Três anos de saudade: uma playlist para lembrarmos a voz e o talento de Amy Winehouse


Em 23 de julho de 2011, a cantora britânica de apenas 27 anos era encontrada morta em seu apartamento e, como homenagem, HT faz uma playlist com os seus maiores e melhores sucessos

*Por João Ker

Há exatos três anos, o mundo se chocava com o falecimento de uma das vozes mais poderosas de sua geração. Amy Winehouse foi cedo e se juntou ao infame “Clube dos 27”, ao lado de nomes como Kurt Cobain, Jim Morrison, Janis Joplin e Jimy Hendrix, todos novos demais para abandonarem esse plano. Deixando um buraco cultural com sua ausência, Amy teve pouco tempo de carreira, mas o suficiente para deixar sua impressão por gerações a fio. Hoje, HT faz uma playlist com os seus maiores sucessos e também suas melhores gravações – algumas pouco conhecidas do público – em homenagem à britânica. Então, pegue a xiboquinha e solte o play na diva do soul e jazz.

Foto: Hedi Slimane

Começando com… “Stronger Than Me” , o primeiro single da carreira de Amy Winehouse. Presente no álbum Frank – que rendeu outras ótimas faixas como Amy, Amy, Amy, Take The Box e Fuck Me Pumps -, a música apresenta uma grande influência do jazz e do R&B enquanto a cantora desdenha do parceiro, chegando a duvidar de sua sexualidade. No vídeo, uma Amy Winehouse ainda sem o gigante beehive e com o corpo curvilíneo aparece em um vestido tubinho enquanto carrega o namorado para casa. Ela pode parecer diferente da Amy que ficou mundialmente famosa mais tarde, mas estava tudo lá: a voz, o gingado e a atitude irreverente.

Stronger Than Me

O ano é 2007 e Amy se prepara para lançar seu segundo disco de estúdio. De repente, o mundo é bombardeado com “Rehab”, que não poderia ter escolhido um momento mais propício para ser lançado. Lindsay Lohan e Britney Spears, duas queridinhas da América, haviam se internado em reabilitação naquele ano e os vícios da própria Amy já eram discutidos e esmiuçados pela mídia. Ao invés de se desculpar, a cantora lança como primeiro single de divulgação do novo trabalho uma música que é quase uma declaração de “a vida é minha e eu faço o que quiser com ela” (ou “F*da-se”, dependendo da mente de quem lê). O sucesso foi estrondoso por todo o mundo e, no ano seguinte, a mesma gravação lhe rendeu sozinha três megafones dourados do Grammy, sem contar em outros dois por “Melhor Álbum de Vocal Pop” e “Melhor Artista Revelação”.  O “no, no, no” e o “go, go, go” também permaneceram na cabeça de muita gente pelos anos seguintes.

Rehab

Um sofá e um microfone. Foi tudo o que Amy precisou para essa versão acústica de um dos seus maiores sucessos, “Valerie” (que, na verdade, é um cover do grupo The Zutons). O importante aqui é ver mais um exemplo do vozeirão da cantora, que não precisava de produção, arranjos e nada além de um oportunidade para cantar. Não é à toa que Tony Bennett mais tarde diria: “Ela era uma artista extraordinária com uma rara intuição como vocalista”.

Valerie (Acústico)

A versão de “Love Is A Losing Game” presente no disco ganhou um tom menos depressivo com a produção de Mark Ronson, mas a demo original da música foi incluída mais tarde no relançamento do mesmo álbum e o seu conhecimento se torna quase obrigatório para qualquer fã da cantora. Nela, Amy entoa versos como “amor é um jogo que eu desejo nunca ter jogado” com uma melancolia de partir o coração e arrepiar os cabelos da nuca. Blues, baby, transbordando por todas as cordas vocais e poros dessa mulher.

Love Is A Losing Game (Demo)

Chegou tarde, mas veio. Presente no álbum póstumo da cantora, o Lioness Hidden Treadures, sua versão para “Garota de Ipanema” mostra que Amy se daria bem cantando bossa nova. Com uma voz visivelmente animada, ela flerta com os versos e mudanças de nota, fazendo doo-wops enquanto pronuncia Ipanema da forma mais cativante possível. Chega a ser até fácil demais imaginar Amy Winehouse sentada na orla da praia enquanto toma umas biritas baratas com Vinícius de Moraes e Tom Jobim.


The Girl From Ipanema (Garota de Ipanema)

Bem antes de Tony Bennett pensar em gravar um álbum inteiro de duetos com Lady Gaga, ele e Amy foram ao estúdio em março de 2011 – apenas quatro meses antes de sua morte – para gravarem o último registro musical feito em vida pela cantora. “Body And Soul”, uma regravação do clássico da década de 1930, acabou rendendo um Grammy póstumo para a britânica e está presente tanto em Lioness quanto em Duets II, disco de parcerias do cantor que, dentre muitos nomes, conta com Gaga, Mariah Carey e Queen Latifah. Tony chegou a esclarecer em uma entrevista: “Algumas pessoas acham que qualquer pessoa poderia cantar jazz, mas elas não podem. É um dom de aprender como sincopar, mas é também é um espírito que ou você nasce com ele ou não. E Amy nasceu com esse espírito”.

Body And Soul

Também presente em Lioness, esse dueto póstumo entre a britânica e o rapper Nas aconteceu graças ao produtor Salaam Remi e, ao contrário de Body To Soul, dividiu mais opiniões do que a recente parceria entre Michael Jackson e Justin Timberlake. Ainda assim, Amy consegue balancear o fresstyle da lenda do rap com doçura e sem abaixar o ritmo em nenhum momento. Com o crescente impacto e influência do gênero nos últimos anos, e o surgimento das mais inusitadas parcerias dentro do hip hop,  a música levanta a questão: será que Amy se renderia à popularidade do som com o passar do tempo? No ano seguinte, Nas lançou outra parceria de pegada mais romântica com a cantora, Cherry Wine, gravação que chegou a ser indicada ao Grammy de Melhor Colaboração de Rap.

Like Smoke (Feat. NAS)

Amy nem poderia imaginar que, anos depois do lançamento oficial, Beyoncé e André 3000 transformariam os seus versos dolorosos em gemidos sexuais. Independente da insensatez, a faixa-título do segundo álbum da cantora reúne as melhores qualidades de sua música e sua personalidade: melodia envolvente, irreverência desbocada, notas poderosas, atitude mal encarada, estilo visual e sonoro, versos debochados e todo um conjunto que nenhum outro artista conseguiu trazer depois de sua morte. Amy foi embora e, toda vez que o mundose lembra disso, ele vai de volta ao preto.


BONUS: O momento em que ela ganhou o Grammy.

Não é música, não tem melodia e não tem vozeirão. Mesmo assim, Amy Winehouse ganhando o Grammy através de um telão por ter sido impedida de entrar no Estados Unidos graças a problemas legais, é um momento icônico na carreira da cantora e na cena musical de forma mais abrangente. Humilde, incrédula e, posteriormente, agradecida e desaforada, Amy se desmancha em lágrimas e abraços quando descobre que venceu. É impossível não lamentar o seu falecimento e imaginar que ela iria muito mais longe do que isso se continuasse viva.