Voz, violão e música inexplicável: entrevista exclusiva com Tiago Iorc, que se apresenta hoje no Festival Faro MPB, no Circo Voador


Com um jeito leve de fazer folk, o músico conversou com nossa equipe às vésperas de se apresentar em Vitória, para onde leva a turnê “Voz + Violão”, e hoje sobe ao palco do Circo Voador pelo “Festival Faro MPB”

*Por Léo Fávaro

Brasília, Curitiba e Rio de Janeiro. Inclua no roteiro, também, Inglaterra. Esses lugares fazem parte, de algum modo, da vida do cantor Tiago Iorc, um mapa sonoro traçado por cordas vocais e de violão, que até dezembro roda 80 cidades para apresentar sua turnê acústica.  Às vésperas de cantar pela primeira vez em Vitória, onde se apresenta na próxima sexta-feira (03/10),Tiago conversou com exclusividade com nossa equipe. Para os cariocas de plantão, o músico sobe hoje à noite ao palco do Circo Voador, onde fará um show com participação especial de Marjorie Estiano no Festival Faro MPB. Confira a entrevista.

 

Tiago Iorc (Foto: Divulgação)

Tiago Iorc (Foto: Divulgação)

HT: Seu último álbum é “Zeski”, justamente a última parte do seu sobrenome, Iorczeski. Como foi o processo de concepção deste álbum?

T I: Quando meu primeiro disco foi lançado, o selo que o lançou sugeriu abreviar o sobrenome para ficar mais fácil de as pessoas identificarem e deixou-se de lado essa segunda parte do sobrenome. Na época em que estava organizando as músicas para este terceiro disco, estava com esse trecho do sobrenome na minha cabeça, antes mesmo de pensar no conceito do disco. Essa palavra [zeski] foi a faísca para todo o processo de composição. A mim soa bastante interessante por ser bem sonoro e por não significar nada para as pessoas. Já para mim ela tem um sentido bastante pessoal, por ser a parte do meu sobrenome que tinha sido deixada de lado. Então era como um fechamento de parênteses, uma faceta como um retorno ao que sempre tinha sido e nunca tinha se manifestado. E nessa brincadeira de facetas, de que pode ser uma coisa e pode ser outra, se juntaram as músicas com letras em português e em inglês, a capa do disco, que também brinca com isso… Foi uma junção de todas essas coisas.

HT: De que maneira as bandas nas quais você cantava pararam de representar a musica que você fazia? Quando veio a ideia de fazer um projeto solo?

TI: Nesses projetos que participei em Curitiba, eu era apenas um vocalista convidado, participava emprestando minha voz para projetos que já estavam consolidados. Eu não fazia parte da concepção daquele projeto. Era mais um passatempo para tocar, para ganhar um dinheirinho, mas nunca me representou artisticamente. Era mais uma forma de desenvolver vontade de fazer música.

HT: Como foi seu amadurecimento para se tornar um músico melhor?

TI: Depois que passei a fazer só isso [música], me dediquei a ser cantor, compositor e um musico no palco. Minha atenção está totalmente voltada para isso e,  obviamente, o meu interesse é aprender a extrair uma forma de manifestar as coisas que eu quero manifestar de um jeito que, num primeiro momento, seja coerente com as coisas que eu gosto e, num segundo momento, que seja algo pelo qual as pessoas possam vir a se interessar. Meu desejo é  que isso seja o elo da nossa conexão.

HT:  Como chegou ao som mais lapidado que faz hoje?

 TI: Foi bem natural, como um processo de descobrimento. Uma coisa é meu gosto musical, que passa por coisas totalmente distintas do que faço. Ouço música de gêneros e estilos que eu não me atreveria a emular. São gostos que me interessam. E na hora de fazer, faço o que parece mais coerente com a minha figura, minha personalidade, minha voz – o que é muito importante. Fui percebendo que meu vínculo com o violão é tão forte que esse era o maior alicerce que eu fazia, o diálogo entre o violão e a voz. Foi uma lapidação que tendeu para isso [a música que faz atualmente], pelo próprio meio de fazer música, e fui direcionando para esse tipo de som que valoriza minha voz e o violão, que tem essa característica que pode ser considerada um pouco mais folk.

HT: Isso justifica fazer essa turnê “Voz + Violão”?

TI: Era uma vontade que eu tinha. Eu fazia alguns shows pontuais neste estilo em meio a turnês com a banda porque facilitava o transporte. Em alguns lugares não cabia uma produção um pouco maior, com mais músicos e mais técnicos, e eu percebia que as pessoas se interessavam muito por esse formato de voz e violão. Foi uma vontade de mostrar o lado mais embrionário do que eu faço para o público, e isso possibilita uma proximidade maior também. Fico mais atento ao que acontece na plateia, ao que estou fazendo…

HT: …acaba sendo mais intimista.

TI: Claro. É mais silencioso, não tem tanta interferência sonora que dispersa o silêncio. Uma coisa que eu gosto de fazer e que fica bem evidente nesta turnê é brincar com a dinâmica da música e do show. Tem momentos que trabalho com silênico absoluto, tem hora que não uso nada amplificado, que vou para a frente do palco e faço acapela… Então gosto de brincar com isso que, num ambiente com banda, não seria possível.

HT: E como você avalia o cenário musical no Brasil neste momento?

TI: Tem muita gente fazendo música boa. Acho que tem uma brecha grande da música popular que não seja o cenário que está popularizado, que é o sertanejo, que é o pop um pouco mais descarado, um pouco vulgarizado, que acaba tendo essa massificação. Vejo que existe uma carência e uma brecha forte para quem faz música popular, que tem um apelo para as pessoas, mas que não seja necessariamente nesse caminho [vulgarizado]. Me parece uma efervescência de que o público sente falta, e que os artistas estão fazendo e se destacando por conta dessa carência.

HT: Tem algum tipo de música “improvável” que você escuta?

TI: Para mim, independente do gênero, o que me comove, o que me emociona, é uma boa melodia, uma boa canção, uma boa letra, e isso eu encontro em diversas fontes. Gosto muito de Feist, Dave Mathews, de Radiohead. Gosto de música clássica, instrumental, de orquestra… O que fala mais alto é a melodia, a letra. Pode ser um trabalho do Marcelo D2, que eu gosto muito, me chama atenção quando a música tem uma letra forte ou uma sacada interessante, quando a música está bem contada, quando tem uma canção por trás da genialidade do ser que criou aquilo. Quando é forte e inexplicável.

Um dia após o outro

Serviço:

5a edição do Festival Faro MPB – Tiago Iorc + Lucas Santtana + Marcelo Jeneci

Participações especiais: Alvinho Lancellotti, Marjorie Estiano, Mahmundi e Lucas Vasconcellos

Data: 2 de outubro (quinta)

Local: Circo Voador – Rua dos Arcos, S/N – Lapa

Ingressos:

1o lote: R$ 60 (inteira) l R$ 30 (meia para estudantes, idosos e para quem levar 1k de alimento não perecível)

Abertura da casa: 21h
Início do show: 22h30

Capacidade: 2000 pessoas
Informações e venda de ingressoswww.mpbbrasil.com l www.circovoador.com.br