Matheus VK se apresenta no Teatro Rival e traz sensualidade e diversidade sexual no clipe de “Pélvis”: “A arte tem a função de fazer pensar e refletir”


No clipe dirigido por Joana Jabace, Matheus aparece coberto de purpurina, convidando uma série de casais de diversos gêneros: “Como hoje a gente vive essa explosão de todas as formas de amor, com todos os gêneros sendo vistos, achei importante homenageá-los”

Para deixar a tristeza fora do salão! Não é de hoje que Matheus VK vem chamando a atenção. Além da diversidade rítmica presente em sua discografia, o cantor também conquista por suas letras inteligentes, sensíveis e cheias de sensualidade e duplos sentidos. Características que se afloram no single da música “Pelvis”, lançada no início do mês de novembro e que já colocou todo mundo para dançar para lá e para cá, como propões o artista. A irreverente canção faz parte da trilogia do que VK chamou de o “Triângulo do Quadril”, formada ainda pelas músicas “Movimento Rebolático” e “La Malemolência”, que teve clipe aeróbico com os atores Luis Lobianco, Leandra Leal, Bruno Mazzeo e Bianca Comparato.

Matheus VK (Foto: Jorge Bispo)

Matheus VK (Foto: Jorge Bispo)

Pois bem, em entrevista exclusiva para o HT, Matheus, que é formado há sete anos em psicologia e integra o time de vocalistas do bloco carnavalesco carioca Fogo & Paixão, explicou um pouco melhor sobre onde pretende chegar com o novo trabalho. “Tudo começou lá atras, quando eu era psicólogo e trabalhava como terapeuta corporal. Eu percebia que os adolescentes tinham muitos preconceitos e dúvidas sobre a região da pélvis – o que causava muita repressão. A partir daí decidi explorar essa libertação através da dança, porque quando você está em contato com o seu próprio desejo a energia vital flui com muito mais prazer”, revelou ele.

No clipe dirigido por Joana Jabace, Matheus aparece coberto de purpurina, convidando uma série de casais de diversos gêneros, raças, tipos físicos e até um trio que abre a possibilidade de questionamentos para o poliamor, temas tão atuais e debatidos em nossa sociedade. “Como hoje a gente vive essa explosão de todas as formas de amor, com todos os gêneros sendo vistos e, de certa forma, aceitos, achei importante homenageá-los. Essas pessoas precisam ser vistas como heróis e heroínas da nossa civilização, porque mesmo diante de tanta repressão elas conseguem colocar seus desejos para fora. Quando sugiro que quero ver geral mexer a pélvis é uma proposta de seja você mesmo. Toda forma de amor é muito mais poderosa e contagiante do que toda forma de repressão”, avaliou ele, ressaltando que não levanta uma bandeira sobre gêneros, mas, sim, uma bandeira pela liberdade de expressão. “Quando minha antena captou esse tema, não foi por um simples manifestação pontual. Eu nem sabia que o nosso prefeito seria ligado à Igreja Universal, que prega o conservadorismo. A ideia era fazer algo bonito que expressasse um desejo maior”, avaliou ele, que também acaba de divulgar a música “Movimento Rebolático” no Spotify.

Cantor acaba de lançar o clipe de "Pelves" (Foto: Jorge Bispo)

Cantor acaba de lançar o clipe de “Pelves” (Foto: Jorge Bispo)

Com show marcado neste sábado (5), no Teatro Rival, VK é famoso por agitar multidões à frente do bloco Fogo & Paixão, no Centro do Rio. Misturando o batuque carnavalesco com clássicos da música brega, o cantor garantiu que a experiência que absorveu na folia carioca foi fundamental para a construção de seu portfólio musical. “Nosso bloco carrega a essência do carnaval, sem carregar o repertorio típico da festa, o que dá oportunidade da gente cantar o ano inteiro. A música brega é muito interessante, porque ela é como se fosse a fantasia do carnaval: todo mundo gosta, mas só assume quando está fantasiado. Tudo mundo é hit lá. De fato, o Fogo & Paixão me ajudou muito a compor o trabalho que passei a fazer”, avaliou ele, que no videoclipe de “Pélvis”, roubou adereços do carnaval e aparece coberto de purpurina. “Eu vivo oficialmente do carnaval e a purpurina é a minha vestimenta. É no carnaval que as pessoas são aquilo o que são. Diariamente elas se escondem atrás de personagens. No clipe, a purpurina representa a minha verdade”, ressaltou.

Psicólogo formado, Matheus VK largou o consultório em que atuava para comandar a libertação dos movimentos dos quadris em seus animados e purpurinados shows. No entanto, mesmo longe da diplomada profissão, ele garantiu que usa seus conhecimentos acadêmicos para ilustrar seu trabalho artístico. “Quando eu fico buscando o conceito de saúde no meu show, eu acho que vem muito do meu lado psicólogo. Eu gosto de gerar uma atmosfera de liberdade nos espetáculos, e quando você gera essa possibilidade das pessoas dançarem livremente, eu acho que isso gera saúde. O meu olhar é buscar um ambiente para que a pessoa se sinta à vontade para se expressar. Que é o mesmo que eu fazia no consultório. No show é como se todos estivessem em uma mesma missão. É divertido, tem amigos que dizem que sou o missionário da pelves”, disse, aos risos.

Ícone de um novo hétero, doce, sensível, que usa maquiagem e convida o público a rebolar, ele garantiu que não existe mais espaço para o machismo no mundo de hoje. Para VK, que é casado com a diretora de televisão Daniela Gleiser, as características femininas precisam ser mais enaltecidas. “O machismo não faz mais sentido nos dias de hoje. A função da mulher é muito valiosa. A gente aprende desde a infância a ter compaixão, diálogo, cuidado, sensibilidade… características provenientes do mundo da mulher. Mas a gente infelizmente desaprende no decorrer da vida”, disse ele, completando. “A Dani é uma mulher fortíssima. Se eu fosse esse homem das cavernas, jamais teríamos uma relação”, avaliou ele.

Matheus VK (Foto: Jorge Bispo)

Matheus VK (Foto: Jorge Bispo)

Apesar de estar antenado com a crise política e econômica que afeta o país, e, principalmente, a nossa cultura, o cantor ressaltou as questões da crise social que enfrentamos. “A crise financeira me aflige muito menos do que a crise moral e da intolerância. Ela fala de um lugar do afeto. Uma cidade que respira arte, com o Rio de Janeiro, eu tenho sentido falta de compaixão e de interesse das pessoas pela novidade. Temos que observar ainda que a arte não é só entretenimento. Ela também tem a função de fazer pensar e refletir sobre a nossa própria existência”, ponderou ele.