Gêmeos percussionistas são baleados em Salvador e Caetano Veloso lamenta: “É doloroso ver o crescimento da violência na capital baiana”

Caetano Veloso veio a público falar sobre a morte de Josino Eduardo Santos Rodrigues e a tentativa de assassinato de seu irmão gêmeo, Josino Santos Rodrigues, neste final de semana, em Brotas, bairro da periferia de Salvador (BA). Ambos são percussionistas e já trabalharam, além de Caetano, com Gilberto Gil, a banda Babado Novo e o cantor Saulo Fernandes. Du e Jô, como eram conhecidos, estavam com um grupo de amigos na rua onde moravam quando três homens armados chegaram efetuando disparos de arma de fogo. Josino Eduardo foi atingido por vários tiros em diversas regiões do corpo e não resistiu aos ferimentos. Eduardo Josino, por sua vez, foi atingido por quatro disparos de arma de fogo, na região do tórax, quadril e costas e segue internado.

Gêmeos durante apresentação com Caetano Veloso
(Foto: Reprodução/YouTube)

Segundo Caetano, “é doloroso ver o crescimento da violência na capital baiana” e é “dilacerante saber que Jô morreu estupidamente e Du está hospitalizado com ferimentos a bala”. “Eduardo Josino e Josino Eduardo estão e estarão sempre no nosso coração. O sofrimento pelo que aconteceu com eles é maior do que podemos descrever e mesmo suportar neste país em momento de desesperança. Mas os dois aprimoraram a alma do Brasil com sua música. E Du, que sobreviveu à brutalidade, há de poder seguir enriquecendo nossas vidas tão maltratadas”, disse ele, que publicou em suas redes sociais dois vídeos com os gêmeos. Em um deles, os apresentava durante uma participação no “Programa do Jô”, e no segundo, os irmãos sambavam durante a música “How Beautiful Could a Being Be”, no ano de 1998.

Abaixo, Caetano toca “How beautiful could a being be” com seu filho Moreno, Davi Moraes e os percussionistas Eduardo Josino e Josino Eduardo

Caetano lembrou ainda de como eles se conheceram. “Du e Jó me chegaram como dois anjos idênticos. Carlinhos Brown foi quem os recomendou. Brown profetizava cenas de show em que os gêmeos, além de tocar percussão, dançariam lindamente sob as canções do repertório de Livro Vivo (que era o nome do show que virou o CD Prenda Minha). No primeiro ensaio, mencionei aos dois a possibilidade da dança. Eles disseram que Brown era maluco, que eles nunca souberam sambar. Gravamos o disco (um dos meus trabalhos favoritos) e quando chegamos ao palco ficou provado que Brown é que tinha razão. Os belos adolescentes pretos do Engenho Velho de Brotas não apenas eram percussionistas perfeitos como sambavam como pequenos deuses”, relatou.

Sem economizar nos adjetivos e na homenagem, Caê ainda disse que eles “faziam do espetáculo uma experiência exuberante e refinada” e fez questão de frisar: “Todos os que trabalhamos com eles os adoramos. Eram a personificação da humanidade da Cidade da Bahia”. Carlinhos Brown, por sua vez, disse que lamenta “profundamente este acontecimento” e que os gêmeos eram “dois ex-alunos de disciplinas incríveis”. E disse: “A violência urbana tem deixado vítimas e desta vez tirou a vida de um grande talento como este que só se esforçou pela alegria. Meus mais profundos sentimentos à família”. Márcio Victor, vocalista do Psirico, que tocou com os irmãos antes da fama, não se pronunciou até agora. Saulo Fernandes seguiu pelo mesmo caminho. Gilberto Gil também não falou. Josino Eduardo já foi enterrado e a Polícia Militar de Salvador ainda não identificou os autores dos disparos.