A patrulha do “politicamente correto” ataca de novo: Reserva vira alvo por etiqueta bem-humorada e Rony Meisler se defende


Nas peças da marca, a instrução para lavagem “Dê para sua mãe, ela sabe o que fazer com isso” gerou comoção nas mídias sociais e um dos fundadores da grife sai no contra-ataque

*Por Júnior de Paula

A frase sempre esteve nas etiquetas de algumas peças da Reserva, mas só na semana passada ela foi o centro de uma discussão que começou em torno de um suposto machismo e foi parar em outras esferas, englobando o poder das redes sociais, gestão de crise, marketing e outras questões. A frase em questão dizia respeito ao modo como as roupas devem ser lavadas e terminava com a afirmação: “Ou dê para a sua mãe, ela sabe como fazer isso bem”. A foto da tal etiqueta foi compartilhada por Carolina Gê e elevava o tom na acusação sexista contra a marca carioca:

“MACHISTA! Mentalidade antiga, tacanha. Bem a cara de vocês mesmo. Só dão bola fora. Ficou feio, ficou escroto. Marca que faz piadinha com base em uma mentalidade machista não respeita seus consumidores”

(Foto: Reprodução | Facebook)

(Foto: Reprodução | Facebook)

Carolina, para sua surpresa, viu os comentários virarem um campo de batalha entre quem a apoiava e quem a chamava de desocupada, idiota, mal amada e outros desse linchamentos virtuais que o povo da internet adora propagar quando se trata de defender opiniões. A foto – já compartilhada quase mil vezes –  e o número de comentários só parou de crescer porque ela resolveu fechar para quem não fosse seu amigo, evitando, assim, o eterno embate. A marca se posicionou rapidamente, lá mesmo nos comentários onde tudo começou:

“Pessoal, lemos os comentários que vocês postaram por aqui e gostaríamos – e temos por dever – explicar que a nossa intenção com esse aviso é ressaltar que nenhum cuidado é tão especial quanto o cuidado de mãe. E que ninguém trata com tanto carinho da gente como elas. A última coisa que gostaríamos de transmitir é uma mensagem machista! Acreditamos que essa troca de opiniões é de extrema importância e ficaremos sempre muito atentos a ela. Obrigado e um grande abraço!”.

Mas os ataques e defesas continuaram, até que, neste domingo, Rony Meisler, um dos fundadores da Reserva, escreveu sobre o assunto também em seu perfil no Facebook e, além de reafirmar a posição da primeira resposta da marca a Carolina, sobre o fato de encararem mais como uma homenagem do que algo sexista, ele foi além e disse que no Grupo Reserva cerca de 60% da mão de obra é feminina e as mulheres recebem cerca de 20% a mais do que os homens. Algo que, como tudo mundo sabe, infelizmente não é tão comum. Com a palavra, portanto, Rony:

“Eu não sei lavar roupas. Sei fazer milhares de coisas, mas lavar roupas eu não sei. Prefiro não saber lavar roupas, do que não saber falar a verdade, do que não saber ajudar ao próximo, do que não saber amar, do que não saber ser correto ou educado. Enfim, cada um não sabe fazer o que quiser né? Eu não sei lavar roupas. E daí? Há 8 anos, quando montamos a Reserva e eu morava na casa dos meus pais, a minha mãe que lavava as minhas roupas, com todo o amor do universo (E eu tenho um baita orgulho de dizer isso)!

Por isso, resolvemos imprimir nas etiquetas de composição de nossas roupas (aquela que vem com instruções de uso e lavagem): “Dê para a sua mãe que ela sabe como fazer isso”. Uma clara e bem-humorada homenagem ao carinho que sempre recebemos de nossas mães. Nossos clientes amaram e muitos citam isso quando vão às nossas lojas e nos contam como suas mães adoraram quando mostraram este pequeno detalhe no interior de nossas peças para elas. Jamais poderíamos sequer imaginar que uma decisão tão carinhosa poderia se transformar em ódio ou em rancor. Nunca tivemos ou teríamos a intenção de ofender ninguém, principalmente as nossas mães!!! Só se fôssemos loucos.

Na semana passada, 8 anos depois, fomos violentamente atacados por um grupo que nos acusa de machismo pelo fato da tal etiqueta. Junto com elas, vieram centenas de robôs de mídias sociais para nos agredir e atacar em nossas mídias pessoais e profissionais. De cara, respondo a eles(as): Jamais, repito, JAMAIS, o politicamente correto irá nos parar ou sequer por um segundo nos fará repensar a forma como escolhemos ser e viver: LIVRES. Ao longo dos nossos 8 anos de vida temos lançado inúmeros projetos sociais vinculados à questão dos direitos humanos (onde inclui-se a questão do respeito aos direitos da mulher ). Sempre com a já conhecida irreverência da marca e sem nos preocupar com o politicamente correto na hora de nos comunicarmos. Não só porque somos assim, mas também por entender que, sendo assim, o impacto da comunicação sobre questões tão importantes seria muito maior.

No que diz respeito especificamente a mulher, nossa força de trabalho hoje é composta por 60% de mulheres e, além disso, na Reserva elas ganham em média 20% a mais do que os homens. Numa indústria como a moda, onde as mulheres representam 70% do mercado de consumo , mas os homens gerem o negócio e levam boa parte dos lucros, este é um fato incomum. E que fique claro: Isso nunca foi uma estratégia, foi apenas o natural. Resultado do mérito independente de cor, gênero ou condição social. E jamais falamos sobre isso para ninguém, esta é a primeira e única vez, por motivos óbvios. Enquanto nos chamarmos de machistas por conta de uma etiqueta com uma brincadeira tão inocente e, paralelamente, nós continuarmos fazendo o que temos feito no que diz respeito aos reais direitos das mulheres, seguirei dormindo feliz e muito mais tranquilo do que este ou aquele que, por parecer não ter muito o que fazer da vida, prefere gastar seu tempo promovendo coisas tão pequenas.

Convido-os, todos os envolvidos(as), a fazerem mais pelo país ao invés de promover o ódio e o repúdio nas mídias sociais! Contar história é muito mais fácil que fazer a história. Que façam história para além da retórica odiosa. A melhor resposta para eles(as) foi dada pela gigantesca maioria das pessoas neste ambiente das mídias sociais. Em repúdio ao politicamente correto, ao cerceamento da liberdade de expressão e ao ódio, fomos em peso defendidos pela gigantesca maioria das pessoas. Fico feliz não só pela marca, mas principalmente por este país que tanto amo. Aqueles que defendem a real liberdade jamais poderiam atacar esta mesma liberdade. Em meu nome e no de todos (as) os funcionários da Reserva (Homens e Mulheres), agradeço de coração os centenas de milhares de comentários nos defendendo e contando nossas histórias para aqueles (as) que optaram por atacá-las mesmo sem nunca terem se interessado em conhecê-la.

E, para terminar, uma frase da minha mãe, aquela que originou isso tudo: Quem planta amor colhe amor. Já quem planta outra coisa Poderíamos encerrar perguntando: e você, de que lado está? Mas não tem lado. Não tem certo ou errado, vilão ou mocinho. Cada um tem um ponto de vista e uma opinião sobre o tema, principalmente em tempos de superexposição proporcionado pelas redes sociais. O que vai-se percebendo com o tempo, à medida que vamos entendendo a internet, é que o que diferencia as pessoas e as colocam em lados opostos não é, portanto, o que você defende, mas a maneira que você escolhe para defender as suas ideias.”

* Junior de Paula é jornalista, trabalhou com alguns dos maiores nomes do jornalismo de moda e cultura do Brasil, como Joyce Pascowitch e Erika Palomino, e foi editor da coluna de Heloisa Tolipan, no Jornal do Brasil. Apaixonado por viagens, é dono do site Viajante Aleatório, e, mais recentemente, vem se dedicando à dramaturgia teatral e à literatura