Rio das Ostras Jazz & Blues Festival: maratona mantém o fôlego com presença magnética de Badi Assad e Popa Chubby


Neste segundo round de apresentações, o evento confirma sua vocação para o novo formato e nem a garoa espanta a plateia, que degustou o show de Adriano Grineberg

* Por Bruno Muratori

Ao que tudo parece, era infundado o receio de boa parte da equipe de produção de que o novo formato de dois finais de semana do Rio das Ostras Jazz & Blues Festival não se sustentaria. A resposta da plateia nesta segunda rodada da 12ª edição do evento tratou logo de sepultar qualquer dúvida nesse sentido e, nesta noite de sexta-feira (15/8), a presença maciça de apreciadores da boa música foi contundente. Tudo leva a crer que, faça chuva ou faça sol, feriado ou não, o festival terá sempre o apoio de todos aqueles que o seguem, que demonstram ter reagido muitíssimo bem à nova extensão de sua duração. Na primeira noite do segundo finde, nem na garoa que insistia em cair desanimou a rapaziada, que apareceu com força total e ajudou a fazer mais uma maratona memorável no balneário fluminense. A alegria contagiou todos os presentes e, a cada apresentação, uma nova descoberta. Chega a dar orgulho ver essa gente incrível cruzando a linha do Equador para se apresentar aqui com o maior gás, mas sobretudo gente como a gente, assim como brasileiros fenomenais, talentos incontestáveis que muitas vezes passam despercebidos pelo grande público. E vale ressaltar que, diferente da primeira fornada de shows na semana passada, desta vez a pontualidade marcou a abertura dos trabalhos. Shows nos horários previstos e apenas alguns pequenos intervalos predominam até agora, impossibilitando até aquele já habitual rolezinho. Seguindo o roteiro, quem primeiro dá as boas vindas ao público é o blues contemporâneo de Adriano Grineberg, acompanhado por uma banda composta pelo guitarrista Edu Gomes, o baixista Rodrigo Jofré, o baterista Sandro Grineberg e o percussionista Felipe Romano. O show é marcado por influências que vão de batidas tribais aos elementos da música eletrônica, passando pelo gospel e pelo reggae, entre outros ritmos. Salada boa.

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Após o show, Adriano fala ao HT, entre um fã e outro que pedia para autografar seu cd “Blues for Africa”, num espaço criado no festival para que todo artista possa autografar seus álbuns, possibilitando assim uma enorme interação com os admiradores. Um mimo! De supetão, a pergunta é o representa liderar no palco, visto que as únicas vezes que em que o músico se apresentou ali foi em participações? “Primeiro eu agradeço a todas as pessoas que me trouxeram aqui. Acho que, quando você acompanha, o resultado é mais introspectivo e o artista não tem aquela comunicação verbal com as pessoas. Hoje foi uma verdadeira realização para mim, um marco participar desse festival com tantas bandas boas. Quando lancei o “Blues for África”  foi em Rio das Ostras porque aqui não tem a coisa tão “bluzeira” assim. O festival tem essa coisa de misturar tudo, como num liquidificador, com shows inusitados e encontros”, alega Adriano, completando que promoveu um reencontro da África com a América. Então valeu a pena? Ele enfatiza: “Muito! Eu falei há pouco com os meninos, não fizemos um show, foi uma celebração.” E, em seguida, volta a autografar os álbuns dos fãs. A festa segue em clima de nossa terra, nossa gente. Badi Assad sobe ao palco e logo se percebe o porquê dos 20 anos de carreira e o título de uma das maiores violinistas do mundo. Ela adentra o palco com um sorriso contagioso e sua bela presença, é aquele tipo de apresentação que se faz entre amigos, numa simplicidade e beleza que magnetizam. Não dá nem dá para piscar, abre o show com a música “Mulheres e Cunhatãs”, de própria autoria. A apresentação conta com a participação bacana do percussionista Marcos Suzano. Badi costuma estar sozinha em seus shows, mas nesse divide o estrelato com o amigo em momento so cute: “Nos conhecemos há uns 300 anos e nunca compartilhamos o palco. Hoje aqui é a primeira vez, um enorme prazer!” O estilo peculiar da dupla impressiona o público. Numa roupagem fina, sem perder a irreverência da canção, surpreendem ao cantar Zeca Pagodinho com a música “Vacilão”. O arranjo musical? Uma criação do irmão Sergio Assad, que inventou o estilo somente para Badi: “Pagoblues”. E, para os que torcem o nariz para o “pagodão” e não querem ser chamados de populares, segue agora uma chance de se reabilitar, entrar no esquema e esse curtir esse clima sem precisar subir na laje, nem fazer churrasquinho de gato, mas ficando bem sua foto. Fantástico! Badi para ainda para falar com o site, e em breve a entrevista estará no ar. Outro momento alto da noite – muito aplaudido na Cidade do Jazz! –  é quando, num improviso vocal com sons onomatopeicos, o show deixou toda mundo encantado e com a pergunta na ponta da língua: “Como ela consegue estes sons com tanta harmonia?!”

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Após, a primeira atração internacional da noite revela o chamado funk sound instrumental, composto com elementos do afrobeat, rhythm’n’blues e soul, tudo com uma atitude bem roqueirinha. Formada em Amsterdã e radicada nos últimos anos em Nova Iorque, a banda The Jig é é composta por Joep van Rhijn (trompete), Koen Schouten (sax barítono), Jeroen van Genuchten (sax tenor), Martijn Smit (guitarra), Bas Grijmans (teclados), Arry Niemantverdriet (baixo) e Niels van Groningen (bateria).  Destaque para o som cativante dos metais e o pesado do baixo entoando juntos grooves dançantes. Sim, os meninos contagiam.

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Depois, quem antecede o grande momento da noite é o americano Randy Brecker, cujos os acordes do seu trompete remetem a uma viagem ao passado, marcante no estilo jazz fusion. Ele é irmão mais velho do falecido saxofonista de jazz Michael Brecker (1949-2007). Juntos, eles lideraram as bandas Dreams e também a The Brecker Brothers, uma popular banda funk & fusion que gravou vários álbuns das décadas de 1970 a 1990. Só para ter uma ideia, seu irmão foi um saxofonista de jazz da era pós-Coltrane, ganhou onze Grammys como músico e compositor e, postumamente, ainda recebeu o prêmio mais quatro vezes, totalizando quinze Grammy Awards. Feito e tanto, na vida e na morte. O som dos metais de Randy Brecker é familiar ao público pela participação marcante em discos de medalhões como Frank Sinatra, Dire Straits e Bruce Springsteen, entre tantos outros, além do sucesso com o seu grupo Dreams. No palco, ele deixa claro porque é considerado uma influência fundamental na história do jazz contemporâneo.

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Chegando ao fim do primeiro dia no horário previsto (dando até para para fazer aquele biquinho de “passou rápido”), o guitarrista nova-iorquino Popa Chubby, aguardadíssimo, mostra porque a linhagem de Jimi Hendrix corre em suas veias. Brutal! Francamente, uma grande atração de abalar as estruturas, mesmo para a vertente mais calminha do festival, aquela do povo sentado em cadeira. Sua performance é coisa para os “finos” tirarem o pé do chão com o blues rock e sacudirem sem parar. Com seu lenço na cabeça, sentado por conta de uma lesão em uma das pernas, Popa não mensura energia para levar a Cidade do Jazz ao delírio. Figura imponente e que, sem duvida, vale a pena conhecer de perto. Não é à toa que é conhecido  lá nos States como o Rei do Blues de Nova York. Aliás, seu nome artístico surgiu de uma musica que Bernie Worrell, do Parliament/Funkadelic, cantava durante uma jam session. A música se chamava “Popa Chubby” e, após sinal verde de Bernie de que aquela música era para ele, o cara adotou o nome que significa “ficar animado”. O músico de quase dois metros de altura desfila solos incendiários em versões autênticas de clássicos como “Hey Joe”, do próprio Jimi, tocada em uma pegada impressionante, “Over The Rainbown”, eternizada no filme “O Mágico de Oz”, e “Hallelujah”, de Leonard Cohen, marcada por muita emoção. Nem é preciso dizer que a plateia entra em catarse. Expectativas superadas por ele, que foi uma das atrações mais esperadas deste fim de semana. Não falta harmonia e entendimento com o público: “Não importa se você fala inglês, francês, português. Se não nos entendemos, o que nos une é a música que fala aos nossos corações e essa todo mundo, entende?”, filosofa Chubby. “Ohhh!”, rebate o público. Destaque também para o solo de bateria que, cronometrado, passa chega aos dois minutos. A festa continua neste sábado e domingo.

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*Carioca da gema e produtor de eventos, Bruno Muratori é uma espécie de fênix pronta a se reinventar dia após dia. No meio da década passada, cansou da vida de ator e migrou para a Europa, onde foi estudar jornalismo. Tendo a França como ponto de partida, acabou parando na terra do fado, onde se deslumbrou com a incrível luz de Lisboa e com o paladar dos famosos pasteis de Belém, um vício. Agora, de volta ao Rio, faz a exata ponte entre o pastel de Belém e a manjubinha