“Vivemos um período de crise ética e política e eu reflito sobre o cenário no meu disco”, diz Thiago Pethit


Em entrevista exclusiva, o artista falou sobre as inspirações e o processo criativo por trás do seu mais recente trabalho. Arte, cultura, sexualidade, política e projetos futuros também ganharam destaque

Cinco anos após o lançamento do seu último trabalho, Thiago Pethit está de volta com o álbum “Mal dos Trópicos (Queda e Ascenção de Orfeu da Consolação)”, lançado no dia 15 de março. O quarto disco de sua carreira, elaborado durante o ano de 2018, é composto por nove músicas e contou com a participação do produtor e arranjador Diogo Strausz. “Eu tive todo esse tempo recluso, afastado da vida artística. Nestes dois últimos anos, eu realmente me dediquei a esse álbum de um jeito íntimo e cuidadoso. Mas, não sabia se haveriam pessoas dispostas a me ouvir ou, se minhas palavras e minhas intensidades fariam sentido e iriam tocar os outros. É muito bom vê-lo ganhando ouvintes e saber que existem pessoas realmente envolvidas por essa atmosfera. Desde o começo, a minha intenção era que esse disco pudesse acolher os sentimentos neste momento que tem sido tão complexo e intenso”.

 

Capa do disco “Mal dos Trópicos (Queda e Ascensão de Orfeu da Consolação)” (Foto: Divulgação)

Com uma sonoridade mais forte, característica de tempos mais sombrios, o cantor buscou inspiração na solidão da cidade de São Paulo para recriar o mito de Orfeu. Sensibilizado pela ausência de amor e de esperança, ele idealizou um material bastante intenso: “Meus discos são retratos não só de mim mesmo, mas do universo ao meu redor e dos acontecimentos. Estamos em um período de crise moral, ética e política. O meu disco reflete sobre isso de um ponto de vista bastante pessoal. Como é viver, amar, ser gay, ser artista, vivendo na maior cidade de um país tão complexo e em períodos como esse? Eu não tento achar essas respostas porque talvez elas não existam. Porém, todas as perguntas me interessam e me inspiram”.

A solidão da cidade de São Paulo foi a inspiração para o novo álbum (Foto: Divulgação)

Além da música, a capa de “Mal dos Trópicos” é uma obra à parte. Com direção de arte de Pedro Inoue, amigo de longa data de Pethit, o conceito gira em torno de um achado arqueológico que tivesse as características físicas do artista. Para isso, foi necessário fotografá-lo em 360 graus para que depois a imagem fosse transformada em um arquivo 3D. “Dentre as minhas inspirações imagéticas até tinham algumas referências à estátua. Mas, não imaginava que chegaríamos nessa capa. O Pedro me mostrou uma estátua de museu do período grego clássico. A obra de arte meio quebrada e gasta por tantos séculos naquele fundo preto foi o que eu achei mais bonito. Uma imagem eternizada e quebrada. Fiquei muito feliz com o resultado. Dá para ficar na dúvida se fizemos isso e sou eu mesmo ou se é uma estátua que encontramos na internet e que tem traços parecidos com os meus. Como se um sósia tivesse vivido há séculos atrás ou como se eu fosse um mito”, contou.

Com quatro discos lançados, Thiago Pethit é uma das principais revelações da música brasileira (Foto: Divulgação)

A composição e a produção de um disco são questões muito pessoais para o cantor. Mesclar referências da sua realidade e das experiências acumuladas durante a vida são características do seu trabalho: “Eu vivo como uma antena para-raios, prestando atenção em tudo a minha volta, lendo tudo o que encontro e ouvindo os outros. A cada estudo, algo salta na minha imaginação, uma imagem ou um som. É meio inexplicável. Mas quando vem, eu sei reconhecer e fico tomado por aquele tema. Não sei se eu tenho um processo muito claro para fazer discos ou para compor. Até gostaria de ser mais rigoroso com isso. Mas, em geral,  cada disco vem de um jeito”.

Segundo o cantor e ator,  sem a arte o ser humano não é nada (Foto: Divulgação)

Além da música, Thiago também é ator e nutre uma forte paixão pelo cinema. Em 2016, participou do filme “Amores Urbanos”, dirigido por Vera Egito. Quando perguntado sobre a possibilidade de mesclar as duas vertentes artísticas, ele respondeu: “Eu adoraria atuar mais. Foi muito interessante ter participado das filmagens de ‘Amores Urbanos’. Trabalhar com cinema é um sonho que não vivi por completo ainda. Só seria muito difícil conciliar as duas artes, pois são carreiras que exigem muito do artista. Porém, seria lindo encontrar um projeto que envolva as duas vertentes”. Ainda segundo o ator, a arte é um instrumento essencial para qualquer indivíduo: “A realidade, a comida, o dinheiro e o consumo não dão conta de tudo. Sem arte e sem poesia, o ser humano é banal. Arte gera reflexão, empatia, abre caminhos ocultos, apresenta lógicas e mundos desconhecidos”.

Divulgar o seu trabalho, lançar clipes e fazer shows estão entre os planos futuros do artista (Foto: Divulgação)

Assim como qualquer pessoa, Thiago possui suas preferências profissionais e ídolos. Ao ser questionado sobre os artistas que mais tocam no seu cotidiano, ele afirma que os brasileiros Baco Exu do Blues e Maria Beraldo não podem faltar. O novo CD da norte-americana Solange, irmã de Beyoncé, também está entre os seus prediletos. Em relação a trabalhos futuros, ele revela que a divulgação do projeto é a prioridade: “Ainda tem muito caminho pela frente com Mal dos Trópicos. Em breve, teremos clipes, shows e tudo isso já vai me ocupar um bocado durante os próximos meses”.