Marcelo Quintanillha lança álbum em homenagem a Cazuza com ritmo de Bossa Nova, valsa e gospel


O músico selecionou os 11 melhores temas do ídolo e ainda compôs o que seria a primeira canção feita especialmente em memória do falecido. Além de trazer uma nova roupagem para os singles, ele acrescentou traços contemporâneos como uma sonoridade eletrônica

No dia 4 de abril de 2018, um dos maiores ídolos do rock nacional completaria 60 anos, mas ele teve a sua vida interrompida em 1990. Mesmo 28 anos depois de seu falecimento, Cazuza ainda é reverenciado por uma legião de fãs de todas as idades, até mesmo a juventude que nasceu depois de sua morte. Pensando em presentear esta lenda, o cantor e compositor Marcelo Quintanillha lançou em janeiro o álbum CAJU. O título é uma referência ao apelido carinhoso pelo qual era chamado nas rodas dos amigos. O CD apresenta uma roupagem completamente diferente das originais e as melodias também são variadas dentro do próprio disco. Codinome Beija-flor, por exemplo, ganhou uma melodia valsada e Blues da Piedade recebeu uma versão à capela, em um coro gospel, como se fosse uma oração pela memória do rapaz. O músico se sentiu à vontade para passear por vários estilos musicais diferentes. “Para fazer algo parecido, eu não preferiria não fazer, porque ele já imortalizou as canções. Sendo assim, as melodias são diferentes das originais e mais suaves, mas valorizando o lado poético. Além disso, me permiti ousar, porque Cazuza virou uma personalidade de banda de rock por acaso. O próprio falou uma vez que poderia ter sido um sambista ou um cantor de reggae, ele reproduziu uma música do Cartola, inclusive. Acho que arriscar faz parte”, contou.

Além de trazer novas melodias paras as canções, Quintanilha quis atualizar a sonoridade, empregando ritmos atuais. “Queria trazer uma obra atemporal para a contemporaneidade. Tivemos um cuidado muito grande de deixar as músicas acústicas. Colocamos, com moderação, elementos plásticos, eletrônicos e sintéticos que são utilizados atualmente. Misturamos timbres para trazer a obra dele para a linguagem atual e tenho certeza que conseguimos”, informou.

A ideia para atualizar as músicas surgiu a partir de uma admiração pessoal que o músico tem por um dos maiores nomes do rock nacional. Encontrar a trilha sonora de Cazuza ajudou Quintanilha a desbravar outro lado dentro da sua própria carreira. “Desde criança, tive muito contato com artista da velha guarda, pelos meus pais serem músicos. Logo, quando comecei a compor, minhas letras eram inspiradas em uma escola clássica da musica brasileira, como Chico Buarque e Caetano. Quando completei 20 e poucos anos, passei a ouvir Cazuza e achava impressionante como ele conseguia ter uma linguagem diferente, única e própria. Como dizia Gil, Cazuza falava outra língua, mas todo mundo entendia. Além disso, mais do que compositor, ele era um cantor interessante, porque gritava e falava no meio dos temas. Isto me chamou a atenção, ele teve um papel muito importante”, comentou.

Para poder fazer este disco, Marcelo Quintanillha precisou da liberação dos direitos autorais das letras. Desde o início, a Sociedade Viva Cazuza aceitou a ideia e, segundo ele, aprovou o resultado. “Há algumas semanas, a Lucinha me recebeu na casa dela de braços abertos e disse que gostou bastante”, comemorou. Este não foi o único feedback positivo. De acordo com o músico, os internautas aprovaram a ideia e compreenderam a homenagem. “Foi uma responsabilidade muito grande, mas estou feliz de ter feito. Pesquisei muito antes de começar qualquer projeto, quis ter algum tipo de embasamento e propriedade para fazer isto. Depois disso, meti a cara e comecei a fazer, com muito respeito e carinho”, contou.

Lucinha, mãe de Cazuza em sua casa ao lado de, Marcelo (Foto: Divulgação)

As homenagens não param por ai. O repertório de CAJU conta com onze músicas de Cazuza e uma escrita especialmente por Quintanillha para o ídolo. “Ao longo da minha pesquisa, percebi que ninguém tinha feito uma música em homenagem a ele e resolvi fazer. A última faixa do disco é feita para ele, eu achei que seria justo. Tentei colocar uma linguagem parecida com a de suas letras”, informou.

Cazuza faleceu ainda muito novo o que acabou impregnando em suas canções um eterno ar de jovialidade. A memória que o Brasil possui dele é de um rapaz descolado e de bem com a vida, que aproveitas as melhores coisas do mundo. “Já me perguntaram como eu imaginaria o Cazuza com 60 anos e eu penso no Caetano. Acho que ele seria uma pessoa de paz com a vida. Acho que a música revigora a pessoa, sendo assim, ao meu ver, ele estaria muito bem, bonitão”, brincou. Esta juventude do ídolo representou outro desafio para Quintanilha, que seria manter a jovialidade das composições. “As músicas já têm um vigor tão forte, que eu teria que fazer algo muito errado para perder isto. No entanto, pensando em manter esta ideia, trouxe a minha filha para cantar Brasil comigo. E, além disso, a minha ideia é que ela fosse um porta-voz da nova geração, mostrando que esta galera também está questionando e lutando por um país diferente”, declarou. A filha do músico, Nina Quintanilha participou do disco.

Marcelo Quintanillha lança disco em homenagem a Cazuza (Foto: Divulgação)

Não é segredo para ninguém que as letras de Cazuza possuíam algum caráter contestador. Ele era conhecido por quebrar padrões da sociedade e falar sobre as coisas ruins. Na própria canção Brasil, o ícone pede que as pessoas mostrem a sua cara e afirma que é preciso melhorar. E, mesmo depois de muitos anos, a letra continua condizente a atualidade. “Se Cazuza ainda estivesse vivo, acho que estaria triste e decepcionado por nós estarmos andando para trás. Não tanto pela corrupção, mas pelo discurso retrógrado das pessoas. Cazuza lutava pela liberdade e atualmente vemos este conceito sendo embarreirado por um muro de concreto. Acho que ele quebraria esta parede e lutaria. E isto é o que nós temos que fazer”, lamentou.