Chamando “Mister Brau” de “choque cultural”, “The Guardian” classifica Taís Araújo e Lázaro Ramos como “o Jay-Z e a Beyoncé brasileiros”


Em extensa reportagem, o jornal britânico usou o seriado global para contrapor uma complicada situação: “Apesar da maioria da população ser negra ou mestiça, a TV brasileira é esmagadoramente dominado por brancos – dentro e fora da tela”

Um choque cultural. É assim que o “The Guardian”, principal impresso britânico, define “Mister Brau”, seriado de comédia estrelado pelo casal Taís Araújo e Lázaro Ramos nas noites de terça-feira da Rede Globo. Comparando a dupla de atores como “o Jay-Z e a Beyoncé brasileiros” a reportagem assinada por Bruce Douglas incensa o fato de um programa de televisão ter como protagonista “um casal de negros em um papel de liderança” e que isso, para o Brasil, “não tem precedentes”. O motivo? “Apesar da maioria da população ser negra ou mestiça, a TV brasileira é esmagadoramente dominada por brancos – dentro e fora da tela”, alerta a reportagem.

O casal Lázaro Ramos e Taís Araújo: parceria dentro e fora de cena consagrada por jornalão europeu (Foto: AgNews)

O casal Lázaro Ramos e Taís Araújo: parceria dentro e fora de cena consagrada por jornalão europeu (Foto: AgNews)

A trama em que Brau se torna um artista de sucesso e, junto da esposa Michele, se muda para uma luxuosa mansão na Zona Oeste do Rio de Janeiro passando a fazer da vida de um casal de “vizinhos brancos e esnobes” um terror, foi classificada como “um sucesso entre os críticos e o público, marcando alta audiência”.

O elenco do seriado reunido no jardim da mansão Brau, palco de muita diversão e brigas entre os vizinhos (Foto: AgNews)

O elenco do seriado reunido no jardim da mansão Brau, palco de muita diversão e brigas entre os vizinhos (Foto: AgNews)

E esse histórico de preconceito na sociedade, que pontua a reportagem do jornal britânico, foi constatado com um dado importante: 75% dos papéis para atores negros no Brasil são de personagens em situação de subserviência. O casal Brau, portanto, vem romper com esse estigma. “Os papéis representam a forma como a sociedade brasileira gosta de ver pessoas negras: como moradores de favelas, empregados domésticos e criminosos. E isso ainda está acontecendo hoje”, disparou o pesquisador Joel Zito Araújo, ouvido pela reportagem em questão.

Em tempo: no mesmo passo que aclama “Mister Brau”, o “The Guardian” tirou do fundo do baú a série “Sexo as nega”, de Miguel Falabella. Segundo o texto, a produção “terminou depois de uma temporada, após críticas generalizadas”, já que os personagens reafirmavam “estereótipos negros”; ao mesmo tempo que lembrou de Maria Júlia Coutinho, primeira garota do tempo negra do “Jornal Nacional”. “Ela é o que o Brasil moderno gostaria de parecer. Sua ascensão foi meteórica e seu futuro dentro da Globo é muito brilhante”, frisou Tony Goes, roteirista entrevistado.