Depois de Sandra Annenberg e Astrid Fontinelle revelarem que já foram vítimas de assédio e abuso sexual durante a infância e adolescência, agora foi a vez de Ana Maria Braga contar a sua história. Em entrevista à revista “Quem”, a apresentadora do “Mais Você” quebrou o silêncio e contou o que teve que fazer para se livrar das investidas de um homem com quem trabalhava na extinta TV Tupi.
“Quando comecei lá na TV Tupi (em 1977, aos 28 anos), sofri preconceito, sim. Era uma TV totalmente diferente desta com os executivos de hoje. Naquela época, a maioria das mulheres que trabalhava em TV era considerada presa fácil. Era um meio mais liberto do que a sociedade normal, por haver artistas, cantores… Eu recebi muitas propostas, tipo: ‘Te dou tal coisa se você me der tal coisa’. Não foi diferente à regra”, relatou ela, que, em um dos episódios, caiu da escada e quebrou um braço ao tentar fugir do agressor.
“Sempre acham que a culpa é da agredida. É difícil quebrar a cadeia do machismo burro e absoluto”, disse. “Para você ter uma ideia, eu saí correndo, porque o cara tentou me agarrar. Eu saí correndo! Estava no 12º andar e havia duas entradas. Ele tinha trancado a porta da secretária e eu não tinha percebido. Quando bati lá e não consegui, não tinha chave, fui para uma outra sala – que eu não sabia, mas era uma copa que dava em outra porta e, desabalada, rolei escada abaixo do 12º andar até o 8º. Caí de pernada, quebrei o braço e fui bater na porta do Severino, que já morreu e era diretor comercial da TV Tupi. Quebrei o braço!”, recordou.
Emponderada, Ana Maria, que ainda se recupera de um câncer no pulmão, fez um alerta para todas as mulheres: “Aprendi com a vida que o meu passado é composto da escolha que faço todo dia na hora em que acordo”, disse. “A sensação que tenho é que a palavra ‘empoderamento’ assusta muito aquela mulher lá do interior do país que não sabe o que é isso. Há uma exclusão. Em muitos lugares, as mulheres ainda são submissas, nunca trabalharam fora e, por incrível que pareça, são em grande número. Esse sistema paternalista que existia na época do meu pai, por exemplo, ainda não foi rompido”, ponderou a loura.
Além da experiência horrível dentro da extinta emissora, a apresentadora ainda relembrou outras situações em que se sentiu coagida e humilhada pelo simples fato de ser mulher. “Sofri assédio moral e sexual em várias situações. Aconteceram situações de partir para o pessoal mesmo, para o físico, e outras só de sugestão. Tipo, no fim de uma reunião: ‘Vamos jantar?’. E você tem a proposta de ser uma estrela, a Hebe Camargo da vida! Isso já existia. E não foi só meio de TV. Porque já trabalhei em grandes empresas também”, ressaltou ela, que também deixou um alerta: “Você chora bastante sozinha, e tem duas opções: ou atende a isso e vira amante do infeliz, o que não vai ter um caminhar muito bom, porque aquilo acaba; ou realmente briga para achar um caminho de verdade”. completou.
Artigos relacionados