Astrid Fontenelle quebra o silêncio e diz que já sofreu assédio sexual por três vezes durante sua adolescência: “Me sentia muito culpada por ser desejada”


Apresentadora do “Saia Justa”, no GNT, ainda contou que nunca teve coragem de revelar para a família os casos de violência

Precisamos falar sobre a violência sexual contra a mulher não uma, não duas, mas todas as vezes que pudermos. Em tempos de violência e intolerâncias contra a liberdade sexual feminina, diversas mulheres e formadoras de opinião decidiram quebrar o silêncio e contar suas experiências com o machismo. Desta vez foi Astrid Fontenelle que soltou o verbo e revelou, durante uma entrevista à “Marie Claire”, já ter sido vítima de abuso sexual por três vezes durante sua adolescência, inclusive por um ex-namorado de sua mãe. A apresentadora do “Saia Justa”, no GNT, no entanto, aposta na educação de seu filho para reverter o quadro. “A violência é algo muito presente na vida de qualquer menina mesmo que seja criada dentro de um condomínio com carro blindado. Eu não tive uma infância assim, era mais exposta. Meu primeiro susto foi aos 13 anos dentro de um ônibus. Estudava na Tijuca e morava no Méier. Todos os dias pegava o mesmo ônibus saindo da escola. Um dia, enquanto eu estava sentada, um homem colocou o pinto enorme para fora e eu saí correndo de dentro do ônibus, desci até em outro ponto. Um horror! E nunca contei para minha mãe”, contou.

Astrid Fontenelle (Foto: Divulgação)

Astrid Fontenelle (Foto: Divulgação)

Em outro momento da entrevista, Astrid ressaltou que até um namoradinho dos tempos de colégio tentou a violentar. “O segundo foi aos 15 e eu já morava na Tijuca. Estudava num colégio de freiras e sempre ficava um grupinho de meninos, que não era na mesma escola, mas se reunia na casa de sucos da esquina com a gente. Dentro desse grupo, tinha um cara que se destaca, ele era todo bonitão. E um dia me chamou para ir à casa dele. Fui porque ele era gato e eu queria namorá-lo, mas não queria transar com ele. Eu era virgem na época. Nunca mais vou esquecer. Ele morava no primeiro andar. Quando cheguei, esse garoto que era mais velho e mais forte, começou a me pegar por trás, a me forçar. Me lembro de falar: “Eu não quero, eu sou virgem.” Comecei a gritar, consegui me libertar dele e fugi. Quando passei pela portaria, o faxineiro e o porteiro do prédio estavam rindo. Hoje o que concluo é que era algo que devia ser comum ali. Anos depois eu o reencontrei numa festa na casa de uma amiga em comum e uma hora ele me pegou pelo braço. E eu disse: hoje vai ser diferente. Na melhor das hipóteses eu te levo pra delegacia e ferro com a sua vida. Aí ele me soltou”, revelou.

No entanto, o mais doloroso, segundo ela, teria sido a situação que passou com o padrasto. Por se tratar de um namorado de sua mãe à época, a apresentadora chegou a se sentir culpada com o assédio. “O terceiro caso é mais triste porque era um namorado da minha mãe, quando eu também tinha uns 15 anos. Ela foi trabalhar em São Paulo e eu fiquei no Rio morando com ele. Era um cara adorável, gente boa. De repente um dia eu acordo com ele me bulinando. Fiquei paralisada como eu tivesse tomado um choque. Aí me mexi e ele saiu do quarto. Passei a viver em pânico com ele. A minha mãe só voltava de final de semana. O meu maior medo foi o de destruir o sonho dela. Imagina eu contar! Ela adorava esse cara. Depois disso, às vezes ele entrava no quarto e eu já falava: ‘O que foi? perdeu alguma coisa aqui?’ ou às vezes eu estava dormindo, ele encostava em mim, eu já acordava e ele falava que tinha vindo me cobrir. Comecei a trancar o quarto. A minha mãe me dava bronca por eu trancar a porta e eu não dizia a verdade, passei a mentir. Você acha realmente que o teu corpo é o pecado, que você é o pecado. Me sentia muito culpada por ser adolescente, ter peitinho e ser desejada por quem não deveria. Ela morreu sem saber da verdade”, completou.