Rodrigo Pitta conta como foi dirigir a turnê europeia de Anitta


Em sua primeira parceria com Anitta, Rodrigo assume a direção da turnê ‘’Made in Brazil’’, que traz um show repleto de referências brasileiras, como o calçadão de Copacabana, e viaja pela Europa para mais uma apresentação, dessa vez em Londres.

Se tem uma coisa que a Anitta sabe fazer é encantar o público e durante a sua primeira turnê europeia com o show ‘’Made in Brazil’’ não está sendo diferente. Depois de ter se apresentado no segundo dia do Rock in Rio Lisboa neste domingo, 24, ofuscando até nomes como Bruno Mars e Demi Lovato com um repertório repleto de hits nacionais e internacionais, Anitta seguiu com o show esgotado para Paris e, lotou, nesta quinta-feira, 28, o Royal Albert Hall de Londres, um dos teatros mais prestigiados da capital ingles. ‘’Eu tinha uma expectativa ótima para o Rock in Rio porque ela já mostrou a que veio faz tempo, mas aprendi rápido que Anitta sempre surpreende, ela é uma estrela concreta. O primeiro show acalmou nossos corações, mas a expectativa continuou a mesma’’, conta o diretor Rodrigo Pitta, que está por trás de todo o conceito do espetáculo.

 

Anitta com look à la Carmem Miranda. (Foto: Reprodução)

Desde o clássico calçadão de Copacabana até os acordes de ‘’Garota de Ipanema’’, sucesso internacional de Vinícius de Moraes, Anitta, que esteve em um dos momentos vestida à la Carmem Miranda, caminha em ‘’Made in Brazil’’ pela essência do Brasil a fim de enaltecer um dos maiores marcos culturais do povo brasileiro: o funk. ‘’Trabalhei na concepção de um show especialmente para essa turnê, que reforça o mundo do funk brasileiro e apresenta esta artista multiplataforma para a Europa. Anitta é brasileira, flerta com o pop internacional sem perder as raízes, então o show tem essas referências por refletir a artista e o universo ao seu redor’’, diz Pitta.

Rodrigo Pitta escapa um pouquinho da loucura dos bastidores do Rock in Rio Lisboa para registrar o momento. (Foto: Rodrigo Pitta)

Em apenas oito semanas, Rodrigo e uma equipe de mais de 70 pessoas junto à cantora preparam todo o espetáculo do zero. Além do pouco tempo para ensaiar a coreografia – um mês com os bailarinos e apenas uma semana com a cantora -, foi preciso conciliar a agenda de todos, que estavam espalhados entre Rio e Portugal, no processo de criação e ainda conseguir produzir toda a cenografia necessária, como as projeções criadas pela brasileira Fabiana Prado em parceria com Pitta. ‘’Foi uma operação complexa e divertida. Teve um momento, por exemplo, que para conseguirmos filmar o conteúdo para as projeções do show, nós montamos um estúdio dentro de um outro, onde ela já estava gravando um novo videoclipe, e ela ficava se alternando entre as duas coisas. Imagina isso! Só com muita fera reunida mesmo’’, conta Rodrigo que dividiu a produção do show com a coreógrafa Arielle Macedo e o diretor musical Rafael Castilhol. No fim, tudo deu certo. Afinal, todos lidaram com os obstáculos de um jeito bem brasileirinho: ‘’Rindo, adaptando e seguindo em frente’’, brinca.

Rodrigo Pitta durante ensaios antes do show realizado em Paris. (Foto: Rodrigo Pitta)

Apesar de ter sido a primeira parceria entre Rodrigo e Anitta, a sintonia entre os dois foi tão certeira que parece que estava escrita nas estrelas. ‘’Foi intensa e mágica ao mesmo tempo. Anitta e Pitta, que até rimam, são dois arianos exigentes e perseverantes, duas energias complementares explodindo criatividade e vontade’’, declara o diretor que recebeu o convite pela Marina Morena, amiga em comum com a cantora que participou lado a lado da concepção da turnê. Parceiro de outros grandes artistas em sua trajetória como músico, como Elza Soares e Ana Carolina – ambas na música ”Será?”, que satiriza a marchinha ”Cabeleira do Zezé”, e com Ana na canção ”Bang Bang 2” -,Pitta não poderia ter tido uma parceira melhor. ‘’Anitta põe a mão na massa, pega o microfone, dirige os contrarregras, repassa coreografias, divide o palco, uma parceira perfeita’’, conta.

Rodrigo ao lado da Anitta. (Foto: Reprodução)

Hoje, Anitta é vista como uma das maiores referências atuais da música brasileira e para o diretor é exatamente esse comprometimento dela que fez ela torna-se um ícone. ‘’O fato de ela ser uma visionária antenada, precisa, dedicada e de verdade. Ela é a materialização do que significa vencer na vida honestamente, e isso emociona, cativa e inspira gente no mundo inteiro’’, afirma. Ao lado de outras funkeiras, como Ludmilla, Valesca, entre outras, a cantora está quebrando diversas barreiras, inclusive sociais, por meio da sua arte. Com o clipe de ‘’Vai Malandra’’, a cantora trouxe à tona a discussão sobre a representação do corpo feminino ao mostrar todas as imperfeições, como celulites, sem edição. Rodrigo, que acredita que o gênero acompanha a tendência do mundo, enxerga as produções do funk como uma forma de conscientização. ‘Há cada vez mais mulheres empoderadas. Com esse ritmo avassalador, que ninguém fica parado, elas podem apresentar letras e conceitos que atingem mais pessoas’’, diz.

Aos 41 anos, Rodrigo Pitta, sempre guiado pelo teatro, assume, além da direção, o papel de músico e escritor. Como diretor, Pitta traz na bagagem títulos como a ópera rock ”Cazas de Cazuza”. Já no âmbito musical, ele carrega um catálogo de fazer inveja: cinco gravações para novelas da Globo, sendo uma delas de uma música inédita do Cazuza, fez o show de abertura do Festival de Cinema Brasileiro em Los Angeles, dividiu o trio elétrico com Daniela Mercury e dois discos, ‘’Estados Alterados’’ e ‘’Pátria que o Pariu’’, que traz uma crítica ao contexto sociopolítico brasileiro, principalmente na canção ”Passeata”.Na literatura, o diretor lançou o livro ‘’Água, Gasolina e Virgem Maria’’, no qual ninguém mais ninguém menos do que Gilberto Gil assina o prefácio. No entanto, construir uma carreira de sucesso não foi fácil e assim como tantos outros artistas, principalmente negros, Pitta teve que superar vários obstáculos. Para ele, é preciso ter mais iniciativas de inclusão, como cotas, a fim de gerar mais oportunidades. ‘’O Brasil é um país injusto, há falta de representatividade negra em todas as áreas. É preciso investir nas cotas, e ter mais espaço para histórias negras em todos os setores da sociedade contemporânea’’, declara.

A repercussão foi tamanha no meio artístico que Rodrigo acabou tornando-se amigo de grandes nomes internacionais que vieram visitar o Brasil, como o ator americano John Malkovitch, e da cantora islandesa Björk, intérprete do sucesso dos anos 90 ‘’It’s so Quiet’’. Durante a passagem do ator pelo país, Pitta ficou responsável por mostrar a noite paulista para ele, o que rendeu histórias inesquecíveis. ‘’O pneu do meu carro furou quando eu levava o John para uma festa que fiz para ele em São Paulo, foi o ápice do engraçado. Imagine ele pedindo uma carona na Avenida Rebouças’’, relembra. Já a Björk, o diretor conheceu de um jeito mais surpreendente possível: em um terreiro.

Com 23 anos de carreira, Rodrigo Pitta mal terminou a turnê ‘’Made in Brazil’’ e já está de olho em projetos futuros, que vão levar o diretor de volta para onde tudo começou: o teatro. ‘’ Estou preparando a leitura desse meu novo musical “Jantar Secreto” para julho no Vivo Rio, com direito a banda e elenco de estrelas do teatro musical’’, conta. Sucesso, Pitta!