Autoridades de cidade canadense decidem apagar pinturas de arco-íris das esquinas e enfurecem LGBTQs em todo o país


Homenagem era renovada desde 2016. Agora, a prefeitura de Moncton alega ‘questões de segurança’ para voltar às tradicionais faixas brancas de pedestres

*Por Jeff Lessa

Se você é daqueles que acreditam piamente que homofobia mal disfarçada é um fenômeno típico dos países do lado de baixo do Equador saiba que está muito enganado. No rico e civilizado Canadá, uma decisão das autoridades da cidade de Moncton, a maior da província de New Bunswick, com 85 mil habitantes, gerou polêmica – e tornou-se um dos assuntos mais comentados no país. Seguinte: em 2016 e 2017, a prefeitura mandou pintar as cores do arco-íris em cruzamentos do downtown, substituindo as faixas brancas tradicionais, para homenagear pessoas que se identificam com as sexualidades LGBTQs. Um doce, não? Só que, no fim do ano passado, a proposta foi abandonada assim, sem explicação. Cobradas, as autoridades locais alegaram “questões de segurança”. Ah, tá.

Em Castro, bairro mais gay de São Francisco, a faixa de pedestres nas cores do orgulho não parece incomodar (Getty Images – Lonely Planet Images)

A questão ganhou vulto recentemente. De acordo com a porta-voz do governo, Isabelle LeBlanc, as autoridades encomendaram um estudo pormenorizado à Associação de Transportes do Canadá e pretendem analisar cuidadosamente o resultado antes de autorizar novas intervenções nas passagens de pedestres. Até lá, as cores azul, verde, amarelo, laranja e vermelho que davam vida às esquinas de Moncton vão sumir. As autoridades garantem que tomaram a medida depois de ouvir queixas de alguns moradores. Segundo eles, as cores causavam “confusão” na hora de atravessar a rua, colocando suas vidas em risco. Ahn-ham…

No Canadá, a cidade de Moncton, de 85 mil habitantes, está apagando as faixas pintadas com as cores do arco-íris

Erica Andersen, porta-voz da Associação de Transportes, afirmou que pesquisas extras com pinturas decorativas nas sinalizações no asfalto teriam que ser feitas, uma vez que o resultado até o momento foi considerado insuficiente para se chegar a uma conclusão definitiva. Andersen acrescentou que o projeto da nova pesquisa será proposto no próximo outono (a partir de setembro no Hemisfério Norte) para “analisar os impactos sobre a percepção de motoristas e pedestres, nos níveis de distração de ambos, além dos efeitos que causam em carros automáticos e nos sistemas de assistência médica”.

Falando pelas autoridades da cidade, Isabelle LeBlanc estima que os resultados da pesquisa estejam à disposição para consulta “em algum momento de 2021”. A resposta pode ser vaga, mas é o que temos para hoje.

A questão é que a parte mais interessada no assunto, os membros da comunidade LGBTQ, não estão engolindo com facilidade essa história. “Até onde a gente sabe, nenhuma outra municipalidade voltou atrás na decisão de pintar faixas com as cores do arco-íris”, disse, esta semana, Charles MacDougall, coordenador da organização sem fins lucrativos River of Pride, criada para apoiar a comunidade LGBTQ de Moncton. “É um processo demorado e burocrático, complicado demais para o nosso gosto. Isso é extremamente frustrante, e chega mesmo a ser irritante”.

‘Não se trata apenas de uma faixa de pedestres’, dizem os organizadores do protesto em Moncton

A representante do governo se apressa em garantir que não há qualquer má vontade em relação ao povo LGBT: “No ano passado produzimos 40 bandeiras do arco-íris para serem alinhadas ao longo de toda a Main Street”, lembra. “Vamos repetir a iniciativa este ano e muito provavelmente pelos próximos anos também”. As bandeiras deverão ser instaladas pouco depois de 7 de julho e permanecerão na rua até o fim de agosto.

É… Como se quarteirões e mais quarteirões de bandeiras coloridas tremulando ao vento distraíssem menos os passantes que arco-íris pintados no chão… A ver.