Sem patrocínio, Timoneiros da Viola sai neste domingo, confirmando ser o maior e mais importante projeto de resistência do Carnaval carioca


O bloco, que tem Paulinho da Viola como padrinho e cofundador, arrecadou menos de 10% do valor necessário em uma plataforma de financiamento coletivo. “Não priorizar o Carnaval é premissa das atuais gestões”, observa Vagner Fernandes, fundador do projeto

O já tradicional bloco Timoneiros da Viola, vencedor do Prêmio Serpentina de Ouro de Melhor Bloco de Carnaval em 2012, ano de sua estreia, vem enfrentando com bravor a crise financeira que também acomete as escolas de samba. Marcado para este domingo, 24, às 13h na Praça Paulo da Portela, em Oswaldo Cruz, a celebração não recebeu qualquer apoio estatal ou da iniciativa privada. Com menos de 10% do total necessário arrecadado em uma plataforma de financiamento coletivo, a direção está sendo obrigada a utilizar recursos próprios para colocar o bloco na rua.

Há oito anos fazendo a alegria do carnaval de rua de Oswaldo Cruz, o Timoneiros da Viola sofre com a falta de apoiadores.

Vagner Fernandes, idealizador do projeto, mostra-se resiliente, no entanto, apesar da situação, assinalando o preconceito contra o subúrbio como o principal motivo do desinteresse de apoiadores: “Não há desejo em investir no Carnaval das Zonas Norte e Oeste. Não temos mar. A nossa orla é a linha do trem”. Vagner ainda tece críticas às instâncias governamentais: “Não priorizar o Carnaval tem sido uma premissa das atuais gestões. É muito difícil dialogar com governos que não compreendem a importância sociocultural da mais importante manifestação popular do Brasil”.

O Timoneiros da Viola irá homenagear o trio fundador da Portela, Paulo da Portela, Antonio Rufino e Antonio Caetano, na edição deste ano. A celebração contará com 150 ritmistas, todos sob o comando de Mestre Jonas, e com Rixa, intérprete oficial do bloco, considerado o Pavarotti do sambaO compositor Nelson Sargento, 94 anos, que será reverenciado em momento especial, também está confirmado na festa, ao lado de Zé Renato, Dorina, Tia Surica, Marquinhos de Oswaldo Cruz, Gloria Bomfim, o trio Razões Africanas e Aline Calixto, criadora do bloco mineiro Filhas de Clara, em homenagem à Clara Nunes, enredo do Carnaval de 2019 da Portela. As Composições de Nelson Cavaquinho, Bide, Marçal, Candeia, Cartola, Donga, João da Baiana, Pixinguinha e Paulinho da Viola, cofundador e padrinho do bloco, estarão novamente entre as resgatadas a fim de que se preserve a memória dos grandes ícones do samba e do choro.

A baiana Gloria Bomfim é uma das atrações confirmadas na folia (Foto: Divulgação)

O principal objetivo do projeto é celebrar o samba, os seus compositores e a sua contribuição para a cultura do país: “Carnaval é uma manifestação que não pode ser avaliada somente sob a perspectiva do entretenimento. Carnaval é investimento e não despesa”, pontua Vagner. Apesar dos obstáculos, a festa não deixará de ser realizada, conforme ele ressalta: “Independentemente da questão financeira, o bloco sairá. Exaltamos o maior gênero musical do país, mola propulsora de nossa identidade. Samba é resistência. Por isso, o Timoneiros também o é”.