Em tempos de crise, HT baixou em Vitória (ES) para saber mais sobre uma alternativa que está dando certo: a economia criativa!


Durante a oitava edição do Vitória Moda, conhecemos talentos capixabas que abusam da criatividade para se inserir ou se manter nesse mercado receoso. Tem de fotógrafo apostando em sousplats à cooperativa de mulheres interioranas

Vivemos tempos de economia receosa, onde as pessoas têm medo ou estão impossibilitadas de gastar e o mercado precisa lançar mão do malabarismo para fazer o que a gente fala quase que semanalmente neste espaço: fazer a economia girar. Na mesma linha tênue, bem sabemos que não há indústria da moda que não ande em passo marcado com o mercado. Logo, a saída para que tudo dê certo e a gente não chegue ao traço ou feche as portas? Se reinventar e apostar na economia criativa. E chegamos a essa constatação durante a nossa última passagem pelo Espírito Santo, onde acompanhamos a oitava edição do Vitória Moda no Centro de Convenções da capital. A semana de moda tem em paralelo um Salão de Negócios e um espaço dedicado à economia criativa. Muito interessante. Graças a realização do Sistema Findes, por meio da Câmara Setorial da Indústria do Vestuário, e do Sebrae/ES – este como correalizador -, tivemos a oportunidade de conferir in loco como essa vertente funciona e aprender com bons exemplos como sobreviver em tempos difíceis esbanjando criatividade.

Este slideshow necessita de JavaScript.

Leia também: como foi o primeiro dia de desfiles do Vitória Moda 2015

Para começar, quem bem traduz o que é essa economia criativa é o presidente da Câmara do Vestuário do Espírito Santo, José Carlos Bergamin. “A indústria tradicional perde força no mundo enquanto a criativa cresce. Quais são as empresas mais valiosas do mundo? Onde estão localizadas suas fábricas? A economia criativa não polui, remunera melhor, garante mais qualidade de vida aos trabalhadores, gera pouco impacto no meio ambiente, no âmbito social e na mobilidade”. Aprendido isso, fomos em busca de conhecer os talentos escolhidos a dedo para expor no salão do Vitória Moda munidos dos seguintes questionamentos na mente: “por que aquela economia era realmente criativa?” e “como usar dessa criatividade para driblar a crise?”. Pega na nossa mão e vem!

DSC_5486

José Carlos Bergamin, o presidente da Câmara do Vestuário do Espírito Santo (Foto: Cloves Louzada)

Leia também: o segundo dia de desfiles do Vitória Moda 2015

De início, fomos seduzidos pela arte da dupla Mônica Boiteux e Jud Mattos. Com a ideia que de “a arte capixaba não tinha identidade” na cabeça, elas foram até o Sul do estado, no município de Dores do Rio Preto, em uma época em que os agricultores não tinham o que colher e passaram a abrir uma alternativa de renda para eles e forneceram matéria-prima para elas. Lá nasce o papel artesanal rico em fibras vegetais que a dupla usa para criar utensílios mil: panos de prato, jogos americanos, canecas e por aí vai. Onde a questão de identidade entra? Na estampa, só dá o Espírito Santo: Parque da Cebola, Pedra Azul, Forte São João, Parque Moscoso e muitos outros pontos turísticos. O mais bacana dessa arte que nasce na região do Caparaó e termina na área metropolitana, é o trabalho social: detentas do presídio de Ubu colocam as mãos na massa e obtém redução de pena. Para Jud Mattos, “criatividade vem de dentro para fora”. “Nas adversidades, a gente encontra inovação. Como o produto industrializado é cobrado por um valor exorbitante, as pessoas estão buscando alternativas. Antes de ir na loja, agora o comprador procura um ateliê e buscar, por exemplo, algo que tenha um valor afetivo”, disse.

Este slideshow necessita de JavaScript.

Vem ver nossas impressões do terceiro dia de desfiles do Vitória Moda 2015

Não muito longe dali, a fotógrafa Mônica Zorzanelli também nos chamou atenção. Ela tinha muitas fotos arquivadas pelo seu trabalho atrás da grande angular e resolveu dar um jeito em compartilhá-las. “Nem sempre a gente consegue comercializar tudo, porque o mercado de fotos não é tão grande”, disse. A alternativa? Fazer sousplats fotográficos. “Foi o jeito que arranjei para dividir meus recortes das natureza. A pessoa pode usar para compor uma mesa linda, por exemplo. Mas também tem a foto no tecido que pode virar colete, saia (ela usa uma) ou vestido . Tudo a partir de um guia de armação que eu envio”, contou. E esse jeito de compartilhar imagens além das fotografias, fez Zorzanelli pensar melhor sobre o mercado. “É nessas horas de crise que temos que fazer algo diferente, com atitude. Quem trabalha com público A não tem o que fazer, só melhorar a comunicação. Quem trabalha com classe média é obrigado a achar uma alternativa de vender por um preço diferente. A gente tem é que pensar em fazer algo divertido, mais barato, de forma com que possamos vender. Vai ser díficil? Vai. Mas bem-vindo ao clube. Todos nós passamos por isso”, analisou com propriedade.

Este slideshow necessita de JavaScript.

Leia também: Da partitura cinematográfica da Camerata do SESI a uma viagem fashion com Claudia Matarazzo: o começo do Vitória Moda 2015

Mistura pouca era bobagem em outro ponto do Salão de Economia Criativa, o da La Puta Madre Tattoo Shop. Trata-se de um prédio em Vitória dividido em dois andares: no primeiro, uma lojinha super vintage (com produção de beleza) e no segundo um estúdio de tatuagem. Para o Vitória Moda, a loja foi escolhida. Nela, estão expostos achados e garimpos encontrados em bas-fonds inimagináveis. HT observou até peça da Turquia em meio a cocares, cordões e bonecas. Quem nos recebeu por lá foi Luara Zucolotto. Para a menina – toda estilosa ornando com o espaço -, fazer parte do lado B da arte tem seus momentos de glória. Esse período de crise é um deles. “Tem que ser criativo, estilizar, reutilizar. Não diria que nosso trabalho está mais fácil que da turma tradicional, até por que garimpar peças antigas não é fácil. Mas estamos em um caminho bom”, disse sorridente.

Este slideshow necessita de JavaScript.

Bem ali do lado encontramos peças criativas e com história das boas impregnada. Conversamos com dona Jussara Modesto,  62 anos. Ela levou um vestuário simples e com acabamento de primeira direto do município de Baixo Guandu. É lá que ela e 19 mulheres se juntaram para formar uma espécie de cooperativa do vestuário. “Minha arte é um sonho que está se realizando. Começamos a trabalhar faz menos de um ano, porque participamos de cursos antes”, contou a senhora, que, até então, se dedicava aos trabalhos do lar. “O espaço em que produzimos as roupas é da prefeitura. Os responsáveis cederam uma sala, conseguiram as máquinas, os tecidos e, agora, estamos costurando. No final vamos dividir tudo”, explicou Jussara toda orgulhosa. Crise? Assunto mais chato para conversar com uma costureira de mão cheia vendo o sonho ali exposto. “A crise chegou em Baixo Guandu faz tempo, mas não nos afetou, porque já estamos com material comprado e pago. Agora é só trabalhar e vender”, contou dona Jussara. Criativa até dizer chega.

Este slideshow necessita de JavaScript.

Leia também: Roda de negócios, salão de economia criativa e mais: os diferenciais do Vitória Moda

Business

A oitava edição do Vitória Moda anotou um público estimado em mais de 5 mil pessoas circulando pelos três dias de evento. Cerca de 500 compradores, vindos de cidades do Espírito Santo e de outros estados do Brasil, como Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, São Paulo e Brasília, visitaram o evento para conhecer o alto verão de 109 expositores, sendo 27 de outros estados. O volume de negócios gerado na etapa business do evento ficou em toerno de R$ 14 milhões. Resultado animador para uma indústria que já era assombrada pelo passado da crise desde julho passado. Segundo José Carlos Bergamin, presidente da Câmara do Vestuário do Espírito Santo, “é uma hora de dificuldade das empresas”. Uma das razões para se fazer esse evento mesmo em tempos de crise é ter sempre a cabeça erguida e vontade de agir. Para ele, foi cumprido o trabalho de se manter o setor do vestuário durante quase uma década de evento.

Este slideshow necessita de JavaScript.

E HT entrega: a edição 2016 está mais que confirmada: será realizada entre os dias 5 e 7 de julho, no Centro de Convenções.