Prestes a lançar seu segundo livro, o músico, escritor e poeta Danislau bate um papo com HT e compara rock com sertanejo


“Hotel Rodoviária” é a primeira investida de Danilo Teixeira na prosa e chega ao Rio de Janeiro no dia 17 de dezembro, com lançamento na Audio Rebel, em Botafogo

*Por Júnior de Paula

Danislau – ou Danilo Teixeira, para quem o conhece fora dos holofotes – é um daqueles artistas difíceis de serem definidos já que, além de poeta, é vocalista da banda de rock Porcas Borboletas e especialista em pesquisa literária. No próximo dia 22, por exemplo, ele lança seu segundo livro, “Hotel Rodoviária”, que segue a direção oposta de sua estreia na literatura, o livro de poesias “Herói Hesitante”. Em “Hotel Rodoviária”, o autor se apropria de uma temática mais rock’n’roll, com um texto em prosa que usa muito a sonoridade da palavra. O personagem principal, Jim da Silva, inspirado no Jim Morrison do The Doors, é o grande narrador. Antes do lançamento, que rola na Balada Literária com direito a show de sua banda, HT conseguiu bater um papinho com Danislau para entender um pouco daquilo que vem por aí. Ah, e anote na agenda: dia 17 de dezembro o lançamento é no Rio, no Audio Rebel, com direito a show de Botika e da banda Do Amor.

Danislau (Foto: Divulgação)

Danislau (Foto: Divulgação)

HT: Quando o herói Danislau hesita?

D: Acordar já é a primeira hesitação do dia. Encarar o mundo ou continuar escondido embaixo do travesseiro? Tomar banho ou ir mendigão para a rua? Tomar café ou emendar o almoço? Cada segundo é uma nova esquina e é preciso decidir a cada momento. Existe uma música do Lou Reed em que uma personagem diz algo como: “odeio as grandes decisões”. Eu mesmo ainda não decidi se gosto ou não gosto delas. Aliás, decidi: gosto.

 HT:  Como é esse hotel e essa rodoviária do livro novo?

D: Esse hotel tem muito de rodoviária. E essa rodoviária, muito de hotel. Na verdade, todo hotel tem um quê de rodoviária, e toda rodoviária guarda seu tanto de hotel. São espaços privilegiados da emoção, do sexo, da violência e do adeus. Pegar um ônibus, ou dar entrada em um hotel, será sempre uma experiência radical. Pelo menos para quem tem o desejo de procurar encrenca por aí. (Encrenca: informação maluca, acidente de linguagem, aventuras estéticas, rock’n’roll)

 HT: Como foi a transição da poesia para a prosa?

D: Eu sempre trabalhei mais com a poesia. Tenho uma dificuldade danada (na vida e na literatura) em excluir. Para escrever prosa – pelo menos uma prosa pop, que é a que tem me interessado -, enquanto processo, é preciso excluir o tempo inteiro. É preciso sacrificar o todo, as infinitas possibilidades, e escolher só uma delas: o personagem vai subir a rua ou vai tomar um banho de cachoeira? Pela poesia, posso excluir menos. Deixar as coisas no ar, sem explicação. Enfim, posso deixar aflorar esse encosto quântico que tem me perseguido desde a primeira vez que fui para São Tomé das Letras.  Pelo sim e pelo não, um belo dia, quis tentar o barato da narrativa. Escrevi umas cem crônicas para o jornal de Uberlândia. E acabei escrevendo, ao longo dos últimos seis anos, esse “Hotel Rodoviária”.

HT: A Pitty falou esses dias que quando o sertanejo cresce, o rock some do mapa no país. Como é fazer rock num país cada dia mais sertanejo?

D: Nossa banda, o Porcas Borboletas, se formou em Uberlândia, Minas Gerais. Lá, a cultura sertaneja está em todo lugar. Passa um carro na sua frente, “vá para o inferno com seu amor”. Passa outro “ah, se deus me ouvisse e mandasse para mim”. Fomos curtidos nessa informação: festas agropecuárias, o pocotó-pocotó dos cavalos nas ruas. Para nós, o sertanejo sempre foi estimulante. Há um modo de vida, uma poesia por trás do sertanejo, que é psicodélico. E, o que é melhor: se identifica totalmente com o rock! A música sertaneja tem um fundo roqueiro. Então para nós, fazer rock passa inevitavelmente pela experiência com o sertanejo. Obviamente, temos preferências. Amamos os antigões, as modas de viola, os pontos de terreiro. Admiramos profundamente o Chitãozinho & Xororó, João Mineiro & Marciano, e não temos dificuldade alguma em perceber uma poesia em Leandro & Leonardo e Zezé di Camargo & Luciano. A Pitty, quando se refere ao sertanejo, está se referindo a um outro pessoal. Ela se refere a essa gangue de oportunistas que se apropriam da chancela do sertanejo para lucrar milhões vendendo groselha musical.

HT: Qual a diferença entre o Danilo poeta, prosista e músico? Consegue traçar uma linha que une os três?

D: Esses aí são farinha do mesmo saco. Cantinho do meu ser que fiz questão de apelidar de: CURVA DE RIO. (Curva de rio: trecho do rio onde se ajuntam todos os galhos, folhas, santinhos de campanha política, embalagens de bolacha Bono, garrafas pet e etc e tal).

* Junior de Paula é jornalista, trabalhou com alguns dos maiores nomes do jornalismo de moda e cultura do Brasil, como Joyce Pascowitch e Erika Palomino, e foi editor da coluna de Heloisa Tolipan, no Jornal do Brasil. Apaixonado por viagens, é dono do site Viajante Aleatório, e, mais recentemente, vem se dedicando à dramaturgia teatral e à literatura