Romero Ferro: ‘O preconceito contra os ritmos que surgem na periferia se repete há décadas na história da música’


O cantor e compositor marcou gol com a segunda temporada do talk show ‘Eita, Ferro’, no IGTV e Youtube, com as participações de Anne Mota, Ciel, Michelle Melo, Luiz Lins e Otto. “Tenho usado minha música e minhas redes para aprender e crescer junto com quem acompanha o meu trabalho. É o mínimo que posso fazer num país como o nosso”, frisa

“O preconceito contra os ritmos que surgem na periferia se repete a décadas”, Romeo Ferro (Foto: Gustavo Bresciani)

*Por Rafael Moura

No início da pandemia do novo coronavírus, em 2020, o pernambucano Romero Ferro, se mudou para o Rio de Janeiro, tornando-se o mais novo carioca ‘para descer até o chão da praça’ e encontrou um outro ‘verdadeiro amor’, na comunicação, afinal, a segunda temporada do talk show ‘Eita, Ferro!’ já está no ar no Youtube  e no IGTV e tá ‘uma parada louca’. Nos cinco episódios, o cantor faz uma reflexão sobre arte, preconceitos e música. “O preconceito contra os ritmos que surgem na periferia se repete ao longo de muitas décadas na história da música. Mas, quando a indústria, majoritariamente branca, entende que dá para ganhar muito dinheiro, a coisa muda um pouco de figura”, comenta Romero, conhecido pelas misturas que faz com ritmos como o brega, a new wave e a música pop.

“A arte salva! Mas a arte dentro da sociedade também limita, é branca, cis e difícil de ser penetrada”, diz Romero Ferro

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Quem deu o start foi Anne Mota, protagonista do filme ‘Alice Júnior’, lançado em 2019 e recentemente disponibilizado na Netflix, a primeira mulher trans vencedora do prêmio de melhor atriz no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, falando sobre ‘Arte e Transvestigeneridade’. No papo. a dupla abordou como a arte tem o poder de reinserir pessoas na sociedade. “Sim, a arte salva! Mas a arte dentro da sociedade também limita, é branca, cis e difícil de ser penetrada”, pontua o anfitrião. O episódio seguinte traz o multiartista pernambucano, Ciel, falando sobre ‘Bullying’, essa doença social. “A prática de atos violentos intencionais e repetidos é tão naturalizado no nosso cotidiano que muitas vezes passam despercebidos. Mas essas atitudes desencadeiam uma série de problemas psicológicos seríssimos, levando pessoas à morte”, enfatiza Romero.

“Por mais que digam o contrário, sempre existiu e existirá uma forte relação entre a arte e a política”, diz Romero Ferro

Seguindo essa série de conversas altamente reflexivas foi a vez da rainha do brega pernambucano, Michelle Melo, que falou sobre ‘Mulheres Na Música’. “Mesmo depois de tanta luta ainda vivemos em uma sociedade estruturalmente machista, precisamos desconstruir diariamente. Pra isso a gente precisa ter mulheres cada vez mais ocupando espaços relevantes na indústria”, frisa Ferro. O quarto episódio trouxe o tema ‘Arte na Periferia’ e o convidado foi o músico Luiz Lins, um dos nomes da produtora PE Squad, que começou no rap, mas faz experimentações em vários estilos musicais, como o jazz e a dance music.

Lins atesta a importância da democratização dos meios de comunicação, produção da arte e representatividade. “É importante ver alguém com quem você se identifica realizando um trabalho independente. É uma parada que envolve ousadia, questões de autoestima. A necessidade de experimentação constante e de não se render ao caminho mais cômodo em suas próprias criações foram questões que surgiram na conversa. A minha poesia incomoda sobretudo a mim mesmo. Eu nunca estou satisfeito, nunca é suficiente”.

O cantor e compositor Romero Ferro nas gravações da série ‘Eita, Ferro!’ (Foto: Gustavo Bresciani)

Encerrando a temporada, tivemos o galego Otto falando sobre a relação entre ‘Arte e Política’. “Por mais que alguns digam o contrário, sempre existiu e existirá uma forte relação entre a arte e a política. Viver é um ato político, e não é de hoje que artistas fazem obras provocativas, com o objetivo chamar a atenção do público para o seu posicionamento, estimulando o censo crítico coletivo”, reflete o Ferro. Otto completa. “Eu gosto quando consigo, com amor, chegar na política, chegar na injustiça. Eu me sinto mais político, longe do panfletário, e tentando explicar o que estamos vivendo no país hoje”.

Nessa série de encontros e ideias, o cantor e compositor Romero Ferro tem experimentado uma nova faceta conversando com artistas de várias linguagens, ativistas, jornalistas, e provocando a reflexão sobre temas que estão em evidência no espaço público, mas que sempre merecem outros olhares e perspectivas diferentes. Criado no ano passado, quando a pandemia nos trouxe uma realidade de confinamento nunca imaginada, o ‘Eita, Ferro!’ foi uma válvula de escape para o artista. Romero enxergou essa como uma possibilidade de se manter em contato com outros artistas e com o seu público, instigando discussões de temas que interessavam ao seu próprio repertório.

Romero Ferro durante as gravações da segunda temporada do talk show ‘Eita, Ferro!’ (Foto: Gustavo Bresciani)

Na primeira temporada, Romero trouxe à tona debates sobre temas como gordofobia e cultura do cancelamento, com convidados como Bielo Pereira, apresentadora do GNT, criadora de conteúdo; o cantor Johnny Hooker; Tiê, cantora; Drik Barbosa, rapper, cantora e compositora; e o jornalista Zeca Camargo. “Tenho usado minha música e minhas redes para aprender e crescer junto com quem acompanha o meu trabalho. É o mínimo que posso fazer num país como o nosso”, finaliza.