Ney Matogrosso, meu, seu e de todos: em passagem pelo Rio, o cantor seduz um público de várias gerações!


Com turnê neste final de semana no Vivo Rio, ele prova mais uma vez que, em tempo de whatsapp, é um olho no olho que faz a espinha gelar!

* Por Camila de Paula

Tudo impressiona em um show de Ney Matogrosso. Claro, um artista inclassificável de apresentações sempre vibrantes, fruto de personalidade extraordinária e presença magnética. Talvez este seja o motivo de sua plateia igualmente impressionante, de tão heterogênea. Neste fim de semana o artista, que mudou a história da música brasileira ao ingressar nela com os “Secos & Molhados” e imprimindo estética glam na MPB, volta ao Vivo Rio com o espetáculo “Atento aos Sinais”, que depois segue para o Nordeste.

Do início ao fim, o espetáculo foi contagiante e mesmo no final, quando o público poderia dar sinais de cansaço, Ney soube mexer com os brios dos presentes, instigando todos com sua atitude ímpar. Por exemplo: ao animar a casa com a última música do show, “Ex-amor”, convidando todos a se levantar e sambar, surge uma senhorinha lá do fundo, que viu a oportunidade e correu  para a frente do palco, bem ao lado de seu ídolo, quase o agarrando. Sim, Ney é assim sempre, arranca suspiros, histeria, sorrisos e gritos o tempo todo. “Gostoso”, “lindo” e “tesão” são alguns dos adjetivos ouvidos com freqüência em seus shows. E olha que não faltam jovens descolados e celebridades a entrar nessa vibe difícil de classificar, já que se trata mesmo de uma plateia heterogênea.

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Fotos: Ricardo Gama/Divulgação

A enfermeira  Karina Mandrigo veio do interior de São Paulo para ver seu ídolo. Toda bonitinha, parece uma daquelas boas moças que namora rapazes comportados, de terno e gravata e estilo advogado ou representante comercial. Enternecida, ela conferia a exótica performance de Ney toda derretida. “Nossa, como ele é sedutorrrr (com erre de interiorrrr)! Ninguém consegue isso que ele faz”, afirmou enfática.

Já outro presente, o professor de Desenho Industrial da UFRJ Vinícius Ribeiro, acredita que seja possível seduzir no estilo de Ney Matogrosso nestes tempos marcados pela impessoalidade e pelas relações virtuais. Ele alega que acredita que tudo é somente uma questão de entrega. Mas de verdadeira entrega. “A doação, aquela que consiste em dar atenção ao outro, está difícil de rolar hoje em dia. Mas pode acontecer sim! Claro que isso que vimos esta noite aqui é uma questão de catarse, tem certo exagero. Mas nos serve de inspiração”, ilustrou o professor ao lado de suas amigas do doutorado, que levaram purpurina para jogar no ídolo durante o show, mas em estado de êxtase, até se esqueceram da peripécia e acabaram jogando em si mesmas depois que o cantor deixou o palco.

Para o ator Luis Fernando Guimarães, uma das celebridades misturadas ao grande público, como Cininha de Paula e o cantor Pedro Luís, ao ser questionado sobre as razões que levam o astro a seduzir a plateia ao longo desta quatro décadas, preferiu nem arriscar: “Não consigo responder isso. Difícil, sabia!?!”

O Show “Atento aos Sinais”, que começou no início de 2013, tem composições de artistas que vão de Criolo a Paulinho da Viola, passando por Lobão e Dani Black. No palco, se vê um Ney em uma medida impressionante. Embora ele esteja suave, menos desafiador, também se apresenta imponente, quase pisando pesado. Sem dúvida, cantando o despertar do gigante. E, embora a seleção de músicas tenha sido feita há mais de quatro anos, ele parece cantar para este momento político do Brasil atual. Em “Incêndio” (do seu parceiro Pedro Luís), por exemplo, é possível se arrepiar e relembrar as manifestações de junho passado. Ney está mesmo sempre atento aos sinais. Um visionário, sem dúvida.

Intenso, sedutor e performático como sempre, na música composta por Criolo, “Freguês da meia-noite”, leva seus fãs ao delírio, em um cabaré deslumbrante que se instala, no qual só Ney sabe comandar. Sim, ele transita nesse cabaré musical como se fosse uma fulgurante cafetina, daquela com leque na mão e muita pompa, mas com certo ar de deboche, como se soubesse quem é cada uma das pessoas presentes no recinto. Nada lhe foge ao olhar, lascivo e temperado com ironia. E, de uma música densa, é capaz de metaforsear e migrar, em seguida, para outra, mais alegrinha, como “Isso não vai ficar assim”, de Itamar Assumpção, em atmosfera quase infantil, circense, com aquele ar de pirlimpimpim; De repente, o músico se deita na escada defronte ao palco e, daquele jeito, canta “Por isso beije-me/Como se fosse esta noite a última vez”. Pronto, mais uma senha para a histeria coletiva, mais do que merecida. Sim, com ele é assim.