Regueiros do Onze:20 não fazem apologia no som, mas decretam sobre maconha: “não pode ser cabeça fechada enquanto tem vidas sendo salvas”


Antes de show na Ilha de Vitória, o grupo bate papo exclusivo com HT sobre o novo álbum “Vida Loka” e comentam sobre o repertório cheio de amor: “não caberia muito para o clima das músicas a gente fazer letras xingando os outros e reclamando da vida”

*Com Lucas Rezende

Bob Marley, Cone Crew Diretoria, Gabriel O Pensador, Planet Hemp. Poucos mas já suficientes nomes da cena do reggae e do rap nacional que, vez ou outra em suas canções, já defenderam a maconha, sua legalização ou uso. Desse movimento – mas não só -, nasceu uma ideia de que esse é o som da erva. Mas não é por aí que se caminha. Tem uma turma que leva o ritmo em sua rota de origem: a que prega união, amor e respeito. Os caras do Onze:20 são um bom exemplo.

Antes de se apresentarem na Ilha de Vitória nesse feriado, os mineiros de Juiz de Fora, que são um sucesso nas redes sociais, com vídeos que batem a casa dos 20 milhões de visualizações e mais de um milhão de fãs nas redes sociais, bateram um papo exclusivo com HT. Falaram sobre a mudança para São Paulo, a importância de se ter uma música em novela e da diferença do som deles que agora, com novo disco, tem até rock. Eles preferem não cantar sobre a maconha porque deixam “para quem entende falar disso” e unem vários ritmos em suas canções pois “vêm de escolas musicais muito diferentes”.

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O grupo está em seu terceiro disco (Foto: Reprodução do Facebook)

HT: Vocês são a prova que, para de falar de reggae, não necessariamente precisa-se fazer apologia à maconha, como uma lacuna do gênero vem fazendo por aí, né?

Essa é uma questão que gera polêmica e que acaba sendo colocada de forma generalizada. O reggae, desde seu início zela por amor, respeito e união. O nosso reggae vem com uma pitada de tudo isso, mas às vezes com o diferencial da “abrasileirada” que a gente acaba dando nas músicas. O consumo da canabis [nome científico para maconha] existe em várias lacunas da sociedade, inclusive sendo utilizada nas questões da ciência e saúde. Nós deixamos para quem entende falar disso. Mas é sempre bom colocar assuntos na roda para serem debatidos. O que não pode é ser cabeça fechada enquanto tem vidas sendo salvas por esses estudos.

HT: Vocês saíram de Juiz de Fora e começaram a ganhar São Paulo. Como é o reggae na cidade de origem de vocês e quais as principais diferenças musicais que sentiram ao chegar à Terra da Garoa?

Não foi nada fácil, mas valeu muito a pena. Juiz de Fora é uma terra com muitas bandas boas, tem uma cena musical muito forte. A parte ruim da cena de é que parece não virar por falta de apoio. Muitas bandas acabam se desfazendo com o tempo, e são bandas boas. Como queríamos expandir nosso trabalho, fomos atrás de novos ares e horizontes.

HT: Quais as maiores dificuldades de se viver do reggae no país?

Acho que não é o reggae em si, mas viver de música é muito mais difícil do que se parece. Quando você passa a viver de música  acaba participando do mercado musical de uma certa maneira. E com o mercado louco do jeito que está tem que tirar muito o chapéu pra todos que hoje vivem disso.

 HT: Vocês já tiveram música em novela, o que, querendo ou não, dá um boom. Hoje em dia, é necessário se render à massa, aos grandes veículos, para não morrer na praia?

Achamos que não. Essa é mais uma ferramenta de divulgação. Ajuda? Sim! Mas muitas bandas tocam na novela e depois somem. O importante é o que você vem fazendo a cada dia, como trata seu público, como trata seu trabalho, não se deslumbrar. Tudo é relativo: existem bandas que lotam casas por todo o Brasil e só divulgam seu trabalho na internet. Tudo depende de que caminho você quer dar para o seu trabalho e como vai lidar com isso. Ter uma música na novela foi demais para a gente. Esperamos ter novamente.

HT: “Pra Você” e “Meu Lugar”, duas de suas principais canções, assim como outras, trazem uma pegada muito romântica. Por que seguir por esse caminho de composição?

É algo que vem naturalmente. O reggae tem sua essência no amor, na união, acho que não caberia muito para o clima dessas músicas a gente fazer letras xingando os outros e reclamando da vida. Queremos é viver e levar o bem. Sai naturalmente.

HT: É apenas impressão ou o novo álbum “Vida Loka”, tem, além de todos outros trabalhos, mais ainda a pegada rock no meio do reggae de vocês? Logo de cara, a primeira faixa, dá essa ideia…

A gente vem de escolas musicais muito diferentes, né? Gostamos e já tocamos de tudo anteriormente ao Onze:20. Esse histórico que a gente trás dá esse diferencial no nosso reggae. Mesclamos sem medo. Tem mais rock, tem mais Brasil, tem elementos que a gente não tinha usado antes. Arriscamos até um pagode no meio (ri). Temos a mente muito aberta quanto a isso e queremos sempre deixar essa marca nas nossas canções.

Serviço

Festa “Desafio do reggae”

Data: 02/05

Local: Sede social do clube Álvares Cabral, na Ilha de Vitória

Atrações: Onze:20, Herança Negra, Gravidade Zion e Salvaê