidor vem repensando tanto a forma de comprar quanto a quantidade, periodicidade e relevância do que adquire. O comportamento para um consumo mais consciente veio para ficar. Mais do que nunca é preciso entender os sentimentos do consumidor, produzindo algo que vá ao encontro dele, mantendo os princípios da marca. O cliente já tem consciência que o ato de consumir afeta não apenas quem faz a compra, mas também o meio ambiente, a economia e a sociedade como um todo. E quer saber mais: do que o produto é feito, quem o fabricou, de onde vem a matéria-prima, se a empresa se preocupa com esse processo e com o pós. Fazer moda hoje vai além de desenvolver uma identidade e estar atento às inspirações do mercado.

John Donne diz que “nenhum homem é uma ilha”, e refletindo sobre a frase poderíamos mesmo dizer que nenhum consumo se dá isolado da sua repercussão no todo. E é para pensar junto sobre o tema e alternativas, que o Estado do Rio recebe o ID:Rio Festival, com programação 100% gratuita, que fará a sinergia entre moda, cultura, capacitação, empreendedorismo e música. Realizado entre os dias 15 e 17, no Reserva Cultural, em Niterói, o festival terá como parte integrante o Rio_Moda_Summit, maratona de palestras, talks e mesas redondas com curadoria do SENAC RJ. E no dia 16, vamos conferir in loco a demonstração batizada Upcycling: Consumo e produção consciente.

Mirella Rodrigues: "Vou realizar uma palestra sobre uma moda mais limpa, mais sustentável e consciente através desta técnica" (Divulgação)

Mirella Rodrigues: “Vou realizar uma palestra sobre uma moda mais limpa, mais sustentável e consciente através desta técnica” (Divulgação)

Com o consumidor cada vez consciente e ligado à questão ambiental é fundamental substituir o processo linear de produção (em que a matéria-prima é transformada em produto, que é posto à venda, comprado e consumido e, ao fim de sua vida útil, descartado) pelo circular (no qual o produto é produzido com o mínimo desperdício de recursos, é comprado e consumido, reutilizado o máximo possível e descartado de maneira a não agredir a natureza. E o upcycling tem feito a diferença ao selecionar, analisar, reaproveitar e ressignificar peças de descarte de marcas parceiras, dando nova vida a esses produtos, reduzindo os danos ambientais do setor e promovendo a economia circular e a gestão dos resíduos sólidos de forma inovadora e criativa.

Conduzida por Mirella Rodrigues, que vai oferecer a perspectiva do termo ‘upcycling’ no segmento de moda, a demonstração vai abordar um pouco da própria experiência da designer. Com formação em moda, Mirella criou a Think Blue, em 2014, e optou por ressignificar peças que seriam descartadas. Seu objetivo é prolongar o ciclo de vida e mostrar um design incrível, utilizando a moda como uma ferramenta de transformação da sociedade.

“Vou falar sobre uma moda mais limpa, mais sustentável e consciente através desta técnica. No final, vou realizar uma demonstração simples para que o público consiga compreender que criar novos produtos a partir de uma matéria-prima descartada é possível e extremamente necessário, visto que a indústria da moda é uma das que mais poluem o meio ambiente. Criar produtos mais coerentes com as demandas ambientais e sociais é um dever de toda a sociedade. Sendo assim, o objetivo principal da minha apresentação é mostrar que isso é possível no campo profissional e também nas nossas ações diárias como consumidores e agentes da mudança”, detalha a designer.

"Desde o início do projeto me aprofundei não só nas problemáticas ambientais da produção do jeans, mas também nas questões sociais" (Divulgação)

“Desde o início do projeto me aprofundei não só nas problemáticas ambientais da produção do jeans, mas também nas questões sociais” (Divulgação)

Com forte posicionamento político e ativista, Mirella criou a Think Blue, com o objetivo de ser mais que uma marca, mas um projeto, e optou por trabalhar com mulheres e o público LGBTQIA+. “Só o fato de ter nascido mulher já me faz ser parte de uma minoria silenciada, excluída e subestimada na sociedade e sobretudo no campo profissional. Sendo assim, desde o início do projeto me aprofundei não só nas problemáticas ambientais da produção do jeans, mas também nas questões sociais. Mulheres são as mais exploradas e menos valorizadas nessa indústria desde a Revolução Industrial. Somos as que menos ganham, na  maioria das grandes empresas e grupos, os donos são homens, mas são as mulheres que fazem ( e também compram) as roupas, somos a peça principal dessa cadeia. Sendo assim, escolhi por trabalhar somente com mulheres independentes e que cansaram de ser exploradas nesse mercado, contribuindo para o desenvolvimento e empoderamento profissional”, pontua, acrescentando: “Meu objetivo é incentivar a valorização da mão-de-obra, estimular o desenvolvimento profissional e também contribuir para que costureiras e modelistas compreendam o seu papel nesse mercado para que possam exigir respeito e valorização”.

Nascida e criada no subúrbio carioca, em uma comunidade em Ramos, ela conhece as demandas sociais de perto. “Estudei em escola pública ate terminar os estudos. Comecei a trabalhar com 16 anos como menor aprendiz em duas grandes empresas, e aos 18 fui trabalhar em uma loja de telefonia móvel no Centro do Rio, de onde sai para trabalhar com promoções e eventos. Foi aí que comecei a olhar de uma forma diferente para a moda, mesmo assim, estudar moda realmente não era algo dentro da minha realidade de vida. Mas, aos 24 anos, entrei numa relação que me proporcionou o privilégio de estudar moda. “Não entrei na faculdade sonhando ter uma marca. Foi algo que aconteceu naturalmente. E através do aprofundamento nos estudos e pesquisas sobre sustentabilidade, eu percebi que existia a oportunidade de uma moda que não focasse somente na estética, no glamour, na ostentação, na exclusão e no elitismo. Existia um caminho com mais verdade e que fazia mais sentido com a minha origem, minha essência e meus valores”.

"Percebi que existia a oportunidade de uma moda que não focasse somente na estética, no glamour, na ostentação, na exclusão e no elitismo, existia um caminho com mais verdade e que fazia mais sentido com a minha origem, minha essência e meus valores" (Divulgação)

“Percebi que existia a oportunidade de uma moda que não focasse somente na estética, no glamour, na ostentação, na exclusão e no elitismo, existia um caminho com mais verdade e que fazia mais sentido com a minha origem, minha essência e meus valores” (Divulgação)

Mirella Rodrigues também compartilha o que projeta para a Think Blue neste mundo ainda em pandemia e no pós: “Pretendo continuar a minha caminhada com verdade e propósito, sem ganância ou grandes ambições, acredito que quando falamos em sustentabilidade, enfrentamos  a ambição também, pois é o querer mais demasiadamente que causa grandes transtornos na sobrevivência humana e não humana, sendo assim, pretendo continuar com a minha marca produzindo peças únicas, artesanalmente, peça por peça, sem necessidade de escala, sem explorar pessoas, sem poluir os rios e oceanos, sem manipular minhas consumidoras com campanhas enganosas de marketing, dormindo em paz todos os dias em comunhão com o que eu penso, desejo e faço”.

"Pretendo continuar produzindo peças únicas, artesanalmente, peça por peça, sem necessidade de escala, sem explorar pessoas, sem poluir os rios e oceanos, sem manipular minhas consumidoras com campanhas enganosas de marketing" (Divulgação)

“Pretendo continuar produzindo peças únicas, artesanalmente, peça por peça, sem necessidade de escala, sem explorar pessoas, sem poluir os rios e oceanos, sem manipular minhas consumidoras com campanhas enganosas de marketing” (Divulgação)