‘Plataformas de música exigem que se produza conteúdo toda hora. A música fica velha a qualquer momento’, diz Illy


Revisitando as músicas do seu disco de estreia e colecionando importantes parcerias, a cantora vem crescendo no cenário musical brasileiro e conquistando críticos e fãs por onde passa. Ela acrescenta sobre as exigências da era dos streamings: “Os remixes e as novas versões das minhas canções me ajudaram. Porém, consigo enxergar um ponto positivo. Acho que isso nos impulsiona a continuar buscando novas referências. É interessante e funciona como uma motivação”

*Por Iron Ferreira

Quando se mudou para o Rio de Janeiro, há quatro anos, com a intenção de investir fortemente na sua carreira musical, a baiana Illy não imaginava que o reconhecimento viria em tão pouco tempo. Aos 31 anos, ela já cantou ao lado de Caetano Veloso, Mart’nália,Teresa Cristina, Roberta Sá e emplacou a música “Só Eu e Você” na novela “Sol Nascente”, da Globo, tema da personagem de Cláudia Ohana. Considerada a grande aposta da MPB, a artista revelou que se diverte ao cantar sua trajetória e passear pelos diversos gêneros musicais: “Eu quero mostrar a verdade. A minha arte traduz vida e os momentos que eu vivi. Eu já fui cantora de barzinho, trio elétrico, de teatro, de parquinho e de trilha sonora. O que me marca é a versatilidade, canto fervo, marchinha, forró e balada romântica. É uma mistura de ritmos que vai do jazz ao pop”.

A baiana é uma grande aposta da MPB contemporânea (Foto: Daryan Dornelles)

Para sustentar essa grande “mistura”, é necessário uma boa bagagem. Claramente influenciada por ícones nacionais, e alguns estrangeiros de excelente qualidade, ela reforçou que o Brasil é repleto de ótimas referências e que devemos ficar atentos aos prodígios em ascensão. “Sou apaixonada por Gal Costa, Maria Bethânia, Elis Regina, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Djavan e João Gilberto. Mas também tenho escutado muita música pop, como Amy Winehouse e Kali Uchis. Os Beatles também fazem parte da minha vida. Acho que estamos vivendo uma transição musical e tem muitos nomes novos que chamaram a minha atenção, como Larissa Luz e Josyara”.

Lançado em abril de 2018, com composições de Chico Veloso, Arnaldo Antunes, Jonas Sá, Djavan, Luciano Salvador Bahia e Pretinho da Serrinha, e produção de Moreno Veloso, o disco “Voo Longe” fez barulho no cenário musical, sendo bem recebido por público e crítica. Illy comentou ainda sobre o feedback positivo que o seu trabalho vem recebendo e de como o carinho dos fãs a inspira a produzir cada vez mais: “O disco teve uma recepção muito boa. Ele foi muito bem aceito por parte do público e da crítica. Consigo perceber isso nas apresentações. No meu último show em São Paulo, por exemplo, o público sabia todas as músicas. Foi uma surpresa ver o teatro lotado e as pessoas cantando junto comigo. É muito gostoso receber essa energia positiva, me motiva a continuar”.

Embora a maioria dos seus ídolos tenha atingido o estrelato em décadas passadas, ela confessa que vem tentando se adaptar às exigências da era dos streamings. Com a popularização da internet e a consequente democratização dos meios de acesso aos conteúdos, os artistas se viram obrigados a criar de maneira mais constante. “Eu preciso me adaptar aos novos tempos, isso está sendo novo para todo mundo. As plataformas de música exigem que a gente produza conteúdo toda hora. A música acaba ficando velha a qualquer momento. É necessário apender a conduzir isso. Os remixes e as novas versões das minhas canções me ajudaram. Porém, consigo enxergar um ponto positivo. Acho que isso nos impulsiona a continuar buscando novas referências. É interessante e funciona como uma motivação”.

Segundo Illy, a urgência dos tempos atuais pode motivar os artistas a produzirem mais (Foto: Daryan Dornelles)

Foi a partir dessa urgência, amplificada nos últimos anos, que ela decidiu lançar uma versão repaginada de “Devagarinho”, presente no seu álbum. Intitulada “Devagarinho 2.0”, a canção reúne dois grandes amigos e exemplos musicais da cantora. Arnaldo Antunes, o compositor original, e Baco Exu do Blues, que chamou o grupo DKVPZ para a produção, incrementaram a faixa com um toque mais urbano, trazendo marcas que vão do rap ao pop. “Eu tenho feito remix das músicas do meu disco. Já fiz isso com ‘Só Eu e Você’, quando convidei a Duda Beat para participar. Eu curto essa ideia de revisitar a obra e dar um novo toque. É gostoso poder experimentar novas versões. Através disso, eu posso ter a oportunidade de trabalhar com artistas da nova cena musical. Foi o Baco que escolheu essa música para fazer a versão 2.0. Ele é um grande amigo meu, frequenta a minha casa e me ensina sobre tudo o que acontece de mais novo na música. Eu me surpreendi com o resultado e com as batidas que foram inseridas no projeto. Tive a ideia de convidar o Arnaldo, que é o compositor da canção, para contribuir com mais alguns versos. Eu já tinha ouvido falar que o Arnaldo admirava o trabalho do Baco e juntar os dois em uma música foi maravilhoso”.

Ainda seguindo essa linha de colaborações, Illy declarou que uma das suas preferidas foi ao lado do cantor Silva, com quem gravou “Nós Dois Aqui”, lançada em fevereiro desse ano. A parceria foi especial pois conseguiu traduzir, de acordo com a cantora, a amizade e o carinho que os dois sentem um pelo outro. “Ele fez essa música pra mim. Por acaso, estávamos na casa de um amigo em comum e começou a tocar uma canção minha na rádio. Ele ficou encantado, mas não sabia que era de minha autoria. Quando ele descobriu que era eu quem estava cantando, ele se apaixonou. Ele acabou compondo essa faixa pensando em mim, com base na nossa história de vida e na nossa amizade. Gosto muito dele e tenho planos de mais colaborações para o futuro. Combinamos muito musicalmente”.

Além de singles avulsos, a baiana confirmou que vem trabalhando em um novo material para compor o seu próximo CD. O sucessor de “Voo Longe” ainda não tem data de estreia confirmada, mas já começa a mostrar traços da sua possível personalidade musical. A cantora também falou sobre a insegurança de cantar suas próprias composições: “Já estou fazendo a seleção de músicas para o próximo álbum. Me considero uma cantora intérprete. Embora eu escreva algumas coisas, ainda não senti segurança para gravar algo de minha autoria. É possível que no próximo álbum eu insira. Ele será mais autoral do que o primeiro. Venho pedindo músicas para os compositores que admiro. Pedi para Josyara, Larissa Luz e Adriana Calcanhotto. O disco ainda está começando a formar sua identidade sonora e estética. Devo entrar em estúdio o quanto antes para começar a gravar”.