Em tempos de Copa do Mundo, o esporte mais popular na internet é o de falar mal dos outros no Insta, no Twitter e em blogs


O dramaturgo e jornalista Junior de Paula constata: “Parece que instalou-se uma cultura negativa, uma necessidade destrutiva, uma tempestade radioativa”

* Por Junior de Paula, direto de Los Angeles

O esporte mais popular na internet nos dias de hoje é o de falar mal dos outros. Blogs que criticam a roupa, o penteado e as atitudes de personagens célebres ou não, perfis no Instagram que se dedicam a postar e repostar brigas, incentivar o maldizer e fazer análises da vida alheia, contas no Twitter que se especializam em criar factóides, em infernizar a vida alheia e falar mal de tudo e todos ampliam, e muito, a voz dos covardes que se escondem atrás de nicknames, codinomes e perfis falsos para espalhar a raiva, o ódio e uma série de sentimentos que passamos a encarar com naturalidade.

É muito mais fácil, ao que parece, odiar do que amar. É muito mais fácil dizer que não consegue tolerar, que não vai gostar, que não tem como respeitar, que não sabe como vai aguentar, que não tem nada para ofertar. É muito mais cômodo se posar de vítima, procurar culpado, permanecer alienado, anestesiado, deitado na cama, acomodado. É muito mais fácil desistir, deixar cair, abrir a porta e sair, falar e não ouvir. É muito mais fácil ser chato, não cumprir o contrato, ser bonito no retrato, brincar eternamente de gato e rato.

É muito mais fácil não crescer, procurar não saber, pegar embalo para descer, insistir em parecer, muito mais fácil ter do que ser. É muito mais fácil não se expôr, trancar o coração para não sentir dor, ligar o ar condicionado para não sentir calor, acender a luz para assistir a um filme de terror. É muito mais fácil não se comprometer, não dizer a que veio, não tomar partido, seguir no muro, no caminho do meio. É muito mais fácil não se importar em ser saudável, ter uma ideia que não é viável, se abastecer com uma relação descartável.

Parece que instalou-se uma cultura negativa, uma necessidade destrutiva, uma tempestade radioativa. É como se para sobreviver fosse preciso parecer, ter mais do que ser, ser do contra, torcer para perder. São tempos urgentes, impacientes, de gente cada vez mais doente. Tempos de labirinto, de ter que esconder o que sinto, de ficar mais confortável quando me escondo, quando minto. São tempos esquisitos, tempos de não ditos, de cultuar vazios mitos, de cidadãos aflitos. Tempos de conflitos, tempos de cólera, tempos de pouca memória, tempos de gente difamatória, tempos de escória.

Está hora de girar a roda da vida para o outro lado, está na hora de procurar um caminho mais iluminado, está na hora de ter mais cuidado. Está na hora de ser mais leve, mais fácil, mais delicado. Está na hora de fazer diferente, de ser mais consciente, de cuidar mais da gente, de olhar mais para a frente, de ser menos inconsequente. Está na hora de ser otimista, de na curva não sair da pista, de tomar as rédeas e deixar de ser masoquista, de ter mais alma de artista. Está na hora de saber o que quer, de querer mais do que puder, de não aceitar só que vier, de ser mais e não só ser o que der.

Está na hora de colocar a energia para circular, de deixar de se acovardar, de lavar o rosto e se jogar. Vamos mudar. Não dá para parar, assistir a vida passar, esperar o tempo virar, a chuva cessar ou o sol esfriar. Bora lá, vamos nos movimentar. E vamos já!

*Junior de Paula é jornalista, trabalhou com alguns dos maiores nomes do jornalismo de moda e cultura do Brasil, como Joyce Pascowitch e Erika Palomino, e foi editor da coluna de Heloisa Tolipan, no Jornal do Brasil. Apaixonado por viagens, é dono do site Viajante Aleatório, e, mais recentemente, vem se dedicando à dramaturgia teatral e à literatura