Casa de Criadores: Das alquimias de Ellias Kaleb sobre natureza e vestir ao manifesto de Nalimo pelos povos indígenas


Nos 25 anos da Casa de Criadores, as propostas de F. Kawallys, Nalimo, Studio Ellias Kaleb, Shitsurei, Guma Joana, Yebo e Dario Mittmann

Após dois anos em formato digital, a Casa de Criadores (CDC) deu o start aos desfiles presenciais e comemorou seus 25 anos de criação com edição #50. Este ano, o evento está sendo realizado no Super Loft, localizado na Rua Venceslau Brás, 61, na Sé, em São Paulo. No primeiro dia, conferimos as propostas de F. Kawallys, Nalimo, Studio Ellias Kaleb, Shitsurei, Guma Joana, Yebo e Dario Mittmann.

F. Kawallys

O upcycling foi o protagonista em um mix de novos materiais, estampa do artistas paraense Rege Dantas e frases de Belém do Pará. A trilha ficou por conta da Miss Tacacá.

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Nalimo

“Memória é a linguagem da terra, a lembrança que fala com a gente quanto natureza. Portanto, chuva, nunca é só chuva. Existem diversas histórias de chuvas segundo os ancestrais. Os encantados que sobem aos céus e choram para que chova. Memória também é rio doce, suave e continuo que leva nosso corpo para o outro lado da margem. Memória é pescaria e tapioca fresquinha. Memória é floresta que nos dá energia para protege-la. Memória é afeto, morada, lar, maloca. Lugar de descanso, força e simplicidade. Memória é cafuné, abraço de vó e cheiro de alecrim. Memória é recontar história de quem somos, para nunca esquecer de onde originamos.”

A moda da Nalimo é política, ativista e originária. Autêntica, minimalista e plural. A paleta de cores da coleção, faz referência aos códigos ancestrais da marca; preto do jenipapo, simbolizando o luto nos territórios indígenas guarani kaiowá e yanomami; o branco traz a simbologia da culinária, a tapioca, o beiju, o peixe; o cinza da crise climática e desmatamento da floresta; os diferentes tons de bege, remetem aos tons de nossa pele;  e o vermelho, a luta e resistência dos originários dessa terra.

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Studio Ellias Kaleb

Studio Ellias Kaleb apresentou na Casa de Criadores desdobramentos da natureza que nos cerca em forma de vestir. As criações foram permeadas pelas indagações: Como o sistema solar segue a mesma lógica de uma célula atômica?; E como isso se reflete no bater de asas dos pássaros? Ou no desenrolar do crescimento de uma flor? Como a estrutura do DNA constrói tudo que é vivo?

São questionamentos traduzidos em forma têxtil em um processo compartilhado de conhecimento. Com beleza assinada por Almanegrot, Styling de Serpente e apoio de Santista têxtil, o trabalho do Studio Ellias Kaleb ganha novas formas vivas. O laboratório de criação e desenvolvimento que prioriza estudos e peças sob medida. Roupas sem gênero em um olhar conceitual, para vestir e para sonhar. Em coleções com olhar de novas possibilidades do fundador Ellias Kaleb, estruturas por vezes invisíveis que se traduzem através da forma. A marca desfila pela oitava vez consecutiva como convidada na Casa de Criadores.

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Shitsurei

Ama são mulheres enigmáticas do mar. Elas foram registradas pela primeira vez na mais antiga antologia japonesa do século 8. As moças colhiam conchas de algas, além do mais próspero abalone com pérolas, mergulhavam em água frequentemente congelantes, por 2 minutos de cada vez. Tomokazuki é uma lenda gerada por essas mulheres, que contam que esse ser é uma espécie de doppelganger. Assume a aparência da ama que a vê, e rouba seu lugar no mundo.

Na maioria das vezes, as histórias de encontros com Tomokazuki são descartadas como alucinação ou delírio causado pelo estresse do mergulho profundo – alta pressão, falta de oxigênio, exaustão física e medo de ser arrastada e engolida. “Essa coleção é a parte 3 de uma trilogia que documenta minha relação com as gerações da minha família materna. Nessa parte final, falo de um traço que, infelizmente, permanece. Esse traço é gélido, silencioso, e causa, assim como o fundo do mar, o surgimento de Tomokazuki, um delírio dolorido, que me torna, a cada gelo, menos humana”, comenta Marcella Maiumi, 27, ilustradora e tatuadora e à frente do projeto. A marca produz pinturas no pano e na pele.

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Guma Joana

A coleção “D3SD1T4 #04” foi desfilada dia 6 de Julho de 2022, mesma data em que Marsha P Johnson – ícone figura de militância da causa LGBTQIA+, mulher trans preta – foi assassinada e encontrada em um rio de Nova Iorque, exatos 30 anos atrás. Esta coleção é um ODE à Marsha e a todas as vidas trans que foram e continuam sendo interrompidas durante todos estes anos.

“Será que a nossa maior vingança enquanto pessoas trans não seria então estarmos vivas?”, indaga Guma Joana, artista travesti que se define como transdisciplinar e iniciou seu projeto em moda com o desejo de unir pessoas transgênero, intencionalmente criando obras digitais em formato de manifesto, sustentando a ideia da capacidade e excelência do trabalho e trajetória. Na 50a edição da Casa de Criadores, Guma Joana apresenta sua primeira coleção presencial, com colaboração das marcas GUST e AMORTRASH, além de styling assinado por Naska Regina.

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Yebo

A Yebo é uma marca de streetwear que tem como objetivo trazer o protagonismo feminino negro para a cena de forma conjunta a música, o teatro, cinema, a luta e a rua. A marca apresentou na Casa de Criadores uma  proposta inspirada no “Black Horror”, no qual o terror é contado e protagonizado por pessoas pretas. O conceito do desfile foi idealizado e desenvolvido por Domenica Dias, uma jovem preta que, além de conduzir a marca Yebo, é estilista, atriz e poetisa e modelo. Domenica buscou referências a partir do livro “Horror Noire: A Representação Negra no Cinema de Terror” da autora Robin R. Means, que se ocupou com uma extensa pesquisa sobre o assunto e mapeou como o terror utilizou a imagem das pessoas negras desde o fim do século XIX, o que contribuiu com diversas informações e interpretações à luz de questões raciais, diferenciando o “Terror com negros” de um legítimo “Terror Negro”, o que deve ser evidenciado essencialmente no roteiro. Paralelamente, e também utilizado como inspiração, o “Blaxploitation”, movimento cinematográfico que surgiu na década de 1970, oferece um rico estudo de caso, ressignifica o papel do negro em busca de uma nova audiência e representação, reúne filmes protagonizados e realizados por atores, diretores e produtores pretos e pretas.

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Dario Mittmann

Dario Mittmann traduz sua marca como uma representação física e criativa da fuga da realidade através do escapismo, transgredindo o real por meio da moda  em uma perspectiva fantasiosa, para que as pessoas possam se abrir para novas atmosferas de experimentação. O divertido, o sarcástico e o nostálgico se unem a uma perspectiva pop para ironizar os sentimentos (im)previsíveis e constantes que constituem o “ser-humano”.

A coleção foi inspirada no hormônio da alegria. Neurotransmissor do corpo humano, despertado por tudo aquilo que nos traz prazer, nos aguça os sentidos e faz acelerar o coração. Baseado no êxtase das boas emoções que revigoram, curam e fazem nos sentirmos vivos, Dario Mittmann intitula sua nova coleção “Serotonina”. Em um momento em que o mundo se regenera do caos, deixamos para trás o medo e a solidão, agora o toque e calor são novamente possíveis. A felicidade de sentir-se humano está aqui novamente.

O design da coleção toma como signo os estímulos sensoriais e físicos que despertam em nós o sentimento de alegria, euforia e prazer: um doce paladar, a adrenalina desportiva ou a sensualidade de uma madrugada festiva. As roupas são estímulos visuais, através de cores, shapes e materiais que dilatam as pupilas do público.

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