Reginaldo Rossi e uma pensata: abaixo a ditadura do ser cool! Assuma a sua cafonice… por Junior de Paula


“Cafona com força, sem pudores, cafona com garbo e elegância. Cafona como os clichês, como karaokês, como eu, como vocês”, diz o jornalista e dramaturgo

* Por Junior de Paula

A morte de Reginaldo Rossi me fez questionar se a cafonice assumida estava sendo enterrada junto dos nossos ídolos do segmento. Vivemos cada vez mais uma ditadura do cool, na qual o que importa é estar à frente, é descobrir a nova banda mais incrível da última semana antes que todo mundo conheça, é usar a cor da moda antes que chegue à loja de departamento, é criar uma gíria que ainda não esteja na novela das 9, é frequentar lugares onde os turistas, esses cafonas, ainda não descobriram.

Eu tentei ser cool, mas não é para mim. Não nasci assim. Eu gosto mesmo é de ser cafona, de gostar da Madonna. Gosto de domingo, de assistir Faustão, de turistar feito gringo e de almoçar no Porcão. Gosto de sorrir no elevador, de inverno carioca com aquecedor e de não ter pudor em rimar amor com dor.

Sou cafona como shopping paulistano, como a turma da piscina do Fasano e as roupas da noite de fim de ano. Cafona como se expor, como morrer de amor e como quem exagera na cor. Cafona como cerveja no isopor, caipirinha de cachaça e ressaca de vodka Natasha. Cafona como Cabo Frio, como os clichês do Rio, como cruzeiro em navio. Cafona como novela, como mortadela, como serenata na janela.

Cafona como este texto; Cafona com força, sem pudores, cafona com garbo e elegância. Cafona como os clichês, como karaokês, como eu, como vocês. Abaixo a coolzice, assuma sua cafonice.

* Junior de Paula é jornalista, trabalhou com alguns dos maiores nomes do jornalismo de moda e cultura do Brasil, como Joyce Pascowitch e Erika Palomino, e foi editor da coluna de Heloisa Tolipan, no Jornal do Brasil. Apaixonado por viagens, é dono do site Viajante Aleatório, e, mais recentemente, vem se dedicando à dramaturgia teatral e à literatura.