O cinema mundial acordou mais triste hoje. Aos 70 anos, o diretor Hector Babenco morreu ontem à noite no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, vítima de uma parada cardíaca. Babenco deu entrada e foi internado no hospital na terça-feira para tratar de um quadro de sinusite. Segundo a produtora do cineasta, que era argentino mas escolheu o Brasil como país do coração, ele estava reagindo bem ao tratamento quando teve a parada repentina. O velório será amanhã na sala BNDES, da Cinemateca Brasileira, em São Paulo.
Em choque, a atriz Bárbara Paz, que era casada com o cineasta, contou ao jornal O Globo sobre o momento de planos e felicidade que o casal estava vivendo. “Ele fez minha vida ter sentido. Ele é e foi meu grande amor, meu grande amigo, meu grande parceiro. Não estou conseguindo suportar. Estávamos numa caminhada linda. Criando e sonhando juntos. A morte agora não estava nos planos. Tá doendo muito”, declarou. A atriz, que começou a namorar com Babenco em 2007 e foi homenageada no longa “Meu amigo hindu”, o último trabalho do cineasta lançado no ano passado, ainda lembrou sobre a luta do amado que já tinha vencido um câncer linfático nos anos 1990. “Ele foi um leão, venceu todas as mortes que a vida o entregou. Transformou em poesia, em cinema. Deixou um legado inesgotável para o mundo”, completou Bárbara Paz.
Super querido e respeitado no meio cinematográfico, Hector Babenco recebeu, além da atual esposa, homenagens de diferentes artistas e colegas de profissão. A atriz Xuxa Lopes, com quem o cineasta foi casado antes de Bárbara e que fez parte do elenco de “Coração Iluminado”, filme que Babenco assinou em 1998, lembrou a energia e a vitalidade que o ex-companheiro tinha na vida. “Ele era um danado. Não era nada ‘docinho’, não. Era cheio de gás e planos, apostando que tudo ia dar certo. Em geral, o mais interessante era o seu desejo de trabalhar. Produzir um filme no Brasil é, meu Deus, um feito! E ele produzia. Quando tinha o desejo de realizar alguma coisa, ia até o céu, até as alturas. Essa garra foi o que o deixou vivo até agora. Essa garra de homem, uma coisa meio antiga mesmo, é outra coisa comovente. Ele travava uma guerra contra um inimigo: a merda dessa doença. É como se existisse um fogo constante dentro dele. Mesmo com câncer, saía para falar com atores e produtores, feito uma flecha. Queria alcançar a imagem perfeita numa cena. Às vezes, encarava desafios difíceis, mas cavava para fazer acontecer. Era um jeito dele, nem sempre possível de entender. Eu mesma, talvez, não gostasse disso, às vezes. Mas, acima de tudo, era uma pessoa viva, apesar das doenças”, comentou Xuxa Lopes, também em entrevista ao jornal O Globo.
“Não deu tempo, infelizmente”. Foi assim que Sônia Braga lamentou a morte do amigo Hector Babenco. Em sua conta no Instagram, a atriz, que participou do filme “O Beijo da Mulher Aranha” (1985), contou que o argentino seria uma das pessoas que ela iria rever agora em São Paulo. “O mundo às vezes nos distancia. Vivemos em cidades diferentes e não nos vemos. Acabamos vivendo, na lembrança, dos bons dias que passamos juntos e das alegrias que compartilhamos. Sempre serei grata a Hector pelos dias que passei filmando “O Beijo da Mulher Aranha”- que o levou, merecidamente, a concorrer ao Oscar. Vou sentir falta deste reencontro. Agora, indo a São Paulo para o lançamento de ‘Aquarius’, era uma das pessoas que iria rever. Não deu tempo, infelizmente. Siga em paz”, lamentou Sônia Braga.
Colega de profissão, o cineasta Walter Salles reverenciou Hector Babenco ao considera-lo “um dos maiores diretores da história do cinema brasileiro”. “Construiu uma obra única, aguda e original, que desvenda a dimensão da tragédia brasileira, mas também expõe nosso drama existencial, humano. “Pixote” é um filme extraordinário, um soco no estômago, assim como “Lucio Flávio, o passageiro da Agonia“. O mestre se vai, mas sua filmografia ampla e insubstituível sobreviverá ao tempo, como um dos mais potentes reflexos dos anos em que vivemos”, completou Salles.
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