“Meus Quintais” do arco da velha índia Bethânia antecipa celebração dos 50 anos de carreira!


Com direito a caboclos e onças, lançamento do novo álbum da artista é um olhar – sob outras lentes – das raízes e dos índios tão presentes em sua trajetória

É praticamente um quintal onde tudo habita o horizonte de referências, da brasilidade, dos índios donos da terra, e também, das raízes, da infância, de aromas saudosos e liberdade. Índios e caboclos, os tais velhos “brasileirinhos”, continuam neste novo álbum de Maria Bethânia, “Meus Quintais”, que chega às lojas agora no início de junho pela gravadora Biscoito Fino, mas, dessa vez, com uma leve sofisticação a mais emoldurando o início do disco, com “Alguma Voz”, e no fim, com “Dindi”.

Toda a essência da cantora parece estar definitivamente ilustrada em um único álbum: brasileiro, interiorano, sofisticado, terno e povoado por caboclos. Aliás, como tudo que parece ser na vida da musicista movida à intuição de artista, cheia de sensibilidade e religiosidade, este é um resultado redondo, nas vésperas dos seus 50 anos de carreira. Assim, vai dar tempo de o Brasil respirar e contemplar sua própria natureza, em ano da copa-hastag-não-vai-ter-copa, antes de saudar e agradecer a cantora, no auge do seu meio século de vida artística.

Em coletiva à imprensa via internet, ela explica e corrobora nossas impressões: “Eu não pensava em fazer nada por agora, e sim no ano que vem, ao completar os 50 anos de vida artística, mas senti uma vontade de cantar o caboclo, o dono da terra, o índio. Aquilo insistia em se antecipar, aí eu intuí que era para ir logo e tudo começou com Chico Cesar (velho parceiro) entrando e fazendo um dos poemas mais bonitos que eu já recebi, que foi “Arco da Velha Índia”, conta Bethânia. De fato, Chico Cesar é genial ao chama-la de “velha índia”. Ela acata e até se encanta com o apelido e ainda diz que, para ela, a sabedoria da “velha índia” está em Rita Lee. “Foi um modo de ele me ver. Estou velha, de cabelo branco… Fiquei fascinada por aquilo. Ele dedicou a mim, mas eu disse que queria dedicar a Rita Lee, porque acho que ela tem a sabedoria da velha índia. Ah, eacho lindo ela ter o cabelo vermelho”, diz.

Bethânia se auto titula mesmo uma felina, e das bravas! Ao ser questionada sobre o porquê de tantos álbuns, se sofreria alguma pressão de gravadora para gravar, ela retruca: “É ruim hein, eu sou uma onça, ninguém obriga uma onça a nada”. Esse mesmo animal está descrito em “Moda da onça”, que figura na ruralista trilha sonora de “Meus quintais” ao lado da chegada no sertanejo, “Lua bonita”.  Provando seu caráter interiorano em todos os sentidos do álbum, por Bethânia olhar para dentro de si e para a imensidão do Brasil, esta canção parece elucidar a saudade que ela sente de sua mãe, Dona Canô, assim como a regravação de “Mãe Maria”, música que já ganhara a voz de Bethânia no álbum “Pássaro proibido (1976). Mas, segundo ela, a “mãe Maria” é ela própria. O que retifica e insiste que “Meus Quintais” é um encontro de todos os personagens emblemáticos de Bethânia, incluindo suas próprias personas.

O quintal também é “o início de tudo, a infância”, as lembranças da criança que habita nela, a onça, a mãe, o agasalho e, é claro, o índio. Este índio que tanto encanta a cabocla Bethânia. “O índio me inspira em tudo, o corpo nú, o pouco pelo, o bicho do mato, o jeito de onça, o fato de não gostar de conversas, de saber se esconder”, elucida, mostrando sua principal persona. A velha índia Bethânia continua desbravando o Brasil e seus caboclos, no seu canto sensível e mordaz na medida, com a generosidade de expor a síntese dela própria em álbum histórico, além da sutileza de se deixar suavizar pelo piano primoroso de Wagner Tiso e André Mehmari. Que seja bem-vindo o novo álbum!

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